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Águas tranquilas

Sorenav lança o ‘Guapuruvu’ e investe na expansão de sua planta

Estaleiros especializados em embarcações de pesca, passageiros e serviço apontam para um 2010 com mais investimentos e projetos

Passada a crise que abateu os mercados financeiros internacionais, os estaleiros especializados em embarcações de serviço, pesca e transporte de passageiros no Brasil se preparam para os próximos acontecimentos. A maioria dos empresários afirma

que, apesar do clima instável que dominou o final de 2008 e o primeiro semestre de 2009, o ritmo de encomendas e projetos foi mantido. Mais animados com 2010, há consenso sobre novas encomendas.

Com uma carteira de encomendas recheada de encomendas principalmente do segmento de apoio portuário, o estaleiro catarinense Detroit Brasil não tem do que reclamar. Mesmo com a crise fechou no início do ano uma encomenda de 11 rebocadores azimutais para a Vale sendo que o primeiro foi entregue em setembro último e os demais serão entregues até 2011. Já a Tranship encomendou seis LH 3000. As embarcações têm comprimento total de 29 metros, boca de 9,6 metros e potência de 3.000 CV. Dos seis barcos, cinco estão contratados à Chevron, Petrobras e Transpetro, todos para operação na Bacia de Campos.

José Galizio Neto, diretor da Intech Boating, é de opinião que a crise passou ao largo da indústria naval brasileira de médio porte. “Podemos dizer que 2009 foi um excelente ano para nós, pois além de ocupar toda a capacidade instalada ainda pudemos investir no desenvolvimento de novos produtos, modelos administrativos e infraestrutura. Para 2010 nossas expectativas são bastante otimistas”, completa. Atuando no segmento de lanchas em fibra de vidro, o estaleiro entregou cinco unidades IB 360 Patrulha, para patrulhamento e fiscalização costeira e uma lancha IB 360 Pilot, para operações de praticagem, apoio portuário e transporte de tripulações. Em dezembro, a Intech Boating entregará mais três unidades da IB 360 Patrulha.

O estaleiro possui área total de dois mil metros quadrados e processa exclusivamente compósitos de fibra de vidro. Sua capacidade instalada é de uma lancha/mês e está investindo para reduzir o ciclo produtivo para 22 dias.

Já o TWB, que constrói ferry-boats para travessia de passageiros e barcos para pesca em Itajaí (SC), considerou 2009 um ano bom.

No estaleiro Cassinu, no Rio de Janeiro, o ritmo de encomendas foi melhorando ao longo do ano. “Entregaremos um rebocador em dezembro. Tudo foi se ajustando a partir de abril, depois que a crise passou. O final de 2008 foi muito ruim, mas não chegamos a ter desistências de nossos clientes. Alguns deles pediram para postergar suas encomendas por cinco ou seis meses, mas ninguém chegou a cancelar pedidos”, comenta Antonio de Santanna, presidente do estaleiro.

O estaleiro São João, localizado na Amazônia, está com boas perspectivas, segundo seu diretor Danilo Coutinho. “Até junho, estávamos com seis obras para embarcações de 1,5 mil toneladas e balsas. Ainda aguardamos o retorno do orçamento de clientes, como um pedido de um cais flutuante. Houve uma recuada até junho por causa da crise, mas agora a produção está ativa”, contou Coutinho, que aponta o financiamento como a principal dificuldade para a evolução dos estaleiros de pequeno e médio porte.

O estaleiro gaúcho Sorenav, que operava somente com reparos de embarcações desde 1995, não se importou com o ambiente de crise e investiu para adaptar a planta e passar a construir embarcações. Antes mesmo da conclusão das obras os resultados aparecem: “Acabamos de entregar o navio tanque Guapuruvu, da Navegação Guarita S.A, que vai operar com cargas do Pólo Petroquímico de Triunfo (RS)”, explica o diretor Luiz Antônio Henriques da Silva.

Além do navio, a Sorenav já entregou em 2009 uma balsa de transporte de veículos, para a travessia entre as cidades de São José do Norte e Rio Grande, o maior porto da região. “Também entregamos o catamarã Martin Pescador de 70 lugares e um navio escola para uma ONG. Ainda somos muito fortes em reparo, já estamos com a agenda cheia para 2010. No ano que vem, vamos inaugurar efetivamente o setor de construção. No momento, estamos trabalhando na restauração do guindaste do porto de Rio Grande, no valor de R$ 3 milhões”, conta Henriques.

Segundo Gil Bezerra, presidente do estaleiro Indústria Naval do Ceará (Ina-ce), durante o ano de 2009 a empresa não sofreu com a crise, pois contava com encomendas feitas antes, quando o mercado ainda estava aquecido. O desafio agora é reconquistar os clientes no setor de iates, mais afetados pela crise. Além do iate Beyond, entregue em setembro, desde que a crise começou o Inace entregou dois outros, já encomendados antes. Alguns novos projetos foram interrompidos”, explica Bezerra. Contratado por US$ 4,39 milhões pela empresa inglesa Floresco Ltd, em 2007, o Beyond tem autonomia de quatro mil milhas náuticas e alcança 12,5 nós de velocidade.

O Inace também entregou em setembro a lancha aviso Patrulha Dourada à Marinha do Brasil.

Com capacidade para seis passageiros, a lancha patrulha tem 22,80 metros de comprimento total, boca moldada de 5,5 metros, e pode alcançar até 27 nós de velocidade. Ela é a segunda de uma encomenda de cinco que será totalmente entregue até setembro de 2010. O investimento médio é de R$ 2,5 milhões por unidade.

“O mercado europeu está em baixa e para o Brasil pode ser interessante focar em novos mercados como a África. Estamos negociando novas encomendas para a Marinha de Angola e da Mauritânia”, conta Bezerra, lembrando que no primeiro semestre o estaleiro concluiu a obra de um navio patrulha de 250 toneladas para a Marinha da Namíbia.

Em 2009 não surgiram novas encomendas, mas o estaleiro não deixou de investir em modernização. “Aumentamos as portas pantográficas, o setor de soldagem foi modernizado. Tivemos os projetos reestruturados, melhoramos a marcenaria e a serralheria, para produzir nosso próprio mobiliário. Investimos cerca de R$ 10 milhões entre 2008/2009. Para 2010 contamos com pedido de financiamento do Fundo da Marinha Mercante para construir um dique flutuante. Novas ampliações dependem de mais investimentos. Nosso custo fixo é alto, diferente de quem é só montador, mas ao mesmo tempo, garantimos maior velocidade no processo de confecção das embarcações”, afirma Bezerra.

O estaleiro Cassinu também espera a liberação do financiamento do FMM para ampliar suas instalações. Atualmente com dois estaleiros funcionando no Rio de Janeiro e no Guarujá (SP), o estaleiro quer ampliar a planta, que processa 100 toneladas de aço por mês. “Estamos com um terceiro estaleiro em construção que terá 30 mil metros quadrados, e construiremos em 2010 um quarto estaleiro, com 10 mil metros quadrados, onde investiremos cerca de R$ 70 milhões”, explica o presidente Antonio de Santanna.

O Intech Boating vem investindo no corpo de funcionários e em equipamentos. José Galizio destaca dentre eles a cabine de pintura, a aplicadora de gel coat e a frezadora CNC. Já Danilo Coutinho, do estaleiro São João, pensa em investir na ampliação da planta, que hoje conta com três carreiras de 300 metros, numa área total de 68 mil metros quadrados. Sua capacidade de produção de aço está em oito mil toneladas ao ano.



Crise. José Galizio, da Intech Boating, lembra que acompanhou a crise com atenção, mesmo com muito trabalho em casa. “Não fomos atingidos diretamente, duplicamos nosso quadro de colaboradores e seguimos investindo em novos mercados. Crise é para nós o momento de sermos mais eficientes e criativos, procuramos estar com nosso planejamento à frente e sempre com um quadro seguro e lastreado.”

Já Henriques, do Sorenav, acredita que a crise já passou pelo setor naval. “Vivemos uma realidade pitoresca: em 2006/2007, quando não se falava em crise global, nós tivemos queda do trabalho por causa da crise na produção de granéis, que tem destaque na região Sul do Brasil. Para nós, a crise foi antes”, completa.

No TWB, prudência foi a palavra de ordem durante a crise. “Buscamos manter uma rigidez patrimonial, mas sempre olhando oportunidades que poderiam surgir, mesmo preocupados com a crise. Foi bom ficar com poucas obras, mas com tranquilidade para trabalhar. Se investisse pesado antes, talvez estivesse com problemas com a crise”, conta Walter Boschini, diretor comercial do estaleiro. Ele lembra ainda que parcerias internacionais que estavam em andamento foram interrompidas. “Em 2008, grupos ingleses, espanhóis, holandeses e gregos queriam estabelecer parcerias conosco. Estas negociações esfriaram por causa da crise, mas já temos algumas conversas retomadas”, conclui, acrescentando que almeja a construção de embarcações de apoio offshore e acompanha com atenção as encomendas que estão sendo feitas pela Petrobras.

Ele aproveita os indícios de final da crise e planeja para além de 2010. “Estamos fazendo um planejamento de cinco anos. Queremos ampliar nosso cais, com um investimento de R$ 40 milhões, em parceria com investidores internacionais”. O grupo também tem vontade de construir um outro estaleiro de mesmo porte, na Bahia, de olho no pré-sal e na ampliação da construção naval naquela região.

Henriques, do Sorenav, faz planos para a próxima edição da Navalshore, que acontece em agosto. “Em julho de 2010, esperamos inaugurar nossa área fabril e lançar durante a Navalshore. Nosso investimento deve ser em torno de R$ 4 milhões, para o qual pedimos financiamento do Fundo da Marinha Mercante”, completa.

O segmento de embarcações de serviço é o que mais deverá apresentar crescimento entre os estaleiros de médio porte, concorda o professor Delmo Alves, da USP. “A crise não atropelou o setor, que tende a crescer com os investimentos da Petrobras em função do pré-sal”. No Intech Boating, o foco será no desenvolvimento de produtos para o mercado offshore, como uma lancha de casco planante de 15 metros para transporte de tripulações, fiscalização em mar aberto e apoio portuário, com alta velocidade (40 nós). “Estamos em fase de projeto com previsão de conclusão em meados de 2010”, explicou Galizio.

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