Cada vez mais instituições globais de créditos estão adotando medidas restritivas às empresas que não cumprem requisitos mínimos de proteção à natureza. Mas a busca de investimento para seus projetos é apenas o fator de abertura dessa nova trincheira ao setor produtivo. Mesmo com dificuldades para mensurar o capital ambiental e seu impacto nos negócios, os primeiros passos para integrar a biodiversidade aos sistemas de gestão já foram dados. Muitos começam, inclusive, a multiplicar as experiências para além dos projetos-pilotos. Caso da Votorantim.
Às voltas com o Alumina Rondon, em Rondon do Pará, iniciativa que prevê a construção de um complexo industrial com refinaria integrada de alumina e lavra de bauxita, a companhia lançou mão de práticas que a ajudassem a definir critérios técnicos para valorar não apenas o impacto que causaria, mas as transformações para as comunidades do entorno e, até que ponto o negócio seria dependente dessas mudanças.
"Trata-se de um olhar diferente sobre o bioma, que está em constante modificação por conta das forças sociais", diz o gerente de sustentabilidade da Votorantim Industrial, David Canassa. "Com o treinamento de equipes foi possível transferir conhecimento para outras quatro localidades."
As plantas escolhidas foram a de siderurgia em Rezende, no Rio; a de cimento, em Primavera, no Pará; o Sistema Juquiá de Hidrelétricas, no Vale do Ribeira, em São Paulo; e a da Fibria, em Aracruz, no Espírito Santo. "O objetivo é estender a iniciativa para todas as áreas", afirma o executivo.
Ao fazer a conexão entre biomas saudáveis e lucro, é possível abrir novas oportunidades de negócios, além de promover práticas sustentáveis, conforme explica o professor Renato Soares Armelin, coordenador do Programa de Sustentabilidade Global do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas-EAESP. "Ao valorar o risco ambiental estamos reduzindo os prejuízos para a sociedade e aumentando o retorno para o investidor, simplesmente porque ajudamos a companhia a ser mais eficiente", explica.
Armelin destaca, porém, que não se pode confundir valor com preço. Segundo ele, preço nada mais é que referência para valor, e esse último envolve parâmetros não só econômicos, mas também éticos e socioculturais. "É algo complexo que está relacionado ao bem-estar de cada um."
Complexidade é o que não falta ao dia a dia da vice-presidente de assuntos corporativos do Walmart Brasil, Daniela De Fiori. O varejo é responsável por apenas 8% de todo o impacto ambiental da cadeia mas, por ser o elo entre a indústria e os consumidores, tem um grande potencial de mobilização, o que faz com que as ações propostas pelo setor tenham seu impacto amplificado. "O cuidado é redobrado", conta a executiva. "São 60 mil itens que chegam a uma única loja e não é fácil garantir que todos os fornecedores estão atuando dentro das boas práticas exigidas."
Adotar metodologias reconhecidas, buscar ajuda de ONGs e trocar experiências com outras empresas, porém, ajudou a companhia a auditar as cadeias de risco para a construção de um índice global de sustentabilidade, segundo a executiva.
No caso do Walmart, um bom exemplo é o projeto desenvolvido com a pecuária, que recentemente ganhou dois programas. Um deles permite a garantia sobre a origem da carne comprada no supermercado, graças ao sistema de monitoramento por satélite, que mapeia desmatamento, terras indígenas e unidades de conservação com informações de listas públicas de áreas embargadas e trabalho escravo.
Como as informações foram integradas ao sistema de compra de carne, a equipe comercial vai saber de forma rápida e precisa, antes de receber o pedido do frigorífico, se há algum risco ambiental ou social na compra de carne de determinada fazenda.
Além disso, o programa inclui o apoio aos pecuaristas da Amazônia para produção mais sustentável de carne. Em parceria com o frigorífico Marfrig e com a ONG TNC o Walmart dá apoio técnico a produtores rurais que queiram regularizar sua situação ambiental e aumentar sua produtividade.
Os municípios de São Félix do Xingu e Tucumã, no sudeste do Pará, foram os escolhidos para o projeto por causa do seu alto potencial de conservação e por sua crescente relevância econômica. A região concentra enormes trechos de floresta, distribuídas em áreas de proteção ambiental, terras indígenas e propriedades privadas. "É o município com mais cabeças de gado no país", diz Daniela.
É também no entorno de São Félix do Xingu, região dos Carajás, que a Anglo American mantém a Reserva de Jacaré, planta de níquel escolhida para modelar um projeto que pode vir a mudar toda a gestão da companhia. "São ações que vão gerar ganhos futuros para a empresa e para as comunidades", diz a gerente corporativa de desenvolvimento sustentável da Unidade de Negócio Níquel da Anglo American, Juliana Rehfeld.
Fonte: Valor Econômico/Rachel Cardoso | Para o Valor, de São Paulo
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