Projeção é do Sindicato da Construção e Reparação Naval com base nas contratações planejadas de pelo setor petrolífero
SÃO PAULO - A construção naval continua em franca expansão no Brasil. Com crescente abertura de vagas desde o ano 2000, o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) trabalha com perspectiva otimista e prevê que cerca de 15 mil empregos diretos serão criados nos próximos três anos.
"O cenário positivo é baseado nas contratações de navios e de plataformas, previstos no programa da Petrobrás, e na implantação de estaleiros em Alagoas, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo", diz o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha.
De olho nessa movimentação, o estudante de engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Igor Rodrigues de Assis, de 24 anos, escolheu a área naval. "Fiquei sabendo que o curso estava em ascensão e o mercado estava aquecido, com falta de profissionais", afirma Igor, que está no último ano da graduação.
O estudante, que faz estágio no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), só reclama do fato de a capital paulista não oferecer muitas oportunidades para estagiários e formados, apesar da sua universidade contar com um dos melhores cursos do País. O problema é óbvio: a cidade fica longe do mar.
No curso de engenharia naval da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os alunos não têm dificuldades para achar estágios e empregos perto de casa. "Faltam profissionais em todos os níveis: engenheiros, tecnólogos e técnicos. É uma demanda que não é atendida, e a velocidade de formação não acompanha. Por isso, a empregabilidade dos nossos recém-formados está perto dos 100%", afirma o chefe do departamento de Engenharia Naval e Oceânica da UFRJ, Luiz Felipe Assis.
Novo quadro
O professor, que também é diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), conta que há 15 anos a universidade formava de 10 a 15 engenheiros por ano. "Há dois anos, passamos a formar de 55 a 60 pessoas. Elas são rapidamente absorvidas pelo mercado com salários iniciais de R$ 6 mil", diz Assis.
O engenheiro Carlos Alberto Santos Machado, 41 anos, resume a história dos profissionais mais antigos do setor. Ele se formou pela UFRJ em 1994, época em que a construção naval estava quase parada.
"Como os estaleiros de construção de navios estavam falidos, ou falindo, fui trabalhar em uma pequena empresa de construção de lanchas esportivas", conta. Somente em 2002, quando a indústria começava a dar sinais de recuperação, impulsionada pela Petrobrás, ele conseguiu um emprego em uma empresa de certificação de navios.
Desde então, passou por diversas companhias e, neste ano, aceitou uma proposta para gerenciar um anexo do Estaleiro Aliança, em Niterói (RJ), que deve ficar pronto em julho. Ele está supervisionando a contratação de 170 funcionários e sente na pele a falta de mão de obra. "O grande desafio é achar recursos humanos", diz Machado.
Demanda
Em Santa Catarina, a procura por profissionais também é alta. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Itajaí formou 124 alunos no curso técnico em construção naval no ano passado - com salário inicial de R$ 2,5 mil. Mesmo assim, o diretor regional da instituição, Sérgio Roberto Arruda, quer aumentar as vagas do curso mais disputado da unidade.
"Infelizmente não consigo, pois não encontramos professores qualificados. O setor está tão aquecido que a maioria dos alunos ainda não formados já está trabalhando", afirma. Segundo o diretor, a situação deve se agravar, pois 26 empresas do setor que ficam na região já indicaram a criação de cerca de mil novos empregos em breve.
Quem fez o curso se deu bem. O gaúcho Sidnei Ramos Leite, 56, saiu do Rio Grande do Sul para Santa Catarina procurando uma vaga na construção civil. Ficou sabendo que o setor naval estava aquecido e entrou no curso do Senai. Formado em 2005, ele saiu do curso já empregado, por meio da indicação de um professor.
Ele trabalhou em um primeiro estaleiro e em 2008 foi para a construtora Detroit, que emprega cerca de mil pessoas. Hoje, atua na área de projetos da empresa. "É uma área que cresce e tem muita oportunidade de emprego", afirma Sidnei.
Fonte:O Estado de S. Paulo/André Zara
PUBLICIDADE