A entrada da Ternium no bloco de controle da Usiminas poderá viabilizar um processo de internacionalização da siderúrgica mineira, algo que já foi ensaiado no passado, mas que nunca saiu do papel.
A avaliação foi feita ontem presidente da Usiminas, Wilson Brumer, durante entrevista em Belo Horizonte. A Ternium pertence ao grupo ítalo-argentino Techint. "A Ternium está muito focada na América Latina. Ela tem usinas no México e na Argentina. Chegou a ter uma na Venezuela. Tem vários centros de serviço nos EUA. Podemos discutir muitas oportunidades de negócios", disse.
Segundo ele, em um momento de empresas globalizadas, a aquisição por parte da Ternium da fatia pertencente à Votorantim e à Camargo Corrêa permitirá à Usiminas "crescer no Brasil e certamente crescer em outros mercados quando for o tempo necessário".
"Já se falou muito, no passado, de uma internacionalização da Usiminas. Hoje não é o momento para essa discussão, em função até da crise pela qual o setor atravessa, com um excesso de oferta de aço. Mas nada impede que a discussão volte em um segundo momento, e a presença de dois parceiros internacionais poderia ajudar nesse aspecto", disse Brumer.
Pelo acordo firmado, os dois maiores acionistas passam a ser os japoneses do grupo Nippon, que aumentam sua participação de 43,47% das ações vinculadas ao acordo para 46,12% e a Ternium, que terá 43,31%. O fundo de pensão dos funcionários deixa de ter 15,86% das ações do acordo e passa a ter 10,57%. Considerando o total de ações ordinárias da siderúrgica, e não apenas as pertencentes ao bloco de controle, a Nippon tem 29,45%, a Ternium, 27,66% e os empregados, 6,75%.
Um dia após o anúncio da entrada do novo sócio na Usiminas, o executivo não deu muitas pistas sobre quais mudanças práticas deverão ocorrer nos projetos e nos negócios da siderúrgica mineira.
"Somos parceiros de longa data e, na discussão que certamente vai acontecer o tempo todo, vamos descobrir coisas que podemos fazer juntos com o passar do tempo. Mas falar de sinergias neste momento, eu acho que é prematuro."
Um eventual aumento da participação de mercado da Usiminas num futuro próximo se deverá, segundo o executivo, muito mais aos atuais investimentos feitos pela empresa do que à entrada dos novos sócios no bloco de controle.
Ao falar sobre eventuais mudanças nos cargos de diretoria decorrentes da alteração societária, o executivo voltou a dizer que é cedo para essa discussão. Além de eventuais indicações para a direção que a Ternium poderá fazer, os novos sócios também poderão indicar seus representantes para as três cadeiras no conselho de administração que herdaram da Votorantim e da Camargo Corrêa.
O negócio ainda precisará da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e talvez abra uma disputa envolvendo os acionistas minoritários que venham a cobrar na Justiça o direito de receber o mesmo prêmio pago aos controladores por suas ações.
"Nosso entendimento jurídico é que não há "tag along" porque o grupo de controle continua existindo. O acionista Nippon e a Caixa de Empregados continuam presentes nesse acordo. O que simplesmente houve foi a saída de um dos integrantes do grupo de controle para a entrada de outro."
Depois de meses de especulações e movimentos envolvendo as siderúrgicas brasileiras Gerdau e CSN, a venda de uma parte do controle da Usiminas para a Ternium põe fim a um período em que a empresa mineira ficou cercada por incertezas.
A opção pela pelo grupo ítalo-argentino se deveu muito à longa história de parcerias e negócios que a Usiminas e a Nippon têm com as empresas da Techint.
"Esse assunto [da venda] vinha sendo debatido [há meses] e de uma certa maneira vinha criando muitos rumores no mercado. Isso não é bom para a empresa porque acaba criando uma certa insegurança, acaba criando outros tipos de problemas. [Agora] a solução está dada. Então, vira-se uma página", disse Brumer.
"A solução foi com um parceiro de primeira linha, que tem com a Usiminas uma relação muito próxima e que tem uma relação muito próxima com a Nippon Steel."
Segundo Brumer, embora a participação da Votorantim e da Camargo Corrêa não depreciasse a Usiminas - "ao contrário", disse -, a mudança societária faz com que a siderúrgica passe a ter um grupo em seu controle "de empresas do setor, o que valoriza o futuro da Usiminas".
A Usiminas também anunciou ontem que a sua subsidiária de mineração finalizou duas parcerias na região de Serra Azul, em Minas. A empresa comprou ativos e direito minerário na região da Mineração Ouro Negro, por US$ 367 milhões. Também fez um acordo com a Ferrous, que permitirá um melhor aproveitamento pela Usiminas de uma área localizada entre as reservas das duas mineradoras.
Fonte: Valor Econômico/Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
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