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Ceará pode usar modelo do EAS para reduzir impactos

MARÍLIA CAMELO
Ipojuca (PE) "O modelo de integração com a comunidade e de mitigação de impactos ambientais, experiência que deu certo em Pernambuco, pretende ser levado para o projeto do Estaleiro Promar Ceará", afirmou o deputado estadual Nelson Martins após visita, ontem, ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS). O líder do governo na Assembleia fez parte da comitiva constituída por parlamentares cearenses (entre vereadores e deputados), um líder comunitário do Serviluz (bairro onde se pretende erguer o empreendimento em Fortaleza) e representantes do governo estadual, que se deslocou até o município de Ipojuca (distante 57km de Recife) para conferir de perto os impactos sociais, ambientais e econômicos que um equipamento desse porte pode gerar para o seu entorno.
Após adiantar-se e percorrer o mesmo caminho dos parlamentares, conforme reportagem publicada pelo Jornal nas edições do último sábado e domingo, o Diário do Nordeste também acompanhou a comitiva cearense nessa empreitada.
Segundo Martins, a visita ao EAS também serviu para esclarecer algumas questões como, por exemplo, se as suas atividades ocasionam poluição sonora, como a comunidade local foi aproveitada na mão-de-obra e a qualificação dada a essas pessoas, além do tratamento destinado aos resíduos sólidos.
"Estou bastante satisfeito com o que vi. Deu para sentir que não tem poluição sonora, os efluentes têm uma destinação final correta e vimos ainda que 80% da mão-de-obra empregada é oriunda do próprio entorno do empreendimento, mesmo pessoas com baixíssimo nível de escolaridade foram aproveitadas", comentou o deputado, um dos articuladores da viagem à Pernambuco.
O outro organizador da ida à Ipojuca, o presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Salmito Filho, também mostrou-se satisfeito com as instalações e o funcionamento do Atlântico Sul. "Nosso objetivo foi atingido. Colhemos o máximo de informações para intensificarmos o debate em torno do empreendimento", observou.
Para o deputado Ely Aguiar, também presente na comitiva e autor do requerimento que solicitou a visita ao Atlântico Sul, Fortaleza deixar de receber um empreendimento como um estaleiro "é como perder um pênalti em fim de Copa do Mundo".
Diálogo
O diretor administrativo do EAS, Gérson Belluci, avalia ser preciso um diálogo aberto com a comunidade para que se pese os prós e os contras de um equipamento como este.
"Claro que é um tipo de indústria que gera barulho por conta da movimentação de chapas, de caminhões e guindastes, mas foi um equipamento que permitiu uma outra condição de vida para as 26 comunidades que integram o Complexo Industrial e Portuário do Suape.
Se formos avaliar, o EAS é mais do que uma indústria. Ele veio para se integrar à comunidade e ao meio ambiente. Para muitos, essa foi uma chance de se inserção no mercado de trabalho", pontuou Belluci.
Ele diz ainda que líderes comunitários, como Edson Antônio (nascido e criado em Ipojuca e que adentrou a sala da apresentação sem a menor cerimônia) tem acesso direto a ele.
Resistência
"No começo a resistência foi grande para a instalação do estaleiro. Mas, hoje, até o número do meu celular ele tem e eu tenho o dele", disse. "De 70 indústrias instaladas no Suape, ele foi o único empreendimento a olhar para a gente, a abrir as portas para a comunidade. Tudo que nos prometeram antes da instalação foi cumprido", afirma Antônio.
OPINIÃO NÃO MUDA
Nova comitiva com 50 moradores
Representante dos moradores do Serviluz na comitiva continuou considerando estaleiro inviável no Titanzinho
Para o líder comunitário Pedro Fernandes, nada mudou em relação à viabilização do equipamento naval na Praia do Titanzinho. "A realidade de Pernambuco é muito diferente da nossa. Em Fortaleza, esse empreendimento seria inviável. É uma estrutura muito grande. O Plano Diretor da cidade, inclusive, não permite a instalação de uma indústria como essa em uma área que é considerada Zona de Proteção Ambiental (Zeis)", defendeu, lembrando por diversas vezes que a área era abandonada pelo poder público há mais de 60 anos. Ele foi o único representante do bairro a acompanhar a visita de ontem às instalações do EAS. Outro membro da comunidade, com posição em prol do equipamento, teve um problema no aeroporto e não pôde embarcar. O deputado Nélson Martins diz que a meta agora é viabilizar a ida de 50 membros da comunidade o EAS. "A ideia é trazermos o quanto antes, em uma viagem de ônibus, 25 pessoas que sejam a favor e outras 25 que sejam contra o estaleiro de Fortaleza. Precisamos ver apenas quem iria bancar a viagem", informou Martins.
O líder comunitário não aprova o estaleiro no Titanzinho, mas reconhece seus benefícios para o Ceará. "Eu não disse que era contra. Reconheço a importância econômica para o Estado. Só que eu defendo que ele seja instalado na área do Pecém, que ao meu ver é que é uma área industrial", completou. Nélson Martins reiterou que, no final de tudo, é necessário ter uma consulta organizada para a viabilização ou não do estaleiro. "É preciso que o debate não fique entre prefeitura e governo. A sociedade também precisa opinar", frisou ele que também pretende visitar um estaleiro que tenha sido instalado em zona urbana. (LB)
SOBRE A LOCALIZAÇÃO
Outras opções não são viáveis, diz especialista
A polêmica em torno do estaleiro Promar Ceará se deve à localização prevista: a Praia do Titanzinho, no Serviluz. O governador Cid Gomes já declarou que essa é a única área para receber o empreendimento por questões técnicas e financeiras.
O presidente da Cearáportos (Companhia de Integração Portuária do Ceará), Erasmo Pitombeira, em consonância com o líder do Executivo estadual, já citou algumas opções e explicou por que não são viáveis para receber o estaleiro. "Camocim não tem condição porque não tem acesso. Acaraú não tem condição porque tem uma embocadura (local onde o rio deságua no mar), o que não dá acesso. Mundaú tem embocadura. Pecém tem grande profundidade, acima de 15 metros. Não dá para aterrar essa profundidade. É caríssimo. O problema da Barra do Ceará é a ponte", enumerou. "Esta é uma avaliação técnica", afirmou. "É o único lugar disponível em relação aos valores que se imagina gastar para construir o estaleiro".
O Pecém não seria uma opção viável por conta da profundidade ali, o que encareceria o projeto, o que já foi explicado pelo presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Antônio Balhmann. "O estaleiro ficará onde seria a ampliação do Porto do Mucuripe. São atividades assemelhadas. Não prejudica a área turística da Praia Mansa. Uma consequência para o bairro é o desenvolvimento. Vai fortalecer a necessidade da urbanização. Vai gerar emprego, capacitação de jovens com escola profissionalizante. Tudo isso está previsto no projeto".
Recentemente, novos destinos surgiram neste debate sobre a localização. Alguns vereadores de Fortaleza levantaram a possibilidade da Inace construir os oito gaseiros ou que o estaleiro Promar Ceará fosse para o Pirambu. As duas opções foram descartadas porque a Inace foi desabilitada da licitação e o Pirambu não é área abrigada.
Opinião do especialista
"Essa é a visão que queremos para o Ceará"
EDUARDO NEVES
Diretor de Infraestrutura da Adece
A visita ao Estaleiro Atlântico Sul (localizado no Estado de Pernambuco) foi extremamente importante. A grande vantagem disso tudo é ver a realidade acontecendo. A construção de um grande navio no Nordeste a pleno vapor (referindo-se ao Suezmax, embarcação com 274 metros e capacidade para transportar 1 milhão de barris de petróleo e que deve ser lançado ao mar em agosto). Essa visão é a que também queremos ter para o Estado do Ceará.
LÍVIA BARREIRA
REPÓRTER (fonte: Diário do Nordeste)

 


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