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Brasil é prioridade na estratégia mundial da Schlumberger

O presidente mundial da Schlumberger, maior empresa de serviços para a indústria de petróleo do mundo, Andrew Gould, no Brasil para inaugurar, hoje e amanhã, dois projetos, acha que a adoção do modelo de partilha para a exploração do petróleo na área do pré-sal brasileiro, tendo a Petrobras como operadora exclusiva, não reduzirá o interesse estrangeiro por participar dessa exploração, mas vai mudar o perfil dos interessados. Em entrevista ao Valor, Gould disse que a tendência para o pré-sal é de que sejam atraídas as grandes estatais de outros países, mantendo-se as multinacionais privadas preponderantemente nos campos convencionais das bacias petrolíferas brasileiras.

Ao ser questionado sobre o fato de que em outros países, como Angola, as grandes petrolíferas privadas estão atuando, embora o regime jurídico também seja o de partilha, Gould disse que a diferença que leva à sua conclusão é justamente o fato de que em Angola essas empresas atuarem como operadoras, o que, conforme o projeto em tramitação no Congresso Nacional, não ocorrerá no Brasil.

Mas a Schlumberger não demonstra preocupação quanto à possibilidade de perder negócios por conta do modelo regulatório do pré-sal. Ao contrário, a empresa está investindo para ampliar sua presença no Brasil com vistas, justamente, a uma atração mais profunda na área. Na avaliação da empresa, o país vai se transformar em um dos cinco maiores centros da indústria de petróleo do mundo já na próxima década.

Hoje ela inaugura, no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o primeiro centro de pesquisas de uma estrangeira do setor no país, prometendo participar dos esforços para desenvolver tecnologias adequadas ao desafio de encontrar e retirar petróleo localizado em solo a cerca de dois quilômetros abaixo da superfície do mar e com espessura de mais de cinco quilômetros até os reservatórios, incluindo aí camada de sal de até dois quilômetros de largura. Além disso, o óleo e o gás do pré-sal estão, em geral, armazenados em rochas chamadas carbonatos, o que torna mais difícil de retirá-los do que os arenitos, mais comuns nos depósitos brasileiros até agora conhecidos.

A empresa inaugura hoje o primeiro centro de pesquisas de uma estrangeira do setor de petróleo no Brasil

Gould conta que quando os primeiros sinais do pré-sal foram surgindo, a Petrobras enviou um grupo de técnicos a outro centro de pesquisas da empresa, localizado em Dhahran, na Arábia Saudita, cujo foco principal é estudar os reservatórios de carbonatos que, segundo ele, concentram cerca de 70% do petróleo do Oriente Médio. A grande especificidade da área do pré-sal brasileiro, de acordo com o executivo, vai exigir que, mesmo havendo a experiência com carbonatos em Dhahran, a Schlumberger faça pesquisa básica no Rio de Janeiro, utilizando pesquisadores brasileiros e parcerias com a própria Petrobras, a UFRJ e outras instituições e empresas.

O centro de pesquisa brasileiro é o quinto em todo o mundo. Sempre, segundo Gould, localizados entre instituições acadêmicas e a indústria de petróleo. Os outros ficam em Boston (EUA), junto ao Massachussets Institute of Technology (MIT); em Cambridge, no Reino Unido; em Moscou; e em Dhahran. Gould disse que além de pesquisa geológica, o centro do Rio de Janeiro desenvolverá softwares para a indústria do petróleo. A escolha do Brasil para esta segunda atividade de pesquisa partiu de estudo encomendado ao MIT.

Na verdade, o desenvolvimento da indústria de petróleo no Brasil e o pré-sal em particular, além da obrigatoriedade de investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) 1% da receita bruta proveniente dos campos de petróleo mais produtivos, estão atraindo uma revoada de grandes empresas internacionais do setor para instalarem centros de pesquisas no Parque Tecnológico da UFRJ. A Schlumberger é a primeira, mas outras gigantes como as americanas Baker Hughes, FMC e GE também já decidiram fazer seus centros de pesquisas na Ilha do Fundão.

Além do Centro de Pesquisas, onde foi investido de US$ 48 milhões nas obras, a Schlumberger inaugura amanhã, em Macaé (RJ), aquela que, segundo a empresa, é sua maior base operacional no mundo, com área total de 135 mil metros quadrados. Com investimento de US$ 65 milhões, a base vai unificar as unidades operacionais que a empresa já detinha na cidade, principal centro da indústria do petróleo no Brasil.

Nascida na França pelas mãos dos irmãos Conrad e Marcel Schlumberger no começo do século passado - Conrad inventou um método de prospecção mineral com base na condutividade elétrica das rochas -, a Schlumberger mantém sede em Paris mas é uma multinacional com cerca de 80% do seu capital controlado por investidores institucionais americanos. No Brasil desde 1945, a empresa emprega 105 mil pessoas em todo o mundo, sendo 3,5 mil brasileiros, dos quais, segundo Gould, cerca de 10% no exterior. No ano passado faturou US$ 22,7 bilhões, dos quais US$ 800 milhões foram investidos em pesquisas que, de acordo com o executivo, é o foco maior das atividades da empresa. Para 2011 estão previstos investimentos de US$ 1 bilhão em P&D.

Gould não teme pelo futuro da indústria do petróleo, mesmo reconhecendo que após o acidente com um poço BP no Golfo do México em abril, que derramou centenas de milhares de barris de petróleo no mar, vai tornar cada vez mais rígida a regulação das atividades de exploração e produção de óleo. Ele lembrou que recente relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que até 2030 o mix energético mundial será ainda 80% baseado em hidrocarbonetos.

O problema, segundo ele, é que os investimentos para elevar a mais de 20% a participação das fontes de energia renováveis no bolo energético total ainda são muito elevados. Paralelamente, destaca o presidente da Schlumberger, até 2020 cerca de 10% de todo o petróleo do mundo virá de águas profundas, com o maior crescimento concentrado no Brasil. Gould não demonstrou preocupação maior com conflitos relacionados com o direito de propriedade sobre os hidrocarbonetos encontrados em solo marinho cada vez mais distante do litoral dos países. Segundo ele, a história mostra que isso só ocorre quando a descoberta fica em áreas de fronteira. (Fonte: Valor Econômico/Chico Santos | Do Rio/Colaborou Francisco Góes)






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