O reajuste próximo a 100% no preço do minério de ferro acertado entre as mineradoras e algumas siderúrgicas terá impacto importante nos custos da produção de aço brasileira e terá de ser repassado, no mínimo parcialmente, ao consumidor, afirmou ontem Flávio Azevedo, presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), entidade que representa as siderúrgicas, durante congresso do setor em São Paulo.
"É muito complicado conseguir, com margens apertadas, não repassar para a cadeia parte disso (aumento do minério)", disse Azevedo durante entrevista antes da abertura do Congresso Brasileiro do Aço. Segundo o executivo, o minério de ferro corresponde, na média, a 20% do preço final de produtos siderúrgicos, como bobinas e chapas de aço.
Mas Azevedo descartou uma pressão de possíveis reajustes sobre os índices de inflação. Segundo ele, o peso do aço no custo final de produtos como carros e eletrodomésticos, ou mesmo imóveis, é menos relevante do que se imagina.
Para exemplificar, Azevedo citou estudos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) que concluíram que os produtos siderúrgicos representam 8% no valor final de um carro popular como o Gol, da Volkswagen. No caso do Astra - um carro mais sofisticado fabricado pela General Motors -, o peso do aço no preço final cai para 6%, disse Azevedo com base no estudo do IPT.
O presidente do IABr acrescentou que, no caso das geladeiras e fogões, o peso de produtos siderúrgicos no custo final ao consumidor é de 10% e 17%, respectivamente. O mesmo ocorre na construção civil. Em edifícios de oito andares, por exemplo, a parcela no preço final é de 8%.
"O reajuste não vai causar uma catástrofe inflacionária", disse. "O aço é um componente de peso, mas não é um componente de custo", acrescentou Azevedo, que entrega hoje a presidência do IABr a Marco Polo de Mello Lopes, atualmente vice-presidente da entidade.
Durante o evento, Azevedo garantiu que o setor está preparado para atender a um crescimento da demanda a partir do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, dos projetos relacionados à exploração de petróleo na camada pré-sal e investimentos do governo em infraestrutura, além da realização no país das Olimpíadas e da Copa do Mundo. A expectativa é que esses eventos gerem um consumo adicional de 8 milhoes de toneladas de aço.
Segundo dados do instituto, a capacidade de produção de aço no Brasil supera em 23,1 milhões de toneladas a demanda doméstica projetada para este ano, de 25,4 milhões de toneladas em aço bruto. Atualmente, o setor está operando a um nível entre 80% a 85% de sua capacidade.
"Podemos atender a todas as casas previstas no Minha Casa, Minha Vida, e ainda assim conseguiremos exportar o excedente de aço", disse Azevedo.
Durante o evento, a entidade informou que a produção brasileira de aço bruto alcançou 7,96 milhões de toneladas no primeiro trimestre de 2010, uma alta de 59,3% em relação ao volume de 5 milhões de toneladas produzido no mesmo período do ano passado, em um dos piores momentos da crise financeira para o setor.
O IABr também reportou vendas de 5,03 milhões de toneladas das siderúrgicas brasileiras no mercado doméstico. Esse volume representa um crescimento de 62% perante às vendas internas de 3,1 milhões de toneladas nos três primeiros meses de 2009.
O balanço do instituto mostrou exportações de 2,02 milhões de toneladas no primeiro trimestre, com elevação de 40,2% no confronto anual. Nessa mesma base de comparação, a importação de produtos siderúrgicos no Brasil mais que dobrou, passando de 574 mil toneladas para 1,32 milhão de toneladas. Dessa forma, o consumo aparente de aço no país alcançou 6,25 milhões de toneladas entre janeiro e março, marcando incremento de 73% sobre mesmo período do ano passado.
Para todo o ano de 2010, o instituto prevê produção de 33,16 milhões de toneladas de aço bruto, superando o volume 26,5 milhões de toneladas de 2009.
Fonte: Valor Econômico/ Eduardo Laguna, de São Paulo
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