A entrada desenfreada de aço tipo chapa grossa no mercado interno, oriunda de diversos países, levou a Usiminas a solicitar ao governo que analise a abertura de um processo antidumping contra o material importado. Após uma série de estudos sobre o impacto do aço estrangeiro sobre os negócios da siderúrgica mineira, o pedido foi entregue ao Departamento de Comércio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Sérgio Leite, vice-presidente de negócios da Usiminas, confirmou ao Valor que o pedido atinge chapa grossa de sete países - Rússia, Coreia do Sul, México, Espanha, Taiwan, Romênia e Turquia. "Demos o primeiro passo, com entrega de amplo estudo de entrada de material de 2006 a 2009; agora, vamos aguardar a análise e o parecer final do Decom", afirmou.
Até junho, segundo dados do Banco nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as importações de chapa grossa atingiram 220 mil toneladas, 34% superior ao de igual período do ano passado, e isso já preocupa técnicos do banco, conforme reportagem do Valor. Esse volume é mais da metade do total vendido no mercado nacional pela Usiminas de janeiro a julho - 410 mil toneladas, conforme dados do balanço financeiro da empresa.
A medida já começa a inquietar os distribuidores independentes de aços planos do país.
"Agimos como reguladores do mercado, uma vez que a Usiminas prioriza o grandes consumidores de chapa grossa e pratica o preço de venda desse produto mais elevado do mundo", afirma um executivo de uma empresa.
O preço da Usiminas, informa, é de R$ 2,23 mil a toneladas, incluindo PIS Cofins, mas sem frete, ICMS e IPI. "Esse valor é cerca de 15% superior ao preço da chapa grossa importada e internada no mercado interno", explica. "Até as siderúrgicas locais estão importando para atender seus clientes".
Segundo Leite, a empresa analisou vários aspectos de impacto na indústria nacional de aço, como forte queda de vendas e capacidade de ocupação das linhas de produção e retração nos empregos. "A partir da eclosão da crise mundial, houve expressivo aumento de aço importado, lastreado por preços baixos", diz.
Nos estudos feitos pela empresa, informa o executivo, foram constatados indícios de prática de preços abaixo do custo de produção nas siderúrgicas dos países-alvo do processo. Além disso, acrescentou, o câmbio brasileiro (segundo maior valorizado do mundo) é um fator de incentivo à importação, bem como a alta carga tributária e gargalos logísticos. "E isso encarece nossa produção e tira a competitividade do setor".
Conforme apurou o Valor, a medida visa atingir principalmente material oriundo de Rússia e Coreia do Sul. De acordo com distribuidores, esses dois países tem produtos com alta qualidade. Algumas usinas desses países, informadas da iniciativa de abertura de processo, já estariam suspendendo vendas do produto.
"Não somos contra a livre competição, mas desde que seja saudável, sem práticas desleais de concorrência no mercado", rebate Leite. Segundo ele, a indústria do aço não é a única que enfrenta uma enxurrada de produtos importados. Um exemplo é o setor de autopeças, atacado por material chinês.
Nas linhas de chapa grossa - uma fábrica em Ipatinga (MG) e outra em Cubatão (SP) - a Usiminas opera com ociosidade maior que a de outras linhas, voltadas para automotivo e linha branca. O produto é aplicado no setor naval, de óleo e gás (plataformas, gasodutos) e em máquinas agrícolas.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro, de São Paulo
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