A ThyssenKrupp AG está considerando manter sua deficitária siderúrgica brasileira, numa reviravolta nas tentativas do conglomerado industrial alemão de se livrar da sua divisão Steel Americas.
De acordo com o novo plano, a ThyssenKrupp venderia sua unidade processadora em Calvert, no Alabama, para a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), por US$ 1,5 bilhão, e a CSN aceitaria comprar três milhões de toneladas de aço por ano da brasileira Companhia Siderúrgica do Atlântico, a CSA, disseram pessoas a par das negociações. A CSA ficaria sob o controle da ThyssenKrupp.
Cerca de 2,5 milhões de toneladas da produção brasileira seriam destinadas para processamento na laminadora do Alabama por até seis anos, enquanto as 500.000 toneladas restantes seriam enviadas para operações da CSN no Brasil, disseram as pessoas. Não ficou claro se já foram estipulados prazos para o acordo, mas uma das pessoas disse que não é provável que ele seja fechado esta semana.
As usinas no Brasil e EUA, que fazem parte de um ambicioso plano lançado na década passada para conquistar o mercado de aço dos Estados Unidos, já custaram mais de US$ 15 bilhões à ThyssenKrupp sem gerar nenhum lucro. O valor contábil das duas usinas é hoje de US$ 4,5 bilhões. Desde que elas foram inauguradas em 2010, a ThyssenKrupp já reduziu valor delas em US$ 10,7 bilhões.
Tirar a Steel Americas de seu balanço está no topo da lista de prioridades da ThyssenKrupp. A agência de classificação de crédito Standard & Poor's concluiu no fim do ano passado que a venda do ativo é crucial para a ThyssenKrupp reduzir sua dívida e proteger suas avaliações de crédito. A previsão é que a ThyssenKrupp divulgue um pequeno lucro trimestral hoje.
Um porta-voz da ThyssenKrupp disse que a empresa mantinha negociações intensas com mais de um potencial comprador e que planeja vender a Steel Americas em tempo hábil.
Outras opções também permanecem sobre a mesa, incluindo uma oferta conjunta da ArcelorMittal SA, que tem sede em Londres, e da japonesa Nippon Steel & Sumitomo Metal Corp., disseram as pessoas a par das negociações. A dupla ofereceu US$ 2 bilhões pela usina no Alabama, que custou US$ 5 bilhões para ser construída e está projetada para processar até cinco milhões de toneladas de aço por ano para as montadoras no sudeste dos EUA.
A ArcelorMittal e a Nippon Steel não quiseram comentar.
Caso a ThyssenKrupp venda a usina do Alabama para a ArcelorMittal e a Nippon, a empresa alemã poderia enfrentar a possibilidade de ter que fechar a CSA.
"Em algum momento, ou você pesca o peixe ou libera a isca", diz John Packard, editor da "Steel Market Update", uma publicação do setor. Ele diz que a ThyssenKrupp tem agora três opções: "Vender as operações do Alabama à CSN com algum tipo de acordo para o fornecimento de chapas da CSA no Brasil; vender as operações do Alabama para alguém como a ArcelorMittal e fechar a usina no Brasil, ou decidir não vender nada e descobrir uma maneira de tornar as operações rentáveis".
Seja qual for o caso, um acordo entre a ThyssenKrupp e a CSN deve exigir um aumento de capital pelo conglomerado industrial alemão, disse uma das pessoas a par do assunto, acrescentando que a empresa está em negociações com bancos de investimento sobre a emissão de novas ações.
"Vemos um aumento de capital no dia da venda da Steel Americas", com um máximo de 51,5 milhões de novas ações, ou 10% do capital existente, previram analistas do J.P. Morgan em uma nota. Aos preços atuais de mercado, a ThyssenKrupp pode captar mais de US$ 1 bilhão em uma emissão de novas ações.
Um porta-voz da ThyssenKrupp disse que a decisão sobre um possível aumento de capital pode ser tomada só quando o resultado de uma venda da Steel Americas ficar claro.
A ação da companhia fechou ontem em 17,11 euros (US$ 22,83), na Alemanha, com alta de 13 centavos de euros.
A ThyssenKrupp, cuja incapacidade de vender as usinas tem frustrado investidores por mais de um ano, originalmente tinha a intenção de vender sua usina no Alabama e sua participação de 73% na CSA. A Vale SA detém os 27% restantes da usina brasileira.
O diretor-presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse na semana passada que a empresa não tinha a intenção de aumentar sua participação na CSA. Um porta-voz da Vale não quis fazer comentários adicionais.
Um possível acordo com a CSN naufragou no mês passado por causa de uma disputa sobre o preço. Representantes da CSN não estavam disponíveis para comentar o assunto.
A ThyssenKrupp lançou o projeto para ambas as usinas em meio ao boom global de aço da última década, planejando produzir chapas de aço bruto no Brasil e enviá-las para o Alabama para serem laminadas. Mas a crise financeira global e um real volátil frustraram esse plano.
(Fonte: Valor Econômico/Colaboraram Jan Hromadko, Hendrik Varnholt e Paul Kiernan.)
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