A antecipação dos embarques de soja e o aumento na exportação de petróleo amenizaram o efeito da queda do preço do minério de ferro nas vendas brasileiras ao exterior e contribuíram para reduzir o déficit do Brasil na balança comercial com a Ásia e com os Estados Unidos no primeiro quadrimestre. Para esses destinos, o crescimento da exportação superou o da importação. Os mesmos fatores, porém, não impediram queda abrupta no saldo comercial com os países da zona do euro. Somados, União Europeia, Estados Unidos e Ásia representam 62,2% da exportação total brasileira.
O déficit do país com o bloco dos países asiáticos caiu de US$ 1,57 bilhão de janeiro a abril de 2011 para US$ 306,2 milhões em igual período deste ano. Com grande influência da exportação de petróleo, o saldo negativo com os americanos caiu de US$ 3 bilhões para US$ 1,55 bilhão na mesma comparação. O resultado com os EUA reflete, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, a estratégia americana de reduzir a dependência do fornecimento de petróleo por países árabes. "Os americanos têm comprado maior valor e maior volume de petróleo do Brasil."
Nas vendas para a União Europeia, porém, o aumento dos embarques de petróleo e de soja não foram suficientes para evitar uma queda significativa no superávit brasileiro. Puxado pelo minério de ferro, o Brasil teve superávit de US$ 2,4 bilhões com a UE no primeiro quadrimestre de 2011. No mesmo período deste ano o saldo caiu para US$ 193,9 milhões. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento (Mdic). A forte redução do superávit comercial com a região decorreu da queda de 1,3% na exportação brasileira para o bloco no quadrimestre, enquanto os desembarques subiram 28,9%.
A exportação para os europeus foi afetada principalmente pela queda no volume de exportação de minério de ferro. No acumulado até abril a quantidade que o Brasil exportou do metal, aglomerado ou não, para a região, caiu 5,5%. A redução de preço do minério no mercado internacional agravou a queda. A redução de valor exportado de minério foi de 20,1%. Também houve redução de outros itens importantes da pauta de exportação para os europeus, como café em grão e celulose.
A exportação de soja - incluindo bagaços do grão - e de petróleo ajudou a amenizar a queda no valor dos embarques à zona do euro, com crescimento de 81,5% e de 48,9%, respectivamente. "O desempenho desses dois produtos contribuiu para evitar um saldo negativo para o Brasil com a região" diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Também fez diferença um embarque extraordinário, de uma plataforma de petróleo para a Holanda, no valor de US$ 404,9 milhões.
A queda do déficit comercial brasileiro no comércio com os asiáticos foi resultado de um crescimento das exportações em ritmo maior que o das importações. Enquanto os embarques cresceram 13%, a importação teve alta de 5,9% no primeiro quadrimestre. O principal item da pauta de exportação brasileira aos chineses, o minério de ferro, teve queda de 17,9% no valor embarcado durante o primeiro quadrimestre. Houve, porém, elevação de 47% no embarque de soja, mesmo triturada, e de 77,2% no petróleo bruto.
Barral lembra que a pauta de exportação brasileira para os asiáticos e para a União Europeia tem diferenças importantes. "Para os europeus há exportação muito maior de manufaturados e de semimanufaturados, com a venda de alimentos processados, por exemplo." Pelos dados do Mdic, a zona do euro compra cerca de 20% dos manufaturados brasileiros vendidos ao exterior. A Ásia, 8%.
Para Castro, não há grandes expectativas de melhora na exportação brasileira em 2012. "A queda do preço do minério de ferro tem forte impacto para o Brasil e a exportação de soja não deve ajudar tanto a balança no segundo semestre." Ele explica que preços relativamente bons do grão provocaram antecipação dos embarques no primeiro trimestre do ano. Se houver manutenção do ritmo de exportação da soja, acredita Castro, o Brasil deve exportar até o fim de junho 25 milhões de toneladas do grão. A expectativa é de que os embarques somem perto de 31 milhões de toneladas em 2012.
Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, tem opinião semelhante. Ele acredita que o Brasil terminará o ano com superávit comercial de US$ 20 bilhões, menor que os US$ 29,8 bilhões em 2011.
Para ele, o superávit comercial de 2012 virá principalmente de uma desaceleração das importações e não de elevação dos embarques. Os desembarques, diz, devem diminuir seguindo um ritmo menor do consumo doméstico.
Nem a tendência de desvalorização do real frente ao dólar das últimas semanas, acredita Silveira, vai mudar o quadro de forma significativa. "A demanda do mercado internacional já está definida e um câmbio melhor não mudará isso, apesar de aumentar a margem do exportador", acrescenta.
Fonte:Valor Econômico/Por Marta Watanabe | De São Paulo
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