Assinatura de contratos, perspectiva de compras pela Petrobras e sessões de inovação entre Brasil e Reino Unido trouxeram otimismo aos profissionais e empresários que se reuniram na Marintec 2017 para discutir a nova realidade da indústria naval e offshore
O recente anúncio do governo federal, que planeja realizar cinco grandes leilões de petróleo, entre 2017 e 2018, para atrair novos investidores para o setor de óleo e gás nacional e R$ 60 bilhões em investimentos, trouxe ânimo para a indústria naval. Esta semana, a Marintec South America 2017, realizada no Rio de Janeiro, cidade berço da indústria naval brasileira, funcionou como importante termômetro para o mercado e mostrou que o setor está reagindo.
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Depois de três dias de intensos debates, networking, prospecção de negócios e oportunidades de qualificação para os profissionais da indústria naval, armadores, estaleiros, fabricantes e fornecedores, o saldo da realização da 14ª edição da Marintec não poderia ter sido melhor. Os profissionais que compareceram ao evento tiveram acesso a 63 palestras e três workshops gratuitos e conheceram produtos, serviços e inovações de 350 marcas nacionais e internacionais. Só nos dois primeiros dias de feira, a Marintec recebeu mais de 3.500 visitantes.
Já no primeiro dia do encontro foi anunciada a assinatura de um acordo plurianual entre a as empresas Intelsat e Mareste Equipamentos e Serviços de Telecomunicações para iniciarem serviços de comunicação conjunta através do satélite Galaxy 28. Os serviços da Mareste serão prestados em embarcações de pequeno porte, como navios de pesca, lazer e outros serviços nas áreas costeiras do Brasil, Peru, Argentina, Chile e Uruguai. Os equipamentos foram especialmente projetados para ocupar pequenos espaços nas embarcações e para atender suas necessidades.
Uma sessão de inovação promovida pelo Reino Unido também durante a Marintec 2017 reuniu importantes players internacionais para tratar de novas tecnologias para o mercado brasileiro e incentivar o fomento de parcerias estratégicas entre os países. Na ocasião foi lançado um programa de educação profissional para compras e suprimentos para a indústria marítima, promovido pela Associação Internacional dos Compradores Marítimos (IMPA), instituição com sede na Inglaterra.
A Petrobras também participou da sessão promovida pelo Reino Unido e destacou o objetivo da companhia em aumentar as contratações de embarcações de apoio marítimo e offshore. De acordo com o gerente setorial de Gestão Logística da Petrobras, Diego Moreira, a companhia estuda há algum tempo substituir os helicópteros que transportam os colaboradores até as plataformas offshore por embarcações que façam o mesmo, pois as aeronaves têm custos muito altos.
Inovação - No último dia de evento o potencial de inovação da indústria naval brasileira para a competitividade do setor também ganhou espaço no seminário realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (ABENAV).
O superintendente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP), Carlos Camerini, defendeu o desenvolvimento constante de tecnologias para a indústria naval e offshore. “Devemos investir em inovação frequentemente, é um diferencial do Brasil. Tivemos a prova em 2015, quando a Petrobras foi eleita a melhor companhia offshore do mundo. Entre os fatores essenciais para essa escolha, estavam as tecnologias desenvolvidas pela empresa, que serviram de modelos para outras companhias globais. Foram diversas inovações nos últimos anos, como sensores óticos, serviços de inspeções submarinas, bóias oceanográficas, sistemas de escaneamento por laser submarino, veículos de inspeção intra-tubular, entre muitas outras”, disse.
Quem também reforçou o quanto é relevante que as companhias do mercado marítimo encarem a inovação como um diferencial competitivo foi o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Antonio Iacono. “Atualmente, sem a tecnologia não chegamos a lugar nenhum e na indústria naval não é diferente. Não podemos negar que a tecnologia e a inovação são os principais fios condutores da competitividade e que o mercado marítimo tem muito potencial para evoluir ainda mais nesta questão”, completa.
Treinamentos gratuitos movimentam os três dias de evento
Durante a 14ª Marintec, um evento em especial chamou a atenção dos profissionais do setor, os treinamentos gratuitos promovidos pelo Grupo RINA, uma das principais companhias de capacitação e qualificação do país. O RINA opera no Brasil desde 1994, desenvolvendo e oferecendo serviços de classificação de navios, certificação, verificação de conformidade, inspeção e testes. Na Marintec, já é a segunda vez que a empresa oferece qualificação profissional gratuita.
Realizados em todos os dias de feira, sempre a partir das 17h, os cursos oferecidos que pelo RINA abordaram temas atuais e relevantes para a indústria naval e offshore, tais como, introdução às certificações de antissuborno e compliance, classificação e certificação e a introdução ao gerenciamento de água de lastro.
“Os treinamentos que promovemos durante a Marintec obtiveram ótima adesão dos profissionais do setor. Tivemos o prazer de contar com as salas cheias, com uma média de 60 profissionais”, salienta o diretor da companhia no Brasil, Maurizio Nigito.
Ainda segundo Nigito, a resposta dos participantes foi grande e muitos já demonstraram interesse em participar de outros treinamentos da Instituição. “Ficamos muito felizes com os resultados”, finaliza o executivo.
Apoio Marítimo: Debates marcam o terceiro dia de painéis
“Nossa atividade depende de uma regulação forte, que garanta regras claras para que a concorrência seja justa”. Com esta afirmação, Luis Fernando Resano, vice-presidente do Sindicato Patronal das Empresas de Navegação Marítima Comercial, Syndarma, abriu o debate sobre o panorama da navegação de apoio marítimo, os aspectos regulatórios e os principais desafios e perspectivas do setor. O encontro aconteceu no último dia de realização da Marintec South America, principal evento da indústria naval.
“Temos a lei 9432/97, que é moderna e flexível e que inclusive determina que o capital a ser investido no afretamento ou na construção de embarcações pode ser estrangeiro. Mas o que é imperativo é ter as mesmas regras e condições para todos”, argumenta Resano.
A vice-presidente executiva da ABEAM (Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo), Lilian Schaefer, reforça também a importância de uma comunicação fluente com a ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). “Temos uma mudança importante no cenário do apoio marítimo, com a perspectiva da entrada de outras empresas contratantes no setor offshore. Até agora contávamos apenas com a Petrobras, que ainda representa 90% dos contratos em vigência. Além disso, estamos acompanhando a discussão em torno da exigência de conteúdo local, que vai impactar também o nosso segmento. Ou seja, é um momento delicado, de muita expectativa”, diz.
Lilian comenta também sobre o pleito encaminhado pelo setor à ANTAQ para rever as normas que regulamentam os contratos de afretamento diretamente entre companhia de navegação e contratante. “Hoje, a Petrobras muitas vezes define a relação comercial com contratos de prestação de serviços, que tem outras regras e normativas e não é adequado para o tipo de operação e fragiliza a segurança jurídica da atividade. Sem segurança jurídica não há investimento. Sem regras claras, ninguém entra no jogo”, sentencia vice-presidente executiva da ABEAM.
Expositores têm expectativas superadas
“A Marintec de 2017 foi bem organizada como sempre, aliás, a qualidade das empresas expositoras permanece. Sem contar o fluxo de visitantes muito bom. Tudo isso comprova, mais uma vez, o foco de negócios que o evento possui. Dos três últimos anos, esta foi a melhor edição. Superamos nossas expectativas”. A afirmação é do Managing Director da Mackay Marine, André Britto.
A meta da Mackay Marine, que tem menos de um ano operando no Brasil, é crescer e ganhar espaço no país. “Nós acreditamos no mercado brasileiro e no potencial de negócios que possui. Não temos dúvidas que conseguiremos atravessar este momento crítico que o país enfrenta de forma sólida e consciente”. A empresa, além de expor seus produtos e serviços na feira, também compartilhou com os participantes a sua expertise sobre tecnologias de comunicação à bordo durante uma palestra no “Espaço Inovação”.
Quem também está em busca de aumentar sua participação no mercado é a Vulkan Brasil. Segundo a diretora de Marketing e Vendas da Vulkan Brasil, Elisângela Melo, a participação da empresa na Marintec é determinante para que a companhia marque presença junto aos mais importantes players do setor e profissionais da indústria naval e offshore. “São essas razões que nos permitem continuar atingindo nossos objetivos há praticamente uma década participando do evento. Queremos aqui aumentar nossa base de parceiros e exibir nossas soluções para os mais diferentes segmentos”, ressalta.
Para o gerente comercial da Centa Transmissões, James Von Urban, o fato do setor começar a se estabilizar novamente, faz com que o executivo acredite que, em um curto prazo, os primeiros sinais de melhora e um leve aquecimento do setor sejam perceptíveis. “Se bem trabalhado, o mercado irá nos direcionar para uma verdadeira recuperação”, diz.
A Centa Transmissões participa da Marintec há mais de seis anos e, de acordo com Urban, vem atingindo os objetivos de prospectar clientes e mostrar seu portfólio de produtos e soluções aos players do setor, além de apresentar a sua expertise ao mercado. “O evento sempre tem um bom número de visitantes. São fatores como este que nos fazem ter presença constante”.
Outra presença cativa no evento é a da Radiomar - Soluções Eletrônicas Navais. Segundo o diretor comercial da empresa, Fabiano Cantarino, mais uma vez a Marintec atendeu suas expectativas. “Novamente o evento está muito bem organizado, conseguimos realizar importantes reuniões com nossos parceiros e que podem se tornar negócios. Estamos muito satisfeitos com a feira, tanto é que já renovamos para o próximo ano”.
Já o gerente comercial para a América Latina da Tecnofink, Emerson Teixeira de Paula, além de reforçar a influência positiva da Marintec para a geração de negócios e para a projeção da imagem da Tecnofink de empresa sólida, com inovações e soluções, destaca o quanto o mercado naval é importante para a companhia. “Sabemos quando os contatos vêm em função da feira, acredito que muito em breve fecharemos alguns negócios para crescermos no setor naval”.
Paula ressaltou também que, como o principal foco da Tecnofink é a indústria, será muito importante ter no evento a diversificação que a MANUTEC tende a proporcionar - referindo-se ao anúncio da UBM Brazil, que realizará em 2018, paralelamente à Marintec, a MANUTEC - Feira Manutenção e Utilidades Industriais.
A MANUTEC foi pensada exatamente para atender a demanda das empresas por produtividade e eficiência, abrindo a cadeia de fornecedores de peças, suprimentos, tecnologia e soluções industriais capazes de dar suporte a todos os tipos de produção e oferecendo o que há de mais moderno para a gestão de água, resíduos, energia, além dos todas as vertentes da manutenção em plantas industriais. “Para nós será ótimo ter a MANUTEC. Se já no primeiro ano de realização do evento tudo der certo, esta feira tem tudo para ser muito forte no mercado industrial”, conclui o gerente da Tecnofink.
Visitação mantém-se qualificada até o final do evento
Reforçando o discurso dos profissionais que estiveram presentes nos dois primeiros dias de Marintec, o último dia manteve a tendência de visitação qualificada e ávida por novidades e tecnologias.
“É a primeira vez que venho à Marintec e só tenho elogios, pois assim que entrei percebi que aqui encontro as últimas novidades do setor naval. Com certeza irei retornar nas próximas edições”, afirma o engenheiro químico Thiago Silva Lisboa.
O representante da E-Crane Guindastes no Brasil, Francisco Soares, concorda. “Sem dúvida a Marintec é o local em que podemos acompanhar as principais tendências do mercado marítimo sul-americano”.
O project manager da Infinit Brasil, James Tavares, destaca a importância do setor naval para o segmento de telecomunicações. “Sempre visito a Marintec, pois é o único evento que reúne todas as inovações do segmento de telecomunicações da indústria naval. Por isso, esta sempre foi a principal feira do setor e novamente não deixou a desejar”, destaca.
Por fim, o oficial técnico da Gran Energia, Naomi Sinhori, acrescenta. “Sempre que posso venho à Marintec e este ano está ainda mais interessante, com muitas novidades. Aqui consigo me atualizar das últimas tendências do mercado sempre que retorno de meses em alto mar”, completa.
Próxima Edição - A 15ª Marintec South America, principal evento da América do Sul dedicado aos setores de construção naval, manutenção e plataformas offshore, em 2018, será realizada de 14 a 16 de agosto, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro (RJ). E a novidade da edição será a realização da MANUTEC - Feira Manutenção e Utilidades Industriais.