SÃO PAULO – Em meio a discussões com o governo sobre medidas de defesa comercial, a indústria siderúrgica divulgou hoje números que mostram queda da participação do setor manufatureiro na economia, forte penetração das importações - sobretudo de produtos chineses - no mercado doméstico e peso crescente das matérias-primas na pauta de exportações brasileira.
Na avaliação do Instituto Aço Brasil (IABr), entidade que abriga as siderúrgicas brasileiras, o cenário indica um processo de desindustrialização no país.
Conforme estudo envolvendo quatro países – Brasil, Argentina, Colômbia e México – coordenado pela Funcex a pedido do Instituto Latino Americano de Ferro e Aço (Ilafa), a participação da indústria manufatureira na economia brasileira, que chegou a ser de 19,2% em 2004, caiu para 15,8% no ano passado.
Concomitantemente, a participação dos manufaturados nas exportações cedeu de 55% para 39% de 2005 para 2010, dando lugar a uma crescente presença de produtos básicos – um movimento chamado de “primarização das exportações brasileiras”.
O balanço mostra ainda que os produtos metalmecânicos – que têm forte conteúdo siderúrgico - respondem por 62,7% das exportações da China ao Brasil. Também revela que as importações totais estão avançando nos mercados de grandes clientes da indústria siderúrgica. No consumo de máquinas e equipamentos, por exemplo, chegaram a 26,4% no ano passado, e nas compras de veículos automotores, a 18,3%.
Como conclusão, o estudo aponta, entre outras medidas, a necessidade de eliminação de assimetrias tributárias, redução nos tributos a investimentos e exportações, além da redução de encargos trabalhistas e dos custos de energia.
A indústria siderúrgica está pedindo ao governo maior celeridade nas medidas de defesa comercial, mas seus representantes negam a discussão de um aumento nas alíquotas de importação de aço, estabelecidas hoje em 12% e 14%.
“Não estamos falando neste momento em protecionismo ou alíquota (de importação). Nossa preocupação é com a cadeia como um todo. Não adianta subir a alíquota num produto e em outro não”, disse André Gerdau Johannpeter, presidente do conselho diretor do IABr, durante a apresentação do estudo à imprensa.
Conforme dados do instituto, a importação indireta de produtos siderúrgicos – ou seja, a entrada de aço contido em mercadorias como carros, máquinas e equipamentos – chegará a 4,68 milhões de toneladas neste ano, superando em 11,35% o volume de 2010.
Somando as importações diretas, estimadas em 3,65 milhões de toneladas, a entrada de aço estrangeiro deve fechar o ano em 8,33 milhões de toneladas.
Para o IABr, os números estão relacionados não apenas à valorização do real, mas também à guerra fiscal entre os Estados, que tem permitido vantagens tributárias aos importadores. Nesse caso, o setor tem apoiado o projeto do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê a uniformização entre os Estados do ICMS aplicado sobre as importações.
Segundo o instituto, a valorização do real combinada à desvalorização do yuan neutralizou efeitos de proteção tarifária e deu ao aço chinês uma vantagem competitiva de 45% em relação ao produto brasileiro. Com os preços no mercado doméstico pressionados e reajustes nas matérias-primas, as margens dos produtores de aço foram prejudicadas.
“O mundo hoje está mais complexo do que antes da crise (de 2008). Não há mais espaço para ingenuidade”, comentou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do IABr, ao defender as medidas de defesa comercial.
(Fonte: Valor Econômico/Eduardo Laguna)
PUBLICIDADE