A alta de preço das commodities exportadas e o aumento de desembarques provocado pelo crescimento do mercado doméstico foram os fatores que mais influenciaram os resultados individuais da balança comercial das grandes empresas.
A Vale foi a companhia com o maior saldo comercial positivo nas trocas internacionais em 2010. Alavancadas pelo aumento do preço do minério de ferro, as exportações da Vale atingiram US$ 24,04 bilhões. Com importações de US$ 762,3 milhões, o superávit da companhia foi de US$ 23,3 bilhões, superior ao superávit total do país de US$ 20 bilhões no ano passado. A Petrobras, que foi a segunda maior exportadora em 2010, teve saldo negativo nas trocas com o exterior. Com exportação de US$ 18,2 bilhões e importação de US$ 19,6 bilhões no ano passado, a companhia fechou o ano com déficit de US$ 1,4 bilhão, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Embora tenha reduzido suas vendas ao exterior em 2010, na comparação com 2008, a Embraer, quarta maior exportadora, fechou o ano passado com superávit de US$ 1,65 bilhão, resultado de exportações de US$ 4,16 bilhões e importações de US$ 2,51 bilhões.
A Vale obteve grande superávit em razão do aumento no valor das suas exportações. Os US$ 24,04 bilhões embarcados em 2010 representaram um aumento de 77,7% em relação 2008. A elevação no valor exportado foi propiciada principalmente pelo aumento de preços do minério de ferro, explica Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O minério de ferro passou por uma elevação de preço muito grande e isso teve influência maior no valor exportado do que o volume", diz ela.
Segundo dados do Mdic, a exportação brasileira total de minério de ferro aumentou em 10,4% em termos de volume em 2010, na comparação com 2008. O preço médio em 2008 foi de US$ 58,71, caiu em 2009, mas recuperou-se depois, fechando 2010 com preço médio de US$ 92,98 a tonelada - salto de 58,37% no período.
A Vale importa tradicionalmente valores relativamente baixos e seus investimentos estão voltados intensamente para a infraestrutura, o que também contribui pouco para a elevação dos desembarques, lembra José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Trajetória diferente segue a Petrobrás, que manteve no ano passado o saldo tradicionalmente deficitário nas trocas internacionais. Castro explica que a Petrobras provavelmente importou muito óleo leve em razão do consumo doméstico aquecido. Ele lembra que o óleo leve atualmente importado é mais caro que o petróleo mais pesado vendido ao exterior pela Petrobras, o que explica o seu frequente saldo negativo comercial.
Outro caso em que a importação em função de mercado doméstico aquecido provavelmente fez diferença, lembra Castro, é o da Braskem. Oitava maior exportadora e, ao mesmo tempo, segundo maior importador no ano passado, a Braskem fechou o ano passado com um pequeno déficit de US$ 69,2 milhões. Suas exportações totalizaram no ano passado US$ 2,47 bilhões, o dobro de 2008. As importações, porém, triplicaram no mesmo período, passando de US$ 847,6 milhões para US$ 2,54 bilhões.
O impacto da alta demanda interna se estende também a outros segmentos. De acordo com dados do Mdic, montadoras como Mercedes-Benz, Toyota, Volkswagen e Peugeot tiveram seus saldos positivos reduzidos ou seus déficits aprofundados de 2008 para 2010. Ford e Fiat passaram, no mesmo período, de superávits para saldos negativos.
A Ford, que teve em 2008 saldo positivo de US$ 184,5 milhões, terminou o ano passado com déficit de US$ 159,7 milhões. A italiana Fiat passou, no mesmo período de superávit de US$ 212,1 milhões para saldo negativo de US$ 61,3 milhões em 2010. As importações que a empresa passou a fazer a partir de 2009 da Argentina contribuíram para elevar as importações da companhia de US$ 818,6 milhões em 2008 para US$ 1,29 bilhão no ano passado.
"Para muitas, empresas, importar é mais barato do que produzir no mercado interno, principalmente quando se trata de importação dentro da mesma empresa", explica Castro. "E com o consumo doméstico aquecido a tendência foi direcionar a produção nacional principalmente para as vendas internas, sem tanto esforço para exportação." Em 2010, segundo dados do Mdic, os desembarques de automóveis de passeio totalizaram US$ 8,54 bilhões, o que representa crescimento de 59,9% na comparação com 2008.
Fabricantes de eletroeletrônicos, como Samsung, acabaram com grande aprofundamento do déficit. A coreana, que havia ficado com saldo negativo de US$ 1,37 bilhão em 2008, atingiu no ano passado déficit de US$ 2,18 bilhões. Aqui, explica Castro, fez diferença a importação de componentes destinados a produzir também para o mercado interno. No ano passado, a importação brasileira de circuitos integrados e microconjuntos eletrônicos totalizou US$ 3,99 bilhões, aumento de 74,8% em relação aos desembarques de 2008.
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo
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