Apesar de movimentos divergentes, setembro foi mais um mês de resiliência das principais commodities industriais. Mesmo o minério de ferro, que recuou no período, conseguiu sustentar patamar acima dos US$ 55, algo que há alguns meses era impensável para os analistas.
No caso do petróleo, mesmo com o contínuo aumento no número de sondas exploratórias nos Estados Unidos e a expectativa de que o excesso de oferta perdure por mais tempo do que se acreditava anteriormente, o acordo fechado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) garantiu valorização.
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O segundo contrato do Brent fechou ontem a US$ 49,81 na ICE Futures de Londres, o que representa alta de 6% no mês até então. No caso do WTI, o avanço é de 5% na Nymex, de Nova York, para US$ 48,40. No terceiro trimestre, o ganho é menos intenso, de 2%.
Se o acordo ajudou a impulsionar a cotação - em boa parte por conta de especuladores -, analistas garantem que no mercado físico o efeito será próximo a nulo. O cartel acertou congelar a produção em nível entre 32,5 milhões e 33 milhões de barris diários, mas só vai formalizar os termos no fim de novembro.
Para o alemão Commerzbank, a medida não vai funcionar porque a Opep não tem mais a força de antes para conseguir influenciar os preços. Em relatório, a instituição afirma ter convicção de que as nações participantes não vão cumprir o acordo. Um esclarecimento, por exemplo, sobre como será punido quem "trapacear" não ficou claro.
"Mas o mais importante de tudo é que a volta para a velha estratégia da Opep de controlar preços por volumes não vai mais funcionar", diz. Por isso, o banco classifica como errado o plano adotado há dois anos, quando a Arábia Saudita decidiu acelerar a produção para tentar tirar mercado dos Estados Unidos.
O analista Thomas Pugh, da consultoria Capital Economics, não vê mudança substancial na dinâmica entre oferta e demanda por conta do acordo. Ele ainda ressalta que no passado a Opep desobedeceu seu próprio sistema de cotas, o que eleva o ceticismo do mercado.
Pugh também afirma que qualquer corte na oferta e consequente recuperação dos preços acende o sinal verde no xisto americano, encorajando maior produção. "Os operadores do xisto provavelmente aumentarão a marcha na produção se os preços se aproximarem demais dos US$ 50", lembra Norbert Rücker, analista do banco suíço Julius Baer.
O problema é que mesmo esse nível de produção congelada está muito próximo ao recorde histórico da Opep. Isso tem estendido as projeções de saturação do mercado para a segunda metade do ano que vem.
Já o minério de ferro tem queda no mês até ontem. A baixa é de 5% em setembro, para US$ 56,10 a tonelada, segundo a "The Steel Index". O insumo com 62% de pureza, contudo, sobe 3,5% no trimestre no porto de Tianjin.
Com a contínua retomada da produção siderúrgica chinesa em meio a estímulos locais à economia, a commodity tem demonstrado resistência nos níveis atuais, mesmo com projeções de baixa desde o começo do ano.
Segundo a Worldsteel Association, a China encontra-se em ritmo anualizado de 823 milhões de toneladas em produção siderúrgica, contra 803 milhões de toneladas fabricadas em 2015 como um todo. Isso é resultado dos anúncios no país de maior investimento em infraestrutura, para tentar conter a desaceleração econômica.
Mas agora, a partir dos primeiros dias de outubro, a demanda por aço e, consequentemente, por minério de ferro começa a arrefecer no gigante asiático por razões sazonais. Melinda Moore, diretora de recursos naturais do ICBC Standard Bank, calcula que o potencial de queda nos preços do minério é de 10% até dezembro apenas por esse motivo.
Durante a semana, o banco Jefferies publicou um relatório no qual se mostrava mais animado quanto à possibilidade de disciplina de oferta por parte das grandes mineradoras, o que sustentaria por mais tempo os preços. Jessica Fung, analista da BMO Capital Markets, discorda. "Esse movimento no máximo torna a queda mais lenta, mas a cotação ainda vai cair, sim", diz. Para ela, o mercado transoceânico continuará saturado por no mínimo cinco anos.
O otimismo do Jefferies no lado da oferta é baseado essencialmente na sinalização da Vale de postergar em cerca de dois anos a curva de aprendizagem do projeto S11D, em Carajás (PA), que entra em operação no ano que vem. "Isso no máximo belisca o lado da oferta, não é maior disciplina", opina Carsten Menke, analista do Julius Baer. "O risco de se administrar a produção assim é o ânimo que produtores de alto custo terão para voltar ao mercado."
Os metais não ferrosos também vivem bom momento, com destaque especial para o níquel. O governo das Filipinas - maior produtor global da commodity -, após uma auditoria em todas minas do país, decidiu fechar algumas operações. Todos os empreendimentos paralisados correspondem a cerca de metade da produção local.
O metal subiu 6,6% até ontem na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês), para US$ 10.435 a tonelada. Já o cobre avançou 5%, para US$ 4.841, o alumínio, com 3,2%, para US$ 1.674, e o zinco registrou ganhos de 2%, para US$ 2.356. No trimestre, os avanços mais significativos são do zinco, de 12%, e do níquel, de 10,5%. O alumínio sobe 2%.
Fonte: Valor