A Vale deu ontem um sinal de que continua focada no esforço de redução de gastos. A empresa indicou, em apresentação a investidores em Belo Horizonte, que o custo de produção do minério de ferro entregue na China deve ficar, na média de 2015, entre US$ 37 e US$ 41 por tonelada. No primeiro trimestre, o custo registrado pela empresa foi de US$ 43 por tonelada. No Rio, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, reafirmou seu otimismo com o mercado chinês: "Acho que vamos ter um segundo semestre na China melhor do que o primeiro." Ele citou como bons sinais as quedas na taxa de juros desde o fim de 2014 e a redução dos níveis de depósitos compulsórios feita pelo governo chinês.
Em meio à valorização do minério de ferro, ao fortalecimento do dólar e às declarações de Ferreira, a Vale terminou o dia, ontem, como uma das principais altas da BM&F Bovespa. As ações ordinárias subiram 6,16%, para R$ 21,21, enquanto as preferenciais avançaram 4,77% e terminaram o pregão em R$ 17,80. O preço do minério chegou a US$ 65,10 por tonelada ontem, alta de 1,9%, por força da alta do dólar e pela continuidade do repique pelo qual a commodity passa nas últimas semanas. O mercado permanece cético, contudo, em relação a um período mais estendido de melhora na cotação.
Ferreira afirmou, antes de participar de um seminário sobre os Brics na Fundação Getúlio Vargas (FGV), que a produção de minério de ferro de alta qualidade pela China vai cair este ano. Era de 350 milhões de toneladas, há dois anos, passou para 240 milhões em 2014, e deverá fechar este ano abaixo dos 200 milhões. Disse que o mercado transoceânico de minério de ferro deve crescer de 1,39 bilhão de toneladas, no ano passado, para 1,44 bilhão de toneladas neste ano.
Produção de minério na China deve ficar em patamar inferior a 200 mi de toneladas este ano, previu Ferreira
Para Jessica Fung, analista de mineração da BMO Capital Markets, um corte tão relevante na capacidade chinesa é improvável. Até agora no ano, ela projeta redução de no máximo 8%, e lembra que uma redução maior teria de vir das grandes produtoras locais, "o que não faz muito sentido". "Ainda acreditamos que os preços vão cair mais a curto prazo, com a entrada no mercado de produção da Austrália e do Brasil, especialmente depois de algumas restrições de oferta em abril e maio."
Na apresentação para investidores, em Belo Horizonte, em evento da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), a Vale também reduziu sua estimativa para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do negócio de metais básicos. A previsão do Ebitda dos metais básicos em 2015 e em 2016 caiu de um patamar entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para uma faixa entre US$ 3,1 bilhões e US$ 4,6 bilhões. No mercado, os novos números foram considerados mais realistas pois ninguém mais acreditava na faixa de Ebitda anterior, divulgada no fim do ano passado, disse um analista.
A empresa também informou que quer chegar em 2018 com investimentos de US$ 4 bilhões. Em 2015, o nível de gastos de capital será de US$ 9 bilhões, caindo para US$ 7 bilhões no ano que vem e para US$ 5 bilhões em 2017. A previsão inicial para este ano era de um investimento pouco superior a US$ 10 bilhões, segundo orçamento aprovado no fim de 2014. As novas estimativas consideram um dólar médio de R$ 3.
Segundo a apresentação, o menor investimento se dará por conta da conclusão do projeto ferro S11D, de Carajás, no Pará, e do empreendimento de carvão em Moçambique. A Vale também disse que deve gerar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões em caixa com vendas de ativos em 2015. A venda de ativos é importante para a Vale para cobrir um fluxo de caixa negativo este ano, segundo projeções, resultante da perda de receita provocada pela queda nos preços do minério de ferro.
Fonte: Valor Econômico/Cristian Klein, Renato Rostás e Francisco Góes | Do Rio e São Paulo
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