Preços subiram cerca de 100%; revisão será trimestral e em julho haverá novo reajuste
SÃO PAULO - Depois de muita briga, a Vale concluiu a negociação para reajuste do preço do minério de ferro com todos os clientes, dentro e fora do Brasil. Mesmo as grandes siderúrgicas da Europa e da China, que acusaram a mineradora de abuso de poder econômico, aceitaram o aumento de cerca de 100% para todo minério comprado por elas desde o primeiro dia de abril. E, a partir de agora, esses preços serão revisados a cada três meses.
"O primeiro realinhamento, em 1.º de julho, já será automático", afirma José Carlos Martins, diretor executivo da Vale. As revisões trimestrais serão definidas pela média dos preços dos três meses anteriores, no mercado à vista. Mas a mineradora e seus clientes acertaram a criação de uma banda de flutuação de 5% para o preço. Se, ao final dos três meses, a cotação do minério subir ou diminuir dentro dessa banda, o preço não muda.
Segundo fontes do mercado, a Vale estaria cobrando de US$ 110 a US$ 115 por tonelada de minério de ferro, enquanto o preço no mercado à vista está na casa dos US$ 180. A próxima média, portanto, tende a ser maior. Martins não confirma os preços cobrados pela Vale, mas admite que eles poderão subir. "Pode ser. Vai depender da média até lá. Mas, se a cotação no mercado à vista baixar, nossos preços baixam junto."
De acordo com o executivo da Vale, algumas negociações foram fechadas com contrato assinado. Outras, principalmente, com os produtores chineses, foram feitos de maneira informal. "Eles não colocaram nada no papel. Apenas pagam o novo preço e pronto", diz Martins. Além disso, o reajuste para os fabricantes europeus foi um pouco menor que para os asiáticos.
"Essa negociação foi muito difícil no começo, por causa do salto nos preços", afirma o diretor da Vale. "O problema é que o preço antigo era irreal, foi decidido em meio à pior crise desde 1929, e a recomposição de um valor mais justo exigia esse salto no preço."
Ainda existe uma única pendência, segundo o executivo. Mas ela se refere a um acerto de contas referente ao começo do ano com uma grande siderúrgica da Europa (o nome ele não quis dizer), cujo contrato venceu em janeiro, e não em abril, como na maioria dos casos.
De acordo com Martins, a Vale pretende que essa empresa pague o reajuste desde janeiro, quando terminou o contrato antigo, mas ela quer pagar o preço novo apenas a partir de abril. Apesar disso, as novas compras dessa siderúrgica já foram feitas com base no novo valor.
Jogo de cena
O novo sistema de venda de minério de ferro da Vale acaba com um modelo que vigorou nos últimos 40 anos. Até o ano passado, as grandes mineradoras – a Vale e as australianas BHP Billiton e Rio Tinto – negociavam o preço todo começo de ano com as siderúrgicas e esse valor vigorava pelos doze meses seguintes. Com a crise global de 2008, a demanda por aço caiu, as vendas das siderúrgicas encalharam e elas romperam seus contratos com as mineradoras.
No caso da Vale, as siderúrgicas deixaram de pagar o valor do contrato e exigiram as cotações do mercado à vista, que eram mais baixas. Quando o mercado virou e os preços no mercado à vista dispararam, foram as mineradoras que se recusaram a abandonar essa referência.
As siderúrgicas acusaram as mineradoras de abuso de poder econômico e prática de cartel. Os grupos europeus chegaram a protocolar queixas na Comissão Europeia e entidades chinesas do setor siderúrgico ameaçaram as mineradoras com um boicote.
A própria Vale, por sua vez, acusou os produtores de aço da Europa de agir de maneira orquestrada e ilegal para mantê-la em desvantagem na negociação de preços. Tudo jogo de cena. Os novos preços já estão em vigor e ninguém mais reclama.
Fonte: David Friedlander, de O Estado de S. Paulo
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