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Aço será gargalo

Demanda por aço para a indústria naval pelos próximos cinco anos será acima de 1,8 milhão de toneladas. Oferta no mercado interno tem de crescer

A demanda por aço naval pode atingir 1,854 milhão de toneladas pelos próximos cinco anos, considerando as encomendas já anunciadas para a construção de navios nos estaleiros brasileiros.  O volume, uma média de 370 mil toneladas por ano até 2015, é o resultado de estimativa de técnicos do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) e de estaleiros, coletados pela Portos e Navios.  Os petroleiros do Promef para a Transpetro ainda necessitarão de 556,4 mil toneladas de aço a serem adquiridos. Já os navios de apoio marítimo — cálculo para 120 unidades ainda sem encomenda — necessitarão de 250 mil toneladas. Os cascos de plataformas, um total de oito unidades, demandarão 200 mil toneladas. Os 39 petroleiros previstos para o programa EBN da Petrobras consumirão 450 mil toneladas. E as 28 sondas de perfuração precisarão de 400 mil toneladas de aço.

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A Usiminas, única siderúrgica no país a produzir o aço naval, venceu a licitação para fornecer 7,7 mil toneladas de aço para os quatro navios do Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef) em construção no Estaleiro Mauá. Em nota à imprensa no dia 13 de maio, a Transpetro ressaltou o evento: “Sempre afirmamos que a nossa preferência é comprar o aço no Brasil, desde que o preço seja competitivo em nível internacional. O resultado desta licitação sinaliza o começo de uma nova era na relação entre a Usiminas e a Transpetro, justamente no momento da retomada da indústria naval brasileira”, disse o presidente da Transpetro, Sergio Machado.

A Transpetro estima em 680 mil toneladas a demanda total de aço para as duas fases do Promef. Do volume já adquirido — 123,6 mil toneladas —, 40 mil toneladas foram produzidos pela Usiminas. O restante foi importado.

No segmento de chapa grossa, onde o aço naval está incluído, a Usiminas é produtora exclusiva no Brasil, conforme divulga no seu Relatório Anual 2009. Procurada pela reportagem de Portos e Navios para falar sobre a capacidade de atender a essa demanda, a Usiminas declarou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “vem passando por mudanças de gestão, inclusive com a troca do presidente. Em um momento delicado como esse, de mudanças, a empresa tem adotado maior cautela ao falar sobre estratégias comerciais, especialmente em mercados tão especializados como o naval”.

Nas publicações oficiais da Usiminas, o setor naval é apontado como um dos segmentos importantes do mercado. A empresa concluiu a montagem das estruturas metálicas dos módulos de compressão e geração das plataformas P-52 e P-51 e de geração da P-54. As estruturas metálicas para os módulos de compressão foram fabricadas em Ipatinga e montadas no Caju, Rio de Janeiro, e em Niterói. Estes projetos consumiram aproximadamente 4.930 toneladas de aço naval de alta resistência.

A produção de aço de alta resistência para setores da rede de fornecedores a sistemas de produção de petróleo do pré sal é uma das ações da Usiminas, com tecnologia da acionista Nippon Steel. Pela primeira vez fora do Japão serão aplicadas técnicas de resfriamento acelerado de chapas grossas.

A cautela da Usiminas pode ser entendida pela realidade da competição neste mercado. A Transpetro compra aço para seus navios em licitação internacional. Na última delas com a participação de siderúrgicas de cinco países. Até agora a participação da Usiminas nos fornecimentos para Transpetro foram modestos. A chapa grossa na receita líquida da Usiminas sofreu redução: passou de 26,2%, em 2008, para 18,9%, em 2009, segundo dados do Relatório Anual 2009.

A produção de aço da Usiminas caiu de oito milhões de toneladas, em 2008, para 5,6 milhões, em 2009. Segundo fontes dos estaleiros, a Usiminas nem sempre consegue atender à demanda, e a importação ocorre não mais por questão de preço, mas de disponibilidade de oferta. O Instituto Aço Brasil aponta uma redução de 21,9% no consumo de aço, em 2009, e o segmento de chapa grossa foi o mais afetado.

Segundo o Relatório Anual da Usiminas, a produção de aço para consumo industrial, onde se inclui a construção naval, representou 25% do total da produção de 5,6 milhões de toneladas. Portanto, a produção de chapa grossa, na Usiminas, em 2009, foi de 1,4 milhão de toneladas. A demanda de 370 mil toneladas ao ano, estimada para o setor de construção naval, representa uma relevante parcela da produção.

Como o aço é um componente de custo relevante no preço do navio, cerca de 20% a 25% (chapa grossa e perfis), o armador geralmente se envolve bastante nas negociações de compra. A indústria de construção naval precisa contar com uma oferta local competitiva de aço, já que esse fornecimento é essencial para que o Brasil possa competir no mercado mundial, afirmam técnicos dos estaleiros. Há expectativa de que novas usinas siderúrgicas entrem no mercado para competir com a Usiminas no segmento de chapa grossa.

O Sinaval informa nas apresentações do seu comitê de navipeças que são fornecidos localmente a chapa classificada (ASTM A131 gr.A; AH32; AZ e DH32), perfis classificados e perfis fabricados (dobramento ou solda) e tubos de uso estrutural. Precisam ser importados, por falta de fornecimento local, perfil bulbo e perfis especiais.

O Instituto Aço Brasil informa, em seu boletim de abril de 2010, que a produção acumulada em 2010 totalizou 10,7 milhões de toneladas de aço bruto e 8,4 milhões de toneladas de laminados. Isso significou aumento de 58,6% e 70,6%, respectivamente, sobre o mesmo período de 2009. Nos últimos 12 meses, até abril, a produção de aço foi de 30,4 milhões de toneladas. As exportações de produtos siderúrgicos atingiram, de janeiro a abril de 2010, 2,8 milhões de toneladas e US$ 1,6 bilhão, o que representa aumento de 34% em volume e de 16% em valor, quando comparado ao mesmo período do ano anterior. Até abril de 2010, foi importado 1,8 milhão de toneladas de produtos siderúrgicos em um ano, 155,7% acima do mesmo período do ano anterior.

A produção mundial de aço bruto é de 1,3 bilhão de toneladas, sendo cerca de 650 milhões de toneladas produzidas na China. O Brasil ocupa o nono lugar na lista dos maiores produtores, com uma produção de 33 milhões de toneladas. Na frente do Brasil estão a China, o Japão, os EUA, a Rússia, a Índia, a Coreia do Sul, a Alemanha e a Ucrânia. A produção siderúrgica no Brasil é realizada por 13 empresas privadas, controladas por oito grupos empresariais, que operam 27 usinas distribuídas por 10 estados brasileiros.

O consumo de aço naval por estaleiros brasileiros é modesto no panorama mundial.  O maior construtor naval mundial, o estaleiro Sul coreano Hyundai Heavy Industries, consome 650 mil toneladas de aço naval ao ano. A nova usina siderúrgica da Hyundai Steel, em Dangjin, vai direcionar 65% da sua produção para o estaleiro. O exemplo da Coreia do Sul demonstra a estreita relação entre estaleiros e indústria siderúrgica para alcançar expressão internacional no setor de construção naval.



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