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Índice de aprovação no sistema de certificação de inspetores de soldagem tem sido de apenas 20%. Falta de experiência e eficácia dos cursos estão entre causas da reprovação

 

Inspecionar e supervisionar atividades de caldeiraria e soldagem em tubulações e estruturas metálicas; qualificar procedimentos de soldagem e soldadores; verificar material de base e consumíveis; exercer o controle da qualidade através da inspeção de procedimentos de fabricação, preservação do meio ambiente e segurança do trabalho.

Estas são algumas das atividades atribuídas aos inspetores de soldagem. Além da formação escolar, nas obras da Petrobras, por exemplo, é exigida também a certificação de profissionais pela Fundação Brasileira de Tecnologia da Soldagem (FBTS), único órgão acreditado para certificação de pessoas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). No entanto, dados da fundação apontam que o índice de aprovação no Sistema Nacional de Qualificação e Certificação de Inspetores de Soldagem tem sido de apenas 20%. Em uma atividade de suma importância para o setor, quais seriam as razões para que essa taxa seja tão baixa?

 

De acordo com o superintendente de Certificação da Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico da  FBTS, José Alfredo Barbosa, um dos motivos é a falta de experiência na área. Para ele, o conhecimento prático é um dos fatores importantes para que o aluno possa ser bem-sucedido durante a atividade. “O candidato pode até fazer o curso, mas é importante que busque uma boa experiência na área para depois tentar o processo de certificação”, diz.

Em algumas instituições de ensino, a maior parte dos alunos que faz o curso de inspeção em soldagem não tem contato com a área. É o caso da própria FBTS, que oferece o curso desde 1983. A inspeção de soldagem foi a primeira atividade da instituição em razão da necessidade de formação de profissionais para inspecionar a construção das plataformas da Bacia de Campos.“Em média, cerca de 60% dos alunos que fazem o curso não têm experiência. Por não terem trabalhado na área ainda, nem todos os candidatos que fazem o curso estão aptos a dar entrada na qualificação”, constata o superintendente de Desenvolvimento de Cursos e Gestão Tecnológica da FBTS, Marcelo Pereira.

Para um inspetor de soldagem solicitar sua certificação, é necessário, entre os pré-requisitos, atender a uma relação entre experiência e escolaridade. À medida que a escolaridade aumenta, diminui a exigência em relação à experiência profissional. Alunos de nível médio, por exemplo, devem comprovar dois e quatro anos de experiência, respectivamente, para se candidatar à certificação de inspetor de soldagem N1 e N2, enquanto que para um engenheiro este número diminui para seis meses e um ano, respectivamente. Outra exigência da norma é que o candidato tenha realizado um curso de treinamento com carga horária mínima de 162 horas e 210 horas para inspetor de soldagem nível 1 e 2, respectivamente.

De acordo com a NBR 14842, que determina os requisitos e critérios para qualificação de inspetor de soldagem, a experiência profissional deve ser comprovada em atividades específicas, em pelo menos uma das seguintes áreas: projeto, controle da qualidade, fabricação, construção ou montagem de equipamentos e manutenção. O inspetor de soldagem nível 1, segundo a fundação, é um profissional que atua diretamente na obra, executando o controle e acompanhamento da junta soldada, antes, durante e depois da soldagem, baseado nos parâmetros estabelecidos nas instruções de execução e inspeção de soldagem. Já o inspetor de soldagem nível 2, além das atribuições do de nível 1, é responsável pela elaboração das instruções de soldagem, bem como pela qualificação de procedimentos de soldagem e de soldadores.

Se a comprovação do tempo de experiência de acordo com o grau de instrução do candidato pode ser considerada um obstáculo, a dificuldade pode se acentuar ainda mais a partir de 2012. Em decisão conjunta com o Conselho de Qualificação e Certificação de Inspetores de Soldagem, a FBTS exigirá que, a partir de julho do próximo ano, a escolaridade mínima para se candidatar a Inspetor de Soldagem Nível 2 será de nível técnico nas seguintes modalidades: soldagem, mecânica, metalurgia ou naval. No caso do profissional que queira se certificar como Inspetor de Soldagem Nível 1, o grau de instrução mínimo será a de ensino médio.

Para Pereira, a FBTS já passou por uma fase onde a maior procura pelo curso era proveniente de profissionais mais experientes, que buscavam aperfeiçoamento, mas o cenário vem mudando nos últimos anos.

A falta de contato com a área é percebida nos alunos da Qualisolda, instituição de ensino localizada em Duque de Caxias (RJ). “O aluno sabe o que vai ser aprendido mas, como não tem conhecimento anterior, no primeiro momento há uma dificuldade”, diz o diretor técnico do curso, Eraldo Domingos.

A opinião também é compartilhada pelo coordenador de inspeção da Petrosolda, Rafael dos Santos. “A primeira dificuldade que o aluno apresenta é o desconhecimento sobre sua futura profissão, como detalhes sobre a certificação, experiência, mercado de trabalho e as reais funções de um inspetor de soldagem. O segundo aspecto é a novidade dos assuntos abordados, como metalurgia, simbologia de soldagem, ensaios mecânicos e ensaios não destrutivos”, enumera. Em razão desta falta de conhecimento, a instituição percebeu a necessidade de oferecer um tempo maior de estudo aos seus alunos, principalmente àqueles que não são da área de soldagem. Por isso, além das 200 horas de aulas teóricas e práticas, o curso conta ainda com 20 horas de ambientação. A Petrosolda possui unidades no Rio, Niterói (RJ), Aracaju (SE) e em breve em Itaboraí (RJ) e Pernambuco.

A busca por um curso eficaz em uma instituição que tenha credibilidade é um dos conselhos dados por Barbosa, da FBTS, para que o aluno seja bem-sucedido no processo de certificação. “Ele deve procurar junto às instituições docentes que tenham experiência na área, que conheçam o assunto sobre o qual estão passando as informações — e avaliar. Não pode procurar apenas preço ou algo desse tipo”, diz o executivo, ressaltando que a FBTS é apenas um organismo apto a realizar o processo de qualificação e certificação, sem credenciamento para avaliar as instituições de ensino. Por outro lado, Barbosa também cita a dedicação do aluno como fator essencial para ser qualificado pela fundação. “O candidato deve se dedicar e buscar experiência, em vez de tentar fazer o exame achando que vai ser fácil, porque realmente não é. Para quem tem experiência e faz um bom curso, não há problemas”, opina.

O curso para nível 1 tem procura bem maior que o nível 2. Atualmente, segundo a FBTS, são cerca de 2,74 mil inspetores de soldagem N1 atuando no mercado e apenas 285 inspetores com nível 2. O número, para atender às exigências do mercado, deveria ser três vezes maior, aponta Barbosa. O candidato a inspetor de soldagem nível 2 deve demonstrar familiarização com as normas que escolher para sua qualificação, bem como apresentar condições de interpretá-las corretamente no que se refere aos itens relativos à soldagem. Para isso, é necessário ter o inglês técnico, o que diminui a atratividade por esse nível.

No total, o candidato tem três chances para passar nas provas, um total de sete para nível 1. A primeira delas é uma prova escrita de conhecimentos teóricos com base no programa descrito na norma. Os candidatos também devem se submeter às seguintes avaliações de conhecimentos práticos: consumíveis; documentos técnicos; visual/dimensional; acompanhamento de soldagem; tratamento térmico; e dureza. De acordo com a norma, o candidato é considerado qualificado se obtiver nota igual ou superior a sete em dez, em cada uma das provas.

Oficinas. Outra possível causa para o baixo índice de aprovação no processo de certificação dos inspetores, avalia Barbosa, é a pouca ênfase nas aulas práticas. “Muitos cursos dão um foco muito grande na parte teórica. E na avaliação da certificação o candidato também passa pela prática. Essa parte requer uma infraestrutura, que consequentemente requer custos, o que pode encarecer o curso. Então, às vezes, essa parte não é fornecida satisfatoriamente”, opina. Os valores dos cursos oferecidos pelas instituições consultadas pela Portos e Navios variam de R$ 2,2 mil a R$ 2,75 mil.

A FBTS ainda não tem a estrutura física para aplicar aulas práticas. Até o final do ano, a fundação concluirá a construção do seu Centro Tecnológico em um prédio no Rio de Janeiro. Enquanto a unidade não é finalizada, a fundação tem realizado as aulas práticas em oficinas de instituições parceiras. Uma delas é a Qualisolda.

“Na nossa oficina, temos máquinas de solda para fazer acompanhamento, corpo de prova para fazer o visual, e estufas, além de salas de aula climatizadas”, diz Domingos. A parceria com a FBTS para formação de inspetores foi iniciada no início deste ano.

A Petrosolda conta com laboratórios de soldagem e de inspeção, onde são ministradas as aulas práticas. Na oficina estão disponíveis máquinas de soldagem, equipamentos de corte, consumíveis, equipamentos para armazenamento e tratamento de consumíveis, instrumentos de medição, corpos de prova e blocos padrões. Já a Global Soluções e Treinamento, localizada no Rio de Janeiro, equipou-se visando o exame de qualificação. “Temos duas salas que ocupam quatro cômodos cada, nas quais montamos uma estrutura bem parecida com a que é utilizada na prova. Também temos uma sala de acompanhamento com máquina de solda portátil”, diz o proprietário da empresa, Renato Simões.

 

Treinamento. Atualmente, segundo a FBTS, cerca de 110 instituições oferecem o curso de inspeção de soldagem no país. Na época em que o sistema de certificação foi criado, Barbosa comenta que a fundação mantinha contato com, no máximo, oito empresas. “Na época, não tínhamos um controle estatístico sobre os resultados, como temos hoje, mas havia profissionais com um pouco mais de experiência, índice de aprovação um pouco maior que o atual, em torno de 30% a 35%, e um número menor de candidatos”, compara.

Para aumentar as chances de aprovação dos candidatos nas provas para a certificação, as instituições de ensino também têm oferecido treinamento, que são realizados dias antes da aplicação das avaliações. “Por melhor que seja, o curso não vai tirar todas as dúvidas dos alunos. No treinamento, por ser algo mais individual, é que o estudante as expõe. Às vezes, o tempo de espera para fazer a prova também é longo e ele acaba esquecendo alguns detalhes. Então quando o aluno tem a data da prova, ele faz o treinamento faltando uma ou duas semanas para a aplicação”, explica Domingos.

O tempo de espera para a realização das avaliações é grande, pois a demanda é grande e a estrutura, restrita. Além do pessoal que faz a prova pela primeira vez, há os candidatos que já foram reprovados e tentam uma segunda chance e aqueles que querem renovar a certificação, válida por cinco anos. Atualmente existem cinco centros de exames reconhecidos para a aplicação dos exames de qualificação e de renovação da certificação: Cequal/Senai-Cetec de Solda, no Rio de Janeiro; Cequal/Sequi-PB, em São José dos Campos (SP); Cequal/Senai-ACR, em Contagem (MG); Cequal/Senai-Cimatec, em Salvador (BA); e mais recentemente o Senai do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, credenciado em setembro.

O crescimento do número de instituições nos últimos anos é citado por Pereira como um dos motivos para o aumento das filas para tentar a certificação. “Tem muita gente se aventurando e acabamos concorrendo com cursos que não têm a mínima preocupação com a qualidade, e isso acaba tumultuando muito o mercado. São várias pessoas dando entrada, e muitas delas sem condição, que tomam o tempo daquela que estava preparada para fazer. Quanto mais instituição sem critério na preparação, mais aumenta a fila, e mais alimenta o mercado paralelo”, alega.

A FBTS também oferece treinamento, segundo Pereira, com preço muito baixo em relação ao mercado. “Quando eles fazem o curso e têm um tempo demorado para as provas de qualificação, as dúvidas aparecem. Às vezes o treinamento dura apenas um dia, depende do tipo de disciplina que ele quer e do tipo de carência dele”, explica.

Os alunos da Global, em sua maior parte, são soldadores ou técnicos em mecânica e já estão atuando na área. Segundo Simões, a Global Soluções e Treinamento tem tido maior demanda para treinamento que propriamente o curso, cuja carga horária é de 174 horas. “Formamos três turmas, a primeira teve cinco alunos, a segunda, dez e a terceira teve três. Já o treinamento teve uma outra vertente. Começou com pouca gente e foi aumentando. Tem meses que temos de 20 a 30 alunos”, conta.

Há cerca de um ano, a Global treinou 55 pessoas e 214 só este ano. A instituição afirma que em 2011, segundo os próprios alunos, 134 deles foram aprovados no exame de qualificação. Segundo Simões, o treinamento completo contempla as sete matérias necessárias e tem duração de uma semana. “A nossa empresa ministra o treinamento de, no máximo, dois candidatos por professor de forma que fique mais fácil e direto tanto para o aluno quanto para o instrutor. Vem pessoal do Brasil inteiro para treinar com a gente”, comemora.

Embora a Qualisolda também ofereça treinamento, a maioria dos estudantes, conta Domingos, procura a empresa para a realização do curso. O treinamento dura de um a dois dias e pode ser feito individualmente ou com até três alunos. Segundo Domingos, a atividade é dada por inspetores qualificados e certificados, em instalações adequadas para cada caso e com equipamentos e instrumentos equivalentes aos usados durante a prova.

 

Tendências. Na avaliação de Domingos, a demanda pelo curso apresentou uma queda nos últimos dois anos, mas a tendência é que, a partir do próximo ano, a procura aumente novamente. “Isso depende do mercado, se ele está aquecido, a demanda aumenta. O mercado hoje está meio frio devido às obras dos empreendimentos para a Copa do Mundo, que abriu outras possibilidades profissionais. A parte de inspeção ficou prejudicada neste aspecto. Mas acredito que vá aumentar em virtude das obras do Comperj e do pré-sal. Vamos começar um curso agora e acredito que no próximo teremos que fazer prova de seleção”, opina. O curso citado pelo diretor da Qualisolda está previsto para terminar no final do mês de janeiro.

Atuante desde 2004 para suprir o mercado nacional de mão de obra especializada, a Qualisolda já formou cerca de 400 alunos no curso de inspetor de soldagem. Em cada turma, a instituição recebe entre 20 a 30 alunos. O corpo docente é dividido entre professores da FBTS e da própria Qualisolda e todos eles têm a certificação concedida pela fundação. A carga horária do curso gira em torno de 190 horas. A maior parte dos alunos da instituição tem, pelo menos, o ensino médio completo.

A FBTS também percebeu um decréscimo na demanda pelo curso nos últimos meses. “Tivemos uma redução da procura e acredito que seja por conta do momento econômico”, opina.

Entre os estudantes do curso de inspetor de soldagem da FBTS, cerca de 60% têm ensino médio, 21% apresentam curso técnico e os de nível superior somam apenas 2%. Em média, cada turma é composta por 24 alunos. A carga horária do curso varia de acordo com a opção de estudo — aulas integrais ou apenas aos sábados, por exemplo —mas, em média, são cerca de 200 horas.

Em caso de dificuldades em alguma disciplina, a FBTS conta ainda com aulas de reforço. “Temos uma preocupação muito grande em identificar carências”, diz. Dependendo da demanda pelo curso, a FBTS terceiriza os professores. Mas Pereira ressalta que os docentes passam por avaliações criteriosas. “Propomos como forma de avaliação que eles deem aula para os nossos engenheiros e instrutores e então são avaliados em relação à didática e o conhecimento específico”, explica.

Por outro lado, a Petrosolda tem observado um aumento de demanda na área e, segundo Santos, o aluno tem apresentado maior interesse em continuar os estudos, buscando outras certificações. “Outro ponto importante é que eles exigem maior qualidade e disponibilidade de seus instrutores, que, aqui na Petrosolda, ficam à disposição de nossos alunos nos três turnos, independente do horário do curso dele”, comenta.

Há dois anos e meio, a Petrosolda vem oferecendo o curso de inspeção em soldagem. Já foram formados pela instituição cerca de 400 alunos. Segundo Santos, os alunos da empresa normalmente apresentam, no mínimo, o ensino médio completo. “Menos de 1% têm ensino médio incompleto ou fundamental completo. No entanto, nos últimos meses, vem crescendo a quantidade de alunos com curso técnico ou nível superior completo em outra área ou estudantes de engenharia”, relata. O corpo docente é composto por inspetores certificados, técnicos em soldagem, mecânica e metalurgia ou engenheiros. Segundo a instituição, informações dos próprios alunos atestam que cerca de 80% do que pedem a certificação são aprovados.

Simões ressalta que há no mercado diversos cursos que não fornecem conteúdo suficiente para que os alunos sejam aprovados no exame da FBTS. “Damos um curso para que a pessoa entenda e não precise treinar, porque acaba sendo um custo maior. Geralmente os cursos não dão base, apenas jogam informações e aí os alunos têm que pagar treinamento”, lamenta. Existem muitos cursos, diz o proprietário da instituição, aplicados por profissionais mal qualificados e com turmas de 30 a 40 alunos, o que as torna improdutivas.

Pereira acrescenta que estas empresas sem qualidade dificultam o trabalho das instituições que tentam fazer um bom trabalho.

 



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