De acordo com o jornal argentino “La Nacion”, representantes da Federação Argentina da Indústria de Moagem (FAIM) e do Ministério da Agricultura da Argentina reuniram-se na última quarta-feira para levantar a preocupação dos exportadores e corretores e saber como estão os estoques.
“Nós nos reunimos para ver como podemos gerar um pouco de oferta agora. Com esses preços no mundo, não há oferta de trigo na Argentina, e precisamos continuar fornecendo (farinha)”, disse Diego Cifarelli, presidente da FAIM, à publicação. Segundo ele, o segmento precisa de 200 mil a 240 mil toneladas de trigo para os próximos 15 dias para atender à demanda de exportação de farinha.
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Os preços do trigo estão em seu maior patamar na bolsa de Chicago em 14 anos como reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia, responsáveis por quase 30% das vendas globais. Os importadores não estão conseguindo comprar cereal russo devido aos embargos financeiros impostos por países do Ocidente e, do lado ucraniano, os portos foram fechados ou parcialmente destruídos, dizem as agências internacionais.
Enquanto isso, na Argentina, o valor do trigo no mercado disponível subiu 24% até o início de março, para US$ 290 a tonelada, em média, entre meados de janeiro - antes mesmo do conflito - e o início de março. Cifarelli disse ao jornal argentino que, na reunião, o governo não cogitou intervir no mercado. “O papel do governo era unir as partes”.
Para o presidente da FAIM, em 15 dias o mercado “deverá se acalmar” - mas isso dependerá, é claro da extensão da guerra. “A ideia é continuar com a oferta normal, apesar da situação difícil e da incrível volatilidade dos grãos”, complementou.
Gustavo Idígoras, presidente da Câmara da Indústria do Petróleo e do Centro de Exportação de Cereais (Ciara-CEC), afirmou ao jornal que 7,5 milhões de toneladas estão em poder dos produtores, e não dos exportadores.
Segundo dados oficiais, os exportadores argentinos compraram 14,13 milhões de toneladas de trigo e aprovaram vendas externas de 13,6 milhões de toneladas, de um total de 14,5 milhões de toneladas autorizadas pelo governo. Enquanto isso, a indústria, que costuma moer cerca de 5 milhões a 6 milhões de toneladas por ano, adquiriu 1,59 milhão de toneladas.
No total, as exportações e a indústria já compraram 15,72 milhões de toneladas do cereal. Sem contar o estoque inicial de 1,71 milhão de toneladas da temporada anterior, e considerando que a safra 2021/22 foi de 22,1 milhões de toneladas, 71,1% da oferta argentina foi vendida.
O Brasil, que depende de importações de trigo, é o principal destino das exportações argentinas. Com a escaladas dos preços internacionais, os moinhos já alertaram que os preços dos derivados vão subir ainda mais no mercado doméstico.
Em forte alta desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, o trigo fechou nesta quinta-feira acima de US$ 11 por bushel, o que não ocorria desde março de 2008. O cereal para maio, o mais negociado no momento, atingiu logo no início do dia a máxima estendida para uma só sessão, de 75 centavos de dólar por bushel, e lá permaneceu até o fim das negociações. Os papéis avançaram 7,08%, a US$ 11,340 o bushel.
Com a escalada, o cereal vai se aproximando do pico que alcançou nesse intervalo de 14 anos. No período, a máxima do contrato de segunda posição foi de US$ 12,8550 o bushel, segundo levantamento do Valor Data.
Fonte: Valor