Rio de Janeiro - As importações de aço continuam preocupando as siderúrgicas instaladas Brasil e motivaram mais uma revisão das estimativas para este ano. De acordo com o Instituto Aço Brasil (IAB), a produção nacional de aço bruto deve ficar em torno de 35,2 milhões de toneladas, 7,1% a mais que no ano passado. Apesar de representar mais um recorde para o setor, o número significa uma redução de mais de 1 milhão de toneladas sobre a estimativa de crescimento feita anteriormente para este ano, de acordo com o presidente executivo do instituto, Marco Polo de Mello Lopes.
Os ajustes também alteraram a projeção de vendas internas, que devem atingir 21,5 milhões de toneladas este ano, 1 milhão de toneladas a menos que a projeção anterior, feita em agosto. Para as exportações, a expectativa é atingir 10,7 milhões de toneladas, 19,4% a mais do que em 2010. Ainda de acordo com o IAB, as importações devem totalizar 3,7 milhões de toneladas, 37,9% a menos que em 2010, mas “significativamente acima dos níveis históricos”, se acordo com Lopes.
“No caso das importações indiretas, a grande concentração está em dois segmentos: o automotivo e o de máquinas e equipamentos. Você tem a Anfavea [Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores]e a Abimaq {Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos] como os principais responsáveis”, explicou o executivo. Segundo ele, juntos, estes dois segmentos representam 80% dos 4,8 milhões de toneladas importadas indiretamente pela indústria.
O presidente do IAB ainda ressaltou que eventos como a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada de 2016 e projetos de estímulo à indústria do petróleo ou da construção civil, como o Programa Minha Casa, Minha Vida, chegaram a gerar expectativas na indústria no aço, mas o setor foi surpreendido com algumas iniciativas que não priorizaram o conteúdo nacional. “Nosso consumo per capita é muito baixo no país. A nossa expectativa é que os programas especiais pudessem trazer o efeito de alavancar um crescimento sustentável. Mas tivemos a surpresa de ver que parte das obras de cobertura de alguns estádios [para a Copa do Mundo] foi contratada com aço português”, lamentou.
Além do estímulo às importações, que vem sendo apontado como principal fator de desindustrialização das economias da América Latina, Mello Lopes alertou que existem outras causas para as dificuldades da siderurgia nacional. “No mundo de hoje, mais complexo e competitivo, não há espaço para ingenuidades. Precisamos ter, como o resto do mundo, uma defesa comercial eficiente; [precisamos] corrigir nossas assimetrias competitivas e a guerra fiscal é uma delas; e precisamos tirar do papel e implementar aquilo que está previsto no Programa Brasil Maior, que é o aumento do conteúdo nacional na utilização dos bens".
Os cálculos do IAB apontam que a capacidade produtiva do parque nacional é 47 milhões de toneladas, mas a ociosidade chega a representar 19 milhões de toneladas. O pesquisador Fernando Bemmenschein, da Fundação Getúlio Vargas, que trabalha em um estudo encomendado pelo setor, informou que em 2010, o Brasil importou 5,9 milhões de toneladas de aço, ou 17,9% da produção do país. "Caso todo este aço fosse substituído por aço produzido nacionalmente, o país geraria 582 mil empregos”, disse ele. O estudo, que mapeia a importância do setor para a economia brasileira, ainda não está concluído.
De acordo com o empresário André Johannpeter, presidente o Conselho Diretor do Instituto, a siderurgia brasileira está sendo afetada por um conjunto de fatores, como custo da matéria-prima, alta taxa de juros no Brasil, preço da energia elétrica "no qual metade do valor é imposto", e câmbio valorizado. "Não é especificamente o preço de importados” que prejudica a indústria nacional, explicou o empresário.
Apesar do cenário, as projeções para 2012 são otimistas. O IAB espera que a produção de aço bruto no ano que vem atinja 37,5 milhões de toneladas e as vendas internas, 23,3 milhões de toneladas. Em relação a exportações, a expectativa é que somem 11 milhões de toneladas, enquanto as importações caiam para 3,6 milhões de toneladas.
“Os dados mostram que vai crescer a demanda por aço, tanto nas vendas internas quanto no consumo aparente. Existem previsões de crescimento de PIB, no Brasil, de 3,5%. No mundo, por volta de 4%. O que estamos vendo é que existe uma desaceleração. Talvez a Europa esteja em crise pela dívida dos países. Nos Estados Unidos a previsão é de crescimento do PIB de 1,5% a 1,8% no ano que vem. Caracteriza muito mais uma desaceleração do que uma crise como a que vivemos em 2008”, analisou Johannpeter.
Fonte: Agência Brasil/Carolina Gonçalves
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