O governo da província argentina de Mendoza promete liberar, "em breve", as obras da Vale na mina de potássio no município de Malargüe. Após uma reunião com diretores da mineradora, ontem, autoridades provinciais se disseram satisfeitas com o que ouviram. "Houve um ponto de entendimento", disse ao Valor o subsecretário de hidrocarbonetos de Mendoza, Walter Vásquez, sem dar detalhes nem prazos exatos. De acordo com o funcionário, faltam ainda complementações ao novo plano de investimentos apresentado pela mineradora que deverão ser entregues em "alguns dias".
Vásquez deixou claro que a Província tem interesse em manter o empreendimento, mas não abre mão dos compromissos assumidos pela Vale para o fim da suspensão - ocorrida desde o dia 17 - ao projeto Potássio Rio Colorado. "Depende só da Vale". O governo local acusa a empresa de ter descumprido os termos da licença para as obras. Ele e os demais funcionários receberam sinal verde do governador de Mendoza, Celso Jaque, para endurecer as negociações. O próprio Jaque declarou que a múlti brasileira não tem dado explicações "suficientemente claras".
Entre as queixas está o fato de que a Vale estaria contratando mão de obra local bem abaixo da exigência mínima de 75% do total. Empresas sediadas na região, como a metalúrgica Impsa, também teriam sido preteridas por fornecedores estrangeiros em grandes contratos - embora ofereçam serviços e equipamentos similares -, segundo autoridades de Mendoza.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, informou ao Valor que a empresa está empenhada em buscar uma rápida solução para reinício das obras desse projeto. Dois diretores - Francisco Cisne e Eduardo Ledsham - foram enviados à Argentina esta semana com a missão de se reunirem com autoridades locais e prestar-lhes todos os esclarecimentos necessários. "Não gosto de fazer previsões, mas estou muito otimista. Este caso merece esclarecimentos e, se ainda restar pontos de desentendimento, a Vale tem de ser humilde e tomar todas as providências necessárias."
Os pontos principais questionados, como a localização da sede do empreendimento, seriam esclarecidos nessa reunião. "Não há nenhuma dúvida da nossa parte que a sede do projeto é em Mendoza", garantiu, pontuando que Buenos Aires continuará a ser apenas um escritório para pesquisa mineral da Vale no país.
Em relação à contratação, o executivo reconheceu que o compromisso firmado pela Vale é contratar 75% de trabalhadores locais. Neste momento, informou, esse percentual ainda é de 73%, mas há um ano estava em 61%". "Até o fim do ano vamos atingir 82%." Segundo ele, o projeto está numa fase de arrancada - com menos de 10% de cronograma de obras - e por isso tem pouco pessoal empregado.
O projeto de exploração de minério de potássio de Rio Colorado, com aporte total de US$ 4,6 bilhões, em duas etapas, é o maior já feito por um grupo brasileiro na Argentina e posicionará o país como um dos cinco maiores exportadores de potássio do mundo. O mineral é uma das matérias-primas básicas na fabricação de adubos.
O presidente da Vale destacou a importância da empresa em contratar fornecedores locais para suprir o projeto com bens e serviços, em especial pequenas empresas. "Eu tenho como filosofia que temos que ter as melhores relações com os fornecedores locais. Temos que prestigiá-los, não só na Argentina, mas em todos os lugares onde a Vale tem projetos". Segundo ele, haviam sido fechados os grandes pacotes de fornecimento de serviços e equipamentos. Agora, serão priorizados contratos com pequenos e médios fornecedores locais.
"Tenho grande entusiasmo por esse projeto, pois o considero fundamental para as relações comerciais entre Brasil e Argentina", disse o executivo. Como toda a produção será destinada à exportação para o Brasil, dependente de 90% de compra externa desse produto, a balança comercial entre os dois países ficará mais equilibrada. "O benefício adicional desse empreendimento, o maior investimento da Argentina, é que ele gera um 'up-grade' na corrente de comércio entre os dois países".
Ferreira avalia que esse pequeno atraso devido à paralisação não vai afetar o cronograma. A primeira fase tem previsão de ficar pronta até o início de 2014, com produção de 2,4 milhões de toneladas de potássio. Essa é a etapa mais pesada do projeto, pois envolve, além da mina, a implantação da logística de escoamento. Há a construção de uma ferrovia de quase 800 km, a qual atravessará cinco províncias argentinas, e de um terminal marítimo no porto de Bahia Blanca.
O projeto prevê segunda fase, que elevará a produção para 4,3 milhões de toneladas, com conclusão prevista para 2017. Para 2011, a Vale previu em seu orçamento aplicar US$ 1,2 bilhão no Rio Colorado. Para Ferreira, prestar todas as informações, como ocorre com esse projeto, será uma regra no modelo de relações que a Vale quer ter em todos os seus empreendimentos, no Brasil e em outros países. "Uma empresa de mineração quando chega a algum lugar tem que bater na porta, pedir licença, entrar e sempre que houver algum mal entendido prestar todos os esclarecimentos. É absolutamente mandatório esse procedimento".
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner, Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro | De Buenos Aires e do Rio
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