Presente desde a década de 1970 na África, a Petrobras já tinha atividades em cinco países: Angola, Líbia, Namíbia, Nigéria e Tanzânia. Neste ano, entrou no Benin e no Gabão. E desde 2010 convive na Namíbia com uma concorrente conterrânea, a HRT Participações em Petróleo.
A Petrobras, segundo dados de 2010, obtém 25% de seu petróleo produzido no exterior em áreas africanas, percentual que deverá crescer no futuro, dada a amplitude de suas pesquisas. A HRT ainda não retira uma gota de óleo africano e considera difícil fazer estimativas.
A HRT foi criada em 2008 por um grupo de geocientistas e engenheiros, ex-funcionários da Petrobras, que resolveram unir suas empresas para explorar petróleo. Em 25 de outubro do ano passado, a empresa estreou as negociações de suas ações no Novo Mercado da BM&F Bovespa. O objetivo da abertura de capital ficou claro desde o início: bancar seu programa de exploração, desenvolvimento e instalação de infraestrutura na Bacia do Solimões (no Brasil) e na Namíbia.
Milton Franke, diretor de planejamento da HRT, afirma que o plano inicial da empresa para a Namíbia, em cinco anos, era destinar 15% dos seus investimentos, num total de US$ 340 milhões.
"Esse investimento seria basicamente alocado em levantamentos e processamentos sísmicos e em perfurações de poços", diz ele. Esses valores, porém, já foram elevados para US$ 630 milhões para o mesmo período. "É difícil estimar, neste momento, quando começará a produção de óleo e gás natural na Namíbia, pois o projeto está em fase inicial de mapeamento das oportunidades", afirmou Franke por e-mail, de Huston, no Texas (EUA). "De forma bem simplificada, a primeira etapa está centrada em levantamentos de geologia e geofísica, mapeamento e seleção de prospectos para perfuração. Essa etapa será executada até o final de 2011", diz.
A segunda será a certificação dos volumes mapeados nos prospectos e a entrada no processo de 'farm out' ou 'farm down'. Esta fase deverá tomar cerca de três meses em 2012. "Farm out" e "farm down" são termos da indústria do petróleo que descrevem as operações comerciais por meio das quais uma empresa vende parte de um bloco para outra e reduz a sua participação.
Franke conta que a terceira etapa será a de perfuração exploratória, que tomará cerca de seis meses, no segundo semestre de 2012. "Após essas três etapas, se houver sucesso, passaremos ao projeto de avaliação e desenvolvimento das descobertas em 2013. Serão necessários vários anos para passarmos da exploração para a produção". Apesar da demora, a companhia está animada: estimativas iniciais indicam que um dos poços, Walvis, pode chegar a produzir 300 mil barris por dia de petróleo leve.
Já a Petrobras informou que não daria entrevista sobre sua entrada no Gabão e Benin. Segundo o site da empresa na internet, ela chegou ao Benin, na Costa Oeste da África, em fevereiro deste ano, com a compra de 50% de participação no bloco 4. O negócio foi fechado com a Compagnie Béninoise des Hydrocarbures (CBH), subsidiária da Lusitania Petroleum, que detém os 50% restantes.
O bloco cobre uma área de aproximadamente 7,4 mil quilômetros quadrados, com profundidade de água que varia de 200 metros a 3 mil metros, a uma distância média de 60 quilômetros da costa. "Esperamos encontrar petróleo leve, reproduzindo outras descobertas realizadas em atividades exploratórias anteriores", informa o site. "A CBH permanece como operadora. Entretanto, nós temos o direito de assumir a operação. O compromisso de trabalho inclui a aquisição e processamento de 2.250 quilômetros quadrados de sísmica 3D. Confirmado o potencial exploratório da área, o consórcio se comprometerá a perfurar três poços."
Em junho desde ano, a estatal entrou na República do Gabão, também na Costa Oeste africana. A operação foi acertada com a compra de 50% dos direitos da Ophir Energy nos blocos Ntsina Marin e Mbeli Marin, localizados na Bacia Costeira, região norte do "offshore" gabonense. "A Petrobras assume a obrigação de executar um programa mínimo de trabalho, que compreende a aquisição de 2 mil quilômetros quadrados de sísmica 3D", informa a empresa.
Passada essa etapa, a Petrobras tem o direito de avaliar a sua permanência nos blocos e optar pelo ingresso na próxima fase do programa exploratório, que inclui perfuração de poços. "A aquisição dos blocos está alinhada ao Plano Estratégico da Petrobras até 2020, que inclui o objetivo de contribuir para o descobrimento e a apropriação de reservas no exterior." Apesar de ter ativos em sete países africanos, a estatal brasileira tem produção de óleo e gás natural, por enquanto, em apenas dois: Angola e Nigéria, onde a produção conjunta é de 59,9 barris por dia.
Luiz Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), afirma que o movimento das companhias brasileiras rumo à África "faz todo o sentido". "Petrobras e Vale, por exemplo, vão para lá em busca de recursos próprios e não do mercado local", diz ele. "Faz todo o sentido para empresas que exploram recursos naturais irem em busca de recursos onde quer que estejam."
De acordo com Lima, o movimento das empresas brasileiras tem de ser avaliado em um contexto mais amplo, de mudança nos fluxos de capitais. "Hoje, 24% dos fluxos globais de investimentos vêm de países emergentes, contra traço em 1980. Essa tendência é gradual, não vem de hoje e irá perdurar", afirma.
Fonte: Valor Econômico/Por Nelson Rocco | Para o Valor, de São Paulo
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