Com os mercados de eurobônus e de ações fechados por causa das turbulências financeiras neste mês, as empresas brasileiras se voltaram com tudo para os empréstimos à exportação. A razão: diferentemente do que aconteceu após a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, a instabilidade de agora não impactou, pelo menos por enquanto, a disponibilidade, as taxas e o prazo do crédito para essas linhas ao Brasil.
Percebendo isso, quatro grandes empresas brasileiras foram sondar os bancos internacionais nas últimas duas semanas em busca de um total de US$ 3,5 bilhões em pré-pagamentos à exportação de mais longo prazo, diz Samuel Canineu, vice-presidente para sindicalização nas Américas do ING. Até agora neste ano só um grande empréstimo à exportação sindicalizado (com a participação de vários bancos) para companhias brasileiras foi fechado: US$ 380 milhões para a Multigrain. As empresas grandes vinham preferindo os bônus ou as transações com um banco apenas. Com o mercado de eurobônus e de ações fechado, tudo mudou.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que chegou a pensar em emitir eurobônus, acabou tomando R$ 2 bilhões do Banco do Brasil. A subsidiária da CSN, a Congonhas Minérios, emitiu uma nota de crédito à exportação em favor do BB, garantindo o empréstimo, que terá prazo final de amortização de oito anos. Procurada, a empresa não quis dar detalhes da transação.
"Os prazos dos pré-pagamentos não se alteraram e vão até dez anos", diz Marlene Millan, diretora do departamento de câmbio do Bradesco, com carteira total de US$ 4,8 bilhões desse tipo de empréstimo, que teve aumento de 30% em um ano. Já a carteira de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC), o crédito à exportação de curto prazo e vencimento em até um ano, do Bradesco até teve seu volume reduzido no período, para US$ 3,5 bilhões. "A demanda dos exportadores não vinha muito elevada e hoje temos linhas de sobra."
No Banco do Brasil, o líder do mercado, o total de demanda pelos ACCs cresceu de 20% a 25% neste mês, diz Nilo Panazzolo, diretor de comércio exterior. No Itaú BBA, os volumes contratados se ampliaram de 10% a 15% em maio, diz José Augusto Durand, diretor de negócios de tesouraria de atacado. Com a puxada no dólar, que chegou a se aproximar de R$ 1,90, os exportadores passaram a vender a moeda americana e tomaram mais crédito para isso.
Apesar da demanda maior dos exportadores neste mês, os bancos concordam que sobra oferta de linhas de crédito à exportação. Com a crise de 2008, diversos bancos estrangeiros haviam deixado o mercado. No auge do aperto, ainda em meados de 2009, o Banco do Brasil chegou a ficar com 44% do mercado de ACCs. O Banco Central foi obrigado a injetar crédito direto no mercado brasileiro.
Hoje, no entanto, as linhas do BC foram devolvidas e o BB tem 34% do mercado de ACC , com carteira total de US$ 4,2 bilhões. "A situação melhorou no segundo semestre de 2009, mas, no início deste ano, os bancos internacionais voltaram com tudo e inundaram o mercado de ACCs", afirma Panazzolo. Mas o BB contra-atacou e vem agressivo também nas linhas de prazo longo: tem carteira de pré-pagamento de US$ 5,2 bilhões.
Nos primeiros quatro meses do ano, o BB fez novos desembolsos de US$ 6,3 bilhões em ACCs, Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACEs, pós-embarque), notas de crédito à exportação, pré-pagamentos e linhas do BNDES Exim.
Segundo Durand, a redução pelo BNDES nos juros do financiamento à exportação para o setor de bens de capital e outros tornaram sua linhas "competitivas" em relação aos demais tipos créditos à exportação e tiraram parte da atratividade das demais modalidades para as empresas elegíveis. "A concorrência hoje é grande e por isso os spreads não sobem", concorda Nilo Panazzolo.
"Os bancos até tentaram, mas não conseguiram emplacar aumento nos spreads por causa da demanda baixa", conta Marlene Millan. Os grandes bancos nacionais estão muito líquidos e os estrangeiros começaram 2010 querendo ampliar seus ativos no Brasil, o que vinha reduzindo os spreads nas linhas à exportação", diz Canineu. Ele acredita que agora, no entanto, com a maior demanda das empresas, os spreads devem, ao menos parar de cair.
Fonte: Valor Econômico/ Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo
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