BERLIM e RIO - A ThyssenKrupp, maior produtora de aço da Alemanha, quer vender a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Santa Cruz, no Rio, bem como sua subsidiária no Alabama, nos Estados Unidos, como adiantou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. O presidente-executivo da companhia, Heinrich Hiesinger, disse na terça-feira que pretende oferecer a usina brasileira para a parceira Vale, que já detém 27% da CSA, mas que também falará com possíveis compradores na Ásia. A decisão de se desfazer da usina foi motivada pelo estouro do orçamento para a implantação das unidades e dos atrasos.
A Vale afirmou que ainda não foi comunicada oficialmente sobre a decisão e que não tem nada a declarar sobre o assunto. Já Hiesinger não mediu palavras ao anunciar que pretende se desfazer da CSA: afirmou que o assunto é uma dor de cabeça, referindo-se aos prejuízos causados à ThyssenKrupp pelas duas usinas. Nos últimos seis meses, eles chegaram a 518 milhões.
- Nosso objetivo é obter recursos suficientes para investir em outras unidades de negócios - disse Hiesinger à agência de notícias Dow Jones.
Enquanto a ThyssenKrupp de Alabama, que processa o aço transportado por navios saídos do Porto de Sepetiba, tem dado prejuízo por causa da queda da demanda americana pelo produto e porque o material que recebe do Brasil já é caro demais, a CSA tem provocado dores de cabeça desde o início de sua construção, alvo de protestos de ONGs e de pescadores.
Os problemas aumentaram quando os custos das usinas explodiram de 1,3 bilhão para 5,2 bilhões de euros, o que levou a um processo de investigação contra o ex-presidente Ekkerhard Schulz, que deixou o grupo em janeiro do ano passado, devido à pressão dos acionistas. Um escritório de advocacia, no entanto, concluiu, após análise, que ninguém foi culpado pelos prejuízos.
Segundo um porta-voz da ThyssenKrupp, as previsões otimistas de lucro da empresa no Brasil não se cumpriram, em parte por causa da explosão do custo da mão de obra.
- Quando planejamos, o baixo preço da mão de obra no país e a proximidade com o mercado americano eram vantagens, que agora deixaram de existir. Os salários subiram muito no Brasil, e há ainda a desvantagem, do ponto de vista de exportação, da alta valorização do real - afirmou o porta-voz.
A ThyssenKrupp fechou os últimos seis meses com prejuizo de 1,067 bilhão, mas o anúncio do plano de se desfazer das unidades do Brasil e dos Estados Unidos animou o mercado. Na Bolsa de Frankfurt, a notícia ajudou o comportamento das ações: depois de uma queda de 6%, os papéis fecharam com alta de 1,46%, segundo dados da Bloomberg News.
Secretaria do Ambiente vistoria instalações
Enquanto isso, no Rio, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, a presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, químicos e engenheiros do Inea fizeram uma vistoria técnica ontem às instalações da CSA. O objetivo foi avaliar se os dois novos poços de emergência da siderúrgica, que agora funcionam com sistema fechado de exaustão, estão reduzindo em até 95% a emissão da fuligem de prata e de mais partículas contidas no ferro-gusa. O resultado do teste realizado durante a vistoria foi positivo: a eficiência dos equipamentos foi comprovada.
Os equipamentos, que levaram 12 meses para serem construídos e custaram R$ 33 milhões à ThyssenKrupp, captam a poeira que antes se dispersava na atmosfera, prejudicando a vida de moradores da vizinhança. O enclausuramento dos poços foi uma das 130 condicionantes determinadas pelo Inea no termo de ajustamento de conduta (TAC) para que a siderúrgica receba a licença ambiental. Essas condicionantes foram elaboradas a partir de uma auditoria externa, que seguiu padrões internacionais.
A inspeção teve início nos dois galpões fechados e independentes que substituem os antigos poços de emergência abertos, que provocaram a emissão da poeira poluente - a chamada chuva de prata - que atingiu casas da região. Por causa dos acidentes, a empresa foi multada, em agosto de 2010, em R$ 1,8 milhão. Em janeiro de 2011, além de outra multa, de R$ 2,8 milhões, a siderúrgica teve de custear R$ 14 milhões em obras de compensação ambiental, como a construção de um posto de saúde. Em 2011, a CSA teve obras de ampliação embargadas até que fosse apresentado projeto técnico de fechamento dos poços de emergência.
Fonte: Por Graça Magalhães-Ruether com agências internacionais
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