A cadeia de bens e serviços voltada para óleo e gás demonstra otimismo com os leilões no Brasil. Empresas do setor avaliam que a flexibilização das exigências de conteúdo local torna mais factível o cumprimento das regras.
“A mudança trouxe as normas para dentro da realidade e isso veio através de uma maturação de conhecimento técnico. Não adianta exigir níveis altos de conteúdo local quando a indústria não produz determinados componentes”, diz o professor da pós-graduação em óleo e gás da FGV e gerente técnico da BRA Certificadora, Elmar Mourão.
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A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) definiu no ano passado um novo modelo de conteúdo local para as próximas rodadas de licitações, reduzindo o percentual mínimo. Nas áreas terrestres, a cota obrigatória será de 50% de componentes nacionais; 18% nas áreas de exploração no mar; 25% para construção de poços; 40% para sistemas de coleta e escoamento e 25% para unidades estacionárias de produção.
As empresas fornecedoras globais não demonstram preocupação com a mudança, garantindo que a produção nacional é competitiva. “Estamos otimistas para 2018. A base de manufatura brasileira está em um ótimo nível”, afirma o diretor-presidente da Romi, Luiz Cassiano. Para o executivo da empresa, fornecedora de equipamentos para usinagem de peças e componentes do setor de óleo e gás, a prioridade deve ser a criação de condições adequadas de infraestrutura e logística no País. “O problema não é dentro da fábrica, é do portão para fora. A base nós já temos.”
O diretor de petróleo & marítimo da Sotreq, Filipe Lopes, acredita que mesmo com a queda na exigência, será mais vantajoso para as companhias de petróleo investirem em conteúdo local.
“Para os operadores, transparece que o conteúdo externo sairá mais caro. A operação local tem mais facilidade.”
Outra mudança que ocorre no setor é referente às empresas certificadoras. Responsáveis por medir e informar à ANP o conteúdo local de bens e serviços, estas companhias devem apresentar a partir de 8 de junho o Certificado de Acreditação de Organismo de Certificação de Produto (OCP) junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para continuar atuando. Para Mourão, essa adequação técnica trará mais credibilidade ao processo. “Empresas que não tinham conhecimento técnico atuavam na área e emitiam certificações falhas. A ANP identificou esse problema. A acreditação é uma certeza que o resultado será acompanhado por perto por especialistas.”
Abertura de mercado
O fim da exclusividade da Petrobrás como operadora única no pré-sal é vista de forma positiva pelos fornecedores. Grandes operadoras estrangeiras vêm participando dos leilões e devem causar impacto positivo na cadeia de produção do País.
“Em 2017, houve melhora em termos de organização das rodadas de leilões, que foram positivas, e o preço do barril aumentou. Houve movimento na indústria. A Copa do Mundo e as eleições dificultam um pouco, mas as sementes de otimismo foram lançadas para 2018’, pondera Lopes.
O representante industrial de óleo & gás da Caterpillar, Victor Santiago, destaca que os leilões vêm atraindo uma maior diversidade de interessados. “Não são mais os mesmos nomes de sempre. Novas empresas vêm surgindo nas rodadas”, aponta.
A 15ª rodada de licitações da ANP irá ocorrer no dia 29 de março e irá ofertar 49 blocos nas bacias sedimentares marítimas e 21 terrestres. Além da Petrobras, 19 companhias irão participar, entre elas gigantes do setor como a Exxomobil, Statoil, BP e Chevron.
“O pré-sal dá oportunidades a grandes compradores. Estamos vendo a revitalização de toda a Bacia de Campos [RJ]”, declarou o diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Marcos Assayag, em apresentação da segunda etapa do programa Circuito Virtuoso da Indústria de Óleo e Gás, em São Paulo.
O programa tem o objetivo de apresentar a indústria nacional para as operadoras que estão entrando no Brasil. Elmar Mourão acredita que os investimentos dessas grandes petroleiras vão impactar não só o setor, mas toda a economia do País.
“A companhia que vencer o leilão vai ter que se instalar aqui, contratar brasileiros, comprar de fornecedoras locais, alugar imóveis, enfim, investir em diversos segmentos. Só vai trazer a expertise que não existe aqui. O petróleo mexe com tudo”, conclui Mourão.
Fonte: DCI