A adoção de boas práticas agrícolas contribui para o sequestro de carbono em áreas de soja do Matopiba, região que compreende Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, segundo um estudo inédito da Fundação Solidaridad. Juntos, os quatro Estados devem produzir 18,5 milhões de toneladas da oleaginosa em 2022/23, ou 12,3% das 150,3 milhões que o país vai colher, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Denominado “Balanço de carbono na produção de soja do Matopiba”, o estudo analisou uma área de 150 mil hectares em 50 fazendas de 22 municípios da região durante a safra 2019/20 nas quais houve adoção de boas práticas, como plantio direto, preservação de reservas ambientais e recuperação de terras degradadas. A pesquisa informou que a emissão total foi de 0,97 toneladas de carbono equivalente por hectare e o sequestro de carbono, de 1,56 toneladas de carbono equivalente por hectare. Com isso, o saldo foi de sequestro de 0,59 toneladas de carbono equivalente por hectare.
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“Esse é um estudo que demonstra todo o potencial produtivo de soja sustentável no Matopiba. Com o uso de boas práticas, é possível aumentar o sequestro de carbono mantendo as áreas de reserva legal da propriedade sem a necessidade de converter novos territórios. No entanto, essas áreas nem sempre estão nas melhores condições produtivas de solo, e a partir do uso de boas práticas temos condições de otimizar regiões para maior eficiência do plantio”, diz Rodrigo Castro, diretor da Fundação Solidaridad no Brasil.
Dos 150 mil hectares analisados, o estudo mostrou que, no período de um ano, as emissões chegaram a 150,5 mil de toneladas de carbono equivalente. Desse total, 55,5% foram originadas pela utilização de corretivos agrícolas, 21,5% vieram das emissões de fertilizantes nitrogenados, 17% do uso de combustíveis em operações agrícolas, 5,5% da decomposição de resíduos agrícolas e 0,5% vindo do consumo de energia elétrica.
Em contrapartida, ao considerar o balanço das emissões nas fazendas que utilizavam práticas como o plantio direto e até mesmo o sistema de plantio convencional, o sequestro de carbono no solo chegou a 242,6 mil de toneladas de carbono equivalentes ao ano, compensando, assim, em 161,2% as emissões.
“Os resultados foram melhores principalmente em áreas onde o sistema de plantio de direto foi implementado regiões degradadas. Esses locais emitem muito mais gás poluente, e sem o trato ideal, a tendência é se deteriorar cada vez mais. O grande segredo do plantio direto é que ele favorece a fixação de carbono do solo ao mesmo tempo em que é eficiente no sequestro de carbono, destaca Castro.
O diretor da Fundação Solidaridad ressalta que, com as boas práticas no solo, é possível expandir a produção de soja de forma sustentável, com ganhos econômicos, sociais e com equilíbrio ambiental. Para tanto, é necessário um incentivo maior ao produtor rural para conscientizá-lo da importância das técnicas de conservação do solo.
“Hoje, o Código Florestal determina que o produtor conserve 30% de sua reserva legal, mas, se ele preserva 40%, precisa ser recompensado por esse excedente, recebendo, por exemplo, um pagamento por serviços ambientais. Esse apoio para quem tem excedente de área protegida por lei é crucial para a expansão sustentável no futuro da soja”, diz.
Ele lembra, ainda, que políticas públicas como o Plano ABC, que visa promover a agricultura de baixo carbono do país, precisam ser melhor divulgadas. Neste ano, a linha contará com recursos de R$ 6,19 bilhões dentro do Plano Safra 2022/23, segundo o Ministério da Agricultura.
“A iniciativa é uma das formas de acelerar a adoção de boas práticas agrícolas no sequestro de carbono, mas para isso ele precisa ser melhor apresentado como oportunidade de acesso a uma produção mais sustentável”, frisa.
Fonte: Valor