A Siemens Energy estuda comprar todas as ações que ainda não detém no grupo de turbinas de energia eólica Siemens Gamesa, com ações registradas na bolsa espanhola, na tentativa de obter o pleno controle sobre a combalida empresa de renováveis.
O grupo alemão, que já controla 67% do capital da fabricante de turbinas, disse ontem que examina apresentar uma oferta por “todas as ações em circulação da Siemens Gamesa Renewable Energy SA com a intenção de cancelar seu registro em bolsa”.
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Uma série de alertas de lucros e de prejuízos da Siemens Gamesa, uma das maiores fabricantes mundiais de turbinas eólicas, resultou na troca de CEOs por parte da empresa. Jochen Eickholt, veterano da Siemens, foi nomeado em março para melhorar seu desempenho.
O subdesempenho da Gamesa obrigou a Siemens Energy a emitir alerta no mês passado e a retirar a projeção, em vista de a empresa alemã ter estimado arcar com custos adicionais de cerca de € 800 milhões em 2022 devido a contratos onerosos e a ineficiências operacionais em sua subsidiária.
Os problemas da Siemens Gamesa fizeram o valor de suas ações cair em mais de 50% ao longo do ano passado - uma retração mais acentuada do que a sofrida por concorrentes como a dinamarquesa Vestas, que também foram prejudicadas pelas turbulências na cadeia de suprimentos.
A Siemens Gamesa foi criada como empresa distinta com ações em bolsa cinco anos atrás, após a fusão da divisão eólica da Siemens com a Gamesa espanhola. A Siemens Energy passou a deter uma participação acionária de 59% na nova empresa após essa operação.
A Siemens Energy foi desmembrada como independente da Siemens em setembro de 2020 e manteve o controle do grupo na Gamesa. As turbulências na fabricante de turbinas impossibilitaram a Siemens Energy de reduzir sua participação sem contabilizar prejuízo enorme, ao mesmo tempo em que a Siemens não podia reduzir sua participação de 35% na antiga subsidiária sem sofrer baque.
A fabricante de turbinas eólicas registrou € 1,35 bilhão em prejuízos nos últimos quatro trimestres, e receita de € 9,57 bilhões no mesmo período.
A empresa enfrentou dificuldades no lançamento de sua nova turbina eólica terrestre, a 5X, que não teve um desempenho tão bom quanto o esperado, o que contribuiu para os prejuízos.
A crise da cadeia de suprimentos global, os elevados preços da energia e o ambiente inflacionário também prejudicaram a empresa, juntamente com seus pares na produção de turbinas eólicas, cujos contratos tendem a ser de longo prazo e vulneráveis a escaladas repentinas do custo da mão de obra e de matérias-primas.
Apesar dos planos da Europa de mais do que duplicar seu total de instalações eólicas até 2030, as fabricantes de turbinas têm tido problemas em equiparar receita e despesa em um mercado altamente competitivo.
“Todo mundo está com problemas com as condições difíceis do mercado - trata-se de algo como a tempestade perfeita para o setor”, disse Vera Diehl, gestora de carteira da Union, uma das cinco maiores acionistas da Siemens Energy.
“Os custos do frete estão aumentando em ritmo tão acelerado que atinge o segmento muito duramente”, acrescentou, enquanto os contratos da Siemens Gamesa “são desprovidos de cláusulas que permitem repassá-los diretamente” aos clientes.
Fonte: Valor