O surto de coronavírus afetará a demanda por petróleo do principal mercado da Petrobras no exterior e deve representar uma queda na cotação do barril vendido pela estatal brasileira. Ao todo, a China representa 72% de todo o petróleo exportado pela estatal brasileira, com base nos dados do acumulado de 2019, até setembro.
De acordo com a consultoria Wood Mackenzie, o surto de coronavírus deve representar um corte de mais de 250 mil barris/dia nas projeções de demanda chinesa por petróleo no primeiro trimestre. Para efeitos de comparação, a Petrobras exportou, para o país asiático, cerca de 360 mil barris diários da commodity em 2019 (até setembro).
“No curto prazo, haverá uma restrição dessa demanda”, afirma Marcelo de Assis, chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina.
Segundo a consultoria, o mercado do Golfo do México surge como destino alternativo para parte das exportações brasileiras, mas o cenário é de maior competição, o que tende a comprimir os preços. A Wood Mackenzie acredita que o barril de petróleo exportado pelo Brasil possa ter um desconto adicional de US$ 1 em função dos efeitos do coronavirus.
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“México e Colômbia, que também estão entre os principais supridores da China, serão os principais competidores do petróleo brasileiro, nesse sentido”, afirma a analista de pesquisa da consultoria, Paula Jara.
De acordo com a Comex Stat, do Ministério da Economia, a China representou 64% das exportações de óleo cru do Brasil em 2019. O dispêndio chinês foi de cerca de US$ 15,4 bilhões. O segundo principal destino foi os Estados Unidos, responsável por 13% dos volumes embarcados.
Devido ao crescimento das exportações para a China, reflexo direto da necessidade de buscar mercados para o volume crescente da produção do pré-sal, a Petrobras inaugurou, em junho do ano passado, uma tancagem de óleo cru no Porto de Qingdao, na China, com capacidade para armazenar 2 milhões de barris. O objetivo da nova infraestrutura, alugada de terceiros, é conseguir reduzir prazos de entrega, melhorando sua posição num mercado essencial.
O posicionamento é importante na busca por clientes, num mercado onde a competição é grande e que vive um momento de abertura, nos últimos anos.
Até 2014, somente as estatais chinesas tinham autorização para importar petróleo. Os refinadores independentes privados estavam autorizados a processar apenas petróleo doméstico. Em 2015, o cenário mudou quando o governo chinês concedeu gradualmente quotas de importação aos refinadores independentes, possibilitando que essas refinarias também tivessem acesso a óleos importados.
Esse grupo de refinadores independentes, composto por mais de 50 refinarias médias e pequenas, representa cerca de 25% do parque de refino chinês e movimenta 3 milhões de barris por dia, segundo a Petrobras.
Fonte: Valor