Depois de cinco anos de obras marcadas por inúmeros contratempos, inclusive a crise financeira internacional, entra em operação, na sexta-feira, a ThyssenKruppCSA - Companhia Siderúrgica do Atlântico, instalada na região metropolitana do Rio de Janeiro. O complexo siderúrgico recebeu € 5,2 bilhões (US$ 6,6 bilhões), o que representou aumento de quase 80% em relação ao orçamento inicial de € 3 bilhões. O investimento é o maior já feito pelo grupo alemão no mundo, em sociedade com a Vale.
Rodrigo Tostes, vice-presidente financeiro da CSA, informou que a primeira placa de aço deverá ser produzida entre julho e agosto. Nesta semana, está prevista a largada da primeira unidade produtiva, que é a de sinterização. O processo consiste na aglomeração do minério de ferro para posterior produção do ferro gusa nos dois altos fornos, com capacidade total de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente executivo mundial do grupo ThyssenKruppEG, Ekkehard Schulz; e Roger Agnelli, presidente-executivo da Vale, estarão presentes à cerimônia de inauguração da usina.
O primeiro alto-forno deverá entrar em operação entre o fim do mês e o início de julho. Na primeira etapa está prevista a produção de 2,5 milhões de toneladas de placas. Em princípio, o segundo alto-forno deve começar a funcionar em janeiro de 2011 com idêntica capacidade. O cronograma da CSA, segundo Tostes, prevê que a capacidade plena de produção seja atingida no segundo semestre de 2011. "A melhor estratégia para o grupo é que o segundo alto-forno entre em atividade nesta data."
Ele reconheceu que a segunda fase de produção pode passar por ajuste fino considerando-se as condições de mercado e os preços das placas. Isso porque as placas produzidas pela CSA serão exportadas para usinas do grupo em Duisburg (Alemanha) e Alabama, (Estados Unidos), onde a ThyssenKrupp vai inaugurar em dezembro uma unidade de produtos laminados de aço. Os dois mercados, o europeu e o americano, estão ainda em crise. Quando a CSA estiver produzindo a todo vapor, o plano da ThyssenKrupp é alimentar a usina americana com 60% das placas produzidas no Rio e destinar o restante à fábrica alemã.
O diretor financeiro da CSA considerou normal os atrasos e dificuldades enfrentadas para implementar um projeto "green field" do porte do complexo siderúrgico carioca. Um dos principais motivos do atraso, segundo ele, foram as obras civis que envolveram o equivalente a 1,4 mil quilômetros de estaqueamento. Ao todo, o terreno ocupado pelo complexo siderúrgico tem nove milhões de metros quadrados. "Houve um aumento no número de estacas utilizadas e faltou equipamento."
Outro ponto que motivou mudanças no cronograma foi o aquecimento do mercado siderúrgico mundial no início do projeto, em 2005, o que encareceu serviços e equipamentos. Também pesou a sobrevalorização do real frente ao dólar, que aumentou os gastos em reais. "Os equipamentos mais sofisticados foram construídos fora do Brasil. Mas o conteúdo nacional do projeto, previsto inicialmente entre 40% e 50%, ficou entre 60% e 70%." Os números do executivo indicam que do investimento total, cerca de € 3 bilhões foram gastos no Brasil. "Só no Rio, os gastos ficaram entre R$ 5 a R$ 6 bilhões."
Apesar dos problemas, Tostes disse que o projeto mostrou ser viável economicamente. Um exemplo foi o fato de a Vale ter aumentado a participação societária no empreendimento de 10% para 26,87% no ano passado. Como resultado, a ThyssenKrupp reduziu sua fatia na parceria de 90% para 73,13%. Segundo o executivo, o investimento foi todo feito pelos sócios, com exceção dos empréstimos concedidos pelo BNDES. Segundo o banco, foi contratado R$ 1,4 bilhão para CSA, recursos ainda em fase de desembolso.
Analistas consultados avaliam que o custo da tonelada instalada de aço por total investido no projeto CSA está saindo por US$ 1.300, por conta da depreciação do euro. Se fosse fazer a conta com base numa média de US$ 1,40 por euro, cotação próxima da que estava antes da recente crise europeia, o valor do empreendimento em dólar seria na faixa de US$ 7,3 bilhões ou US$ 1.460 por Capex/tonelada. Este valor fica pouco acima dos US$ 1.400 por tonelada, hoje o custo efetivo por tonelada instalada num projeto de usina integrada.
O empreendimento, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio, funciona de forma integrada recebendo minério de ferro fornecido pela Vale e importando carvão em terminal portuário próprio, por onde também serão exportadas as placas de aço. Conta ainda com uma coqueria com três baterias, sendo que a primeira delas entra em operação dentro de 50 dias, e com uma termelétrica de ciclo combinado com capacidade de 420 megawatt (MW).
Fonte: Valor Econômico/ Vera Saavedra Durão e Francisco Góes, do Rio
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