A Siemens Gamesa vê espaço para ampliar sua atuação em energias renováveis no Brasil e se tornar uma grande provedora de produtos e soluções para segmentos que prometem encontrar terreno fértil no país no futuro, como os parques híbridos, as eólicas “offshore” (em alto mar) e o hidrogênio verde.
“Nossa ambição é ser o 'player' puro sangue em renováveis, aquele que sabe gerir essa complexidade de fontes de geração. Queremos usar nossa aposta de longo prazo no mercado 'onshore' [eólico] no país como a base de sustentação para agregar esses outros elementos do nosso portfólio, com desenvolvimento e produção local”, afirma o diretor geral da Siemens Gamesa no Brasil, Felipe Férres.
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Estabelecida no país há quase 10 anos, a Siemens Gamesa é a segunda maior fornecedora de aerogeradores para o mercado nacional, com cerca de 1,75 mil equipamentos instalados, somando 3,6 gigawatts (GW) de capacidade, e mais 2,4 GW a entregar. No mundo todo, já forneceu mais de 95 GW em turbinas e é líder no segmento eólico offshore.
Com carteira de pedidos recheada, companhia amplia fábrica na BA e faz novos acordos com fornecedores
“Considerando apenas o eólico onshore, o Brasil representa cerca de um décimo da nossa receita global. A perspectiva é de que isso aumente, porque o mercado brasileiro tem crescido a passos largos. Independentemente disso, é uma escolha estratégica investir aqui no longo prazo, o país está entre os cinco mercados que prestamos mais atenção e temos ambição de crescer”, diz Férres.
A grande aposta, no momento, são as encomendas da plataforma 5.X, que compreende turbinas eólicas maiores e mais potentes, com até 6 MW. No desenvolvimento dessa nova geração, a companhia considerou o Brasil como um mercado-chave. A estratégia parece ter sido acertada: em menos de um ano, fechou três grandes contratos para as máquinas, com Engie, Pátria e AES Brasil. Com isso, dos 2 GW já contratados globalmente para a plataforma, 1,2 GW será direcionado ao Brasil. As turbinas estão em fabricação e as primeiras unidades começam a ser entregues no fim deste ano.
Para acomodar a nova produção, a companhia está adaptando sua fábrica em Camaçari (BA), onde produz parte dos componentes dos aerogeradores (nacelles, “hub”), e fortalecendo a cadeia de subfornecedores com a assinatura de novos contratos de longo prazo. Um exemplo disso é o acordo estimado em R$ 3 bilhões com a Aeris, fabricante nacional de pás - anunciado no mês passado, o contrato prevê fornecimento equivalente a 3,8 GW de potência até 2025.
A Siemens Gamesa não revela o valor dos investimentos que estão sendo realizados no país, sejam eles próprios ou através de contratos de fornecedores. Mas, segundo Férres, o montante soma “vários milhões de euros”.
Enquanto aproveita os ventos favoráveis aos negócios, a fabricante já vislumbra novos segmentos de atuação no Brasil. No curto prazo, o que se mostra mais promissor são os parques híbridos, que combinam a geração das fontes eólica e solar. “Uma das nossas vantagens é dominar os controladores de potência e já ter fabricação própria de equipamentos, como inversores solares. Para nós, operar parques híbridos é praticamente um produto de prateleira.”
No radar de vários geradores renováveis, os parques híbridos ainda carecem de regulamentação. No fim do ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avançou com o tema, colocando em consulta pública uma Análise de Impacto Regulatório (AIR).
Já num horizonte incerto mas não tão distante, a Siemens Gamesa enxerga potencial no Brasil para as eólicas offshore e o hidrogênio verde. No caso do offshore, o diretor da fabricante avalia que o mercado nacional é “muito promissor, mas não urgente”, já que o regime brasileiro de ventos em terra é muito favorável e ainda há bastante oportunidade a ser explorada no onshore.
Alguns geradores já têm projetos offshore em fase inicial de desenvolvimento, mas há várias pendências regulatórias e ambientais para que os empreendimentos possam sair do papel. Quando esse mercado deslanchar, a Siemens Gamesa vê espaço para fornecer turbinas 5.X. “A máquina de 6 MW é grande o suficiente para ser instalada em alto mar também. Não precisaríamos necessariamente trazer ao país máquinas muito maiores.”
Em relação ao hidrogênio verde, o executivo entende que o Brasil tem potencial para ser um grande produtor e exportador do combustível renovável. O maior gargalo, avalia, é o custo das tecnologias de eletrólise (processo que utiliza a corrente elétrica para separar o hidrogênio do oxigênio que existe na água), que ainda não são competitivas. “Você tem tudo: infraestrutura [aproveitada da cadeia fóssil], capacidade de escoamento, energia renovável abundante e barata, tudo no mesmo lugar.” Fora do país, a companhia desenvolve um projeto de P&D com a Siemens na Dinamarca para produzir o hidrogênio em parques offshore.
Fonte: Valor