SÃO PAULO - O aumento do minério de ferro em cerca de 35%, previsto para vigorar a partir de hoje, deve ter impacto menor que o previsto nas siderúrgicas brasileiras. A saída encontrada pelas grandes consumidoras do insumo é verticalizar a produção e obter em jazidas próprias o insumo que atualmente é disputado no mercado global.
A Usiminas deu ontem um grande passo em direção à autossuficiência no minério de ferro. A companhia mineira anunciou a associação com a japonesa Sumitomo Corporation para a criação da Mineração Usiminas, que fará extração de minério de ferro. O investimento asiático no projeto será de cerca de U$ 1,929 bilhão, o que corresponde a 30% do investimento total da empresa. "Precisávamos de um parceiro forte e estabelecido no ramo", afirmou o presidente da Usiminas, Wilson Brumer. A japonesa Sumitomo é referência em produção de carvão, minério e cobre no mundo.
O objetivo da Usiminas é adequar a produção da nova mineradora às suas necessidades. A empresa deve extrair 7 milhões de toneladas das jazidas próprias até o final de 2010. O número, no entanto, deverá quadruplicar até 2013. "Esperamos obter 29 milhões de toneladas em três anos, e assim atender a demanda interna e ainda exportar", afirmou o executivo.
Em 2015, a nova mineradora estará operando a pleno vapor. "Iremos investir em máquinas, pessoal e infraestrutura, além de dar atenção específica às regiões das jazidas e ao meio ambiente local", previu.
O mais novo negócio da Usiminas, já previsto por especialistas, foi mais uma batalha vencida na luta para diminuir a dependência das grandes mineradoras, que controlam o mercado de minério de ferro. "O que houve na Usiminas foi uma espécie de 'hedge mineral', muito frequente em situações dessas e muito possivelmente a primeira de muitas ações parecidas", afirmou o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves. "Dessa forma, as siderúrgicas podem comprar ativos que lhes garantam o fornecimento de parte da matéria-prima, de modo a não ficar à mercê das oscilações do mercado", explicou Alves
Na direção contrária, a Vale, uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, demonstra interesse crescente no setor siderúrgico. Segundo o diretor presidente da Vale, Roger Agnelli, a visão da empresa de apoio à expansão da siderurgia é de longo prazo e sempre fez parte da estratégia da empresa.
A Vale participa hoje da CSA, instalada em Santa Cruz (RJ). A mineradora está construindo também a Companhia Siderúrgica de Pecém, no Ceará e, em março, a Vale recebeu licença para construir Aços Laminados no Estado do Pará.
A mineradora ainda busca um sócio majoritário para participar da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), no Espírito Santo. Os projetos têm em comum contratos com a Vale para fornecimento de minério de ferro.
Repasse
Ainda em processo de verticalização, as siderúrgicas deverão repassar o aumento que deve chegar hoje. As negociações preveem majoração de 3% a 10%. A informação é do presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro.
De acordo com o executivo, as siderúrgicas já começaram a discutir o reajuste com os distribuidores. "Hoje, fala-se de reajuste de 10% para produtos zincados e 3% para chapas grossas", a consequência, para Loureiro, seria o aumento das importações.
O setor vive uma queda de braço em relação aos preços diante do avanço expressivo das importações nos últimos meses. Números do governo mostram que as importações de aço aumentaram duas vezes e meia de janeiro a maio em relação ao mesmo período de 2009. Como reflexo dessa situação, os estoques aumentaram.
Loureiro disse que os estoques da rede de distribuição subiram de um volume equivalente a 2,1 meses de vendas em março para 3,3 meses em maio. A relação considerada ideal pelo setor é de 2,5 meses.
Fonte: DCI/Paula Cristina
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