A Usiminas acertou os últimos pontos pendentes com bancos japoneses e vai assinar hoje acordo definitivo com seus credores para reestruturação de sua dívida. Como já era sabido, os termos incluem carência de três anos até começar a pagar o principal das obrigações financeiras, além de um prazo de dez anos para amortização total da dívida.
Esse era o último dos obstáculos imediatos no lado financeiro da siderúrgica mineira, que a deixou na berlinda no primeiro semestre com a possibilidade de ser necessária uma recuperação judicial. O mercado espera e a diretoria também já informou que a prioridade agora é buscar eficiência de custos, melhorar mix e volume de vendas e, eventualmente, reajustar preço, para garantir geração de caixa.
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O que a companhia quer é chegar em 2019, quando volta a pagar o vencimento de suas dívidas, com o negócio encaminhado para por si só garantir esses recursos. Em entrevista ao Valor no mês passado, Sergio Leite, presidente do grupo, disse que o mínimo necessário para que a Usiminas seja sustentável é um Ebitda anual de R$ 1,2 bilhão no momento. A partir de 2018, já mira R$ 2 bilhões. Se anualizado, o Ebitda do primeiro semestre chegaria a R$ 222 milhões.
Agora, o executivo confirma que os próximos passos são no âmbito das operações da siderúrgica. "A conclusão desse complexo processo, que vem sendo conduzido ao longo dos últimos seis meses, marca um importante passo para a revitalização da Usiminas", afirmou, em nota. "Agora, a nossa gestão está completamente voltada para a melhoria dos resultados da empresa, fator fundamento para a sustentabilidade do nosso negócio."
Em relatório publicado na semana passada, o Santander opinou que apesar do respiro conquistado recentemente com o aumento de capital de R$ 1 bilhão e essa renegociação da dívida, a empresa necessita também de uma reestruturação operacional. O banco crê que ainda há "lição de casa" a ser feita, com economia de custos, gestão de capital de giro e de investimento e também na estratégia comercial.
Para o Bradesco BBI, a Usiminas pode se beneficiar da entrada em um ciclo de recuperação do mercado siderúrgico interno e seria a mais positivamente afetada nesse sentido, já que 85% de suas vendas são destinadas ao Brasil. Nos cálculos da instituição, a cada 5% de aumento nos volumes comercializados, o Ebitda saltaria cerca de 15%.
"Somos o principal fabricante de aços planos do país e temos as condições necessárias para continuar ocupando o lugar de destaque que é da Usiminas no setor", declarou Leite na nota à imprensa posterior ao anúncio da renegociação da dívida. Segundo ele, o acordo com os bancos e debenturistas solucionam grandes problemas do fluxo de caixa.
Mas a reestruturação do endividamento foi alcançada apenas com a anuência da empresa mineira a algumas exigências de seus credores. Em primeiro lugar, caso não acesse R$ 700 milhões de caixa da Mineração Usiminas (Musa), será possível pedir o vencimento antecipado das dívidas. Além disso, a companhia só poderá distribuir o mínimo de dividendos garantido por lei e, caso o faça, terá de estender a oferta também aos credores.
Também na entrevista realizada em agosto, Leite informou que resolveu algumas questões mais burocráticas com sua sócia na Musa, a japonesa Sumitomo, para conseguir essa parcela dos recursos de R$ 1,3 bilhão que ela detém. A Usiminas tem participação de 70%, com 30% pertencendo à Sumitomo. A expectativa é que o caixa seja embolsado no primeiro trimestre de 2017.
O acordo com Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Nippon Usiminas, Japan Bank for International Cooperation (JBIC), Bank of Tokyo-Mitsubishi, Mizuho Bank, Sumitomo Mitsui Banking Corporation e debenturistas da sexta emissão alonga 92% da dívida em renegociação, que era de R$ 6,3 bilhões. O endividamento bruto da companhia era de R$ 7,24 bilhões em junho.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo