Parcerias entre estatais brasileiras e chinesas e cooperação em ciência e tecnologia dominam a lista de acordos a serem assinados durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, na próxima semana. A gigante trading Sinochem firmará com a Petrobras acordo para recuperação de petróleo em jazidas terrestres de difícil extração. A Sinopec assinará memorando de associação com a Petrobras para iniciar exploração ("farm in", no jargão do setor) de dois blocos de petróleo na bacia do Pará e Maranhão.
A chinesa State Grid prevê assinatura de memorando de entendimento com a Eletrobras, com quem quer parceria para entrar nos leilões de geração de energia no Brasil. A estatal detém tecnologia de linhas de transmissão de 1.000 kV, inexistente no Brasil. Todos os acordos vêm sendo mantidos em sigilo, porque ainda estão em negociações finais.
As empresas pretendem aproveitar a visita de Dilma para sacramentar negociações que ocorrem desde 2010, e consolidam a presença chinesa em setores estratégicos no Brasil. A Sinopec, maior petrolífera chinesa, comprou em outubro 40% do capital da Repsol Brasil, e a Sinochem recentemente comprou ativos da norueguesa Statoil, avaliados em quase US$ 3 bilhões. Em 2010, a State Grid pagou US$ 1,7 bilhão por sete linhas de transmissão de energia.
Um dos acordos a serem assinados, com forte significado político, é o acordo de defesa entre os dois países, que cria a base legal para cooperação em tecnologias, pesquisa e intercâmbio de especialistas em defesa, além de ações conjuntas dos dois países. Por insistência de Dilma, a cooperação bilateral em ciência e tecnologia, porém, ao lado das discussões comerciais, será o maior destaque na agenda da viagem.
Dilma abrirá em Pequim um seminário sobre o tema, como um de seus primeiros compromissos no país. E a lista de acordos prevê dois acordos entre entidades chinesas com a Embrapa, um deles sobre agricultura tropical, que oficializará o laboratório virtual da estatal brasileira em Pequim (com facilidades para viagem de pesquisadores). Projetos de agricultura sustentável são o tema do segundo acordo com a estatal brasileira de pesquisa agrícola.
Os dois países assinarão acordos para troca de experiências em recursos hídricos, instalarão um centro de pesquisas Brasil-China em ciência e tecnologia - que deverá dar ênfase a pesquisas em nanotecnologia - e firmarão acordos de seus institutos de metrologia para troca de informações e metodologias científicas em segurança de produtos. Entre os acordos a serem assinados, há espaço até para um de cooperação em um material que só agora começou a despertar atenção de centros científicos e empresas no Brasil, o bambu.
"É um tema muito sério, especialmente na China", comentou o embaixador do Brasil em Pequim, Clodoaldo Hugueney. "O país tem cerca de 400 usos para o bambu, da indústria têxtil à construção civil. O Estado do Paraná enviou uma missão recentemente, só para discutir o tema."
Hugueney espera que a viagem de empresários brasileiros amplie o conhecimento do mercado chinês, aproveitando a estrutura de promoção comercial da embaixada, reformada para estimular o aumento no valor agregado das exportações brasileiras ao país.
No terreno das barreiras comerciais, os diplomatas já contam com o anúncio da abertura para venda de carne de porco brasileira à China e trabalham para remover restrições à entrada no mercado chinês de gelatina, frutas, especialmente cítricas, ovos e tabaco. "É coisa de grande magnitude, estamos tratando com o maior produtor e o maior mercado do mundo", diz o embaixador brasileiro.
"Nos últimos anos, houve forte aumento quantitativo no relacionamento entre China e Brasil, o comércio saltou de US$ 2 bilhões, em 2000, para US$ 56 bilhões em 2010", comenta a subsecretária-geral de Política do Itamaraty, Maria Edileuza Fontenele Reis. "Estamos trabalhando agora em qualidade, valor agregado", diz. A coincidência entre a aprovação recente do 12º Plano Quinquenal na China e a promoção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no Brasil, cria condições para associação entre empresa dos dois países em investimentos de infraestrutura, defende ela.
A visita de Dilma foi precedida por missões dos ministros das Relações Exteriores, Antônio Patriota e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que ouviram do ministro de Comércio chinês, Chen Deming, declarações de interesse em ampliar as compras de produtos de maior valor agregado do Brasil.
Os brasileiros querem estímulo do governo chinês a mais iniciativas como a da empresa de telecomunicações ZTE, que anunciou a instalação de um parque fabril em São Paulo, e as do grupo Chong Qing Grain Group, que deve oficializar em Pequim o investimento de até US$ 4 bilhões em um complexo industrial para o processamento de soja, uma processadora de fertilizantes e um sistema de armazenagem e logística de grãos em Barreiras, na Bahia.
Fonte: Valor Econômico/Sergio Leo | De Brasília
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