De acordo com o último censo, vivem hoje no Nordeste brasileiro pouco mais de 53 milhões de pessoas, número bem próximo ao da população da Coreia do Sul. Apesar disso, a economia do país asiático é sete vezes maior do que a nordestina, diferença que poderá gerar bons negócios para as duas partes. Com um potencial importante de expansão, o Nordeste entrou de vez na rota de investimentos dos sul-coreanos, que querem incrementar sensivelmente a sua presença na região, considerada discreta.
Neste sentido, executivos dos principais grupos empresariais sul-coreanos estiveram esta semana em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, prospectando negócios nos mais diversos setores, com destaque para infraestrutura, petroquímica, siderurgia, indústria naval e energias alternativas. Os asiáticos devem retornar à região dentro de três meses para visitar outros Estados, segundo informou o embaixador da Coreia do Sul no Brasil, Kyonglim Choi.
Atualmente, a presença sul-coreana mais relevante no Nordeste é da Posco e da Dongkuk, que estão investindo em uma siderúrgica no Ceará, projeto de US$ 4 bilhões que tem como sócia a Vale. Além disso, a Samsung tem participação de 10% no Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, fatia que, segundo o embaixador, o grupo pretende aumentar.
Especialidade dos sul-coreanos, a indústria naval terá no Nordeste um dos principais polos, com destaque para o porto de Suape, em Pernambuco. Além do Atlântico Sul, já em operação, outros dois estaleiros estão confirmados para o ancoradouro. "Estamos trabalhando para ingressarmos nesse mercado como principais fornecedores de equipamentos e tecnologia", afirmou Gi Seob Kim, diretor-geral da Hyundai Corporation no Brasil.
O executivo informou que a empresa também deverá fornecer novos trens para o metrô do Recife e estuda a fabricação local de equipamentos para o setor de energia eólica. Sobre a construção de uma fábrica de máquinas pesadas em Suape, possibilidade que vinha ganhando força nos últimos meses, Kim confirmou que o empreendimento irá mesmo para o município de Itatiaia, no Rio de Janeiro.
Outra oportunidade potencial para os sul-coreanos em Pernambuco é a cadeia petroquímica. O embaixador lembrou que, apesar de não dispor da matéria-prima, o país asiático é bastante competitivo neste setor e tem grande interesse em uma operação em Pernambuco. Vale lembrar que a Petrobras, controladora da Petroquímica Suape, está há tempos em busca de sócios privados para o empreendimento.
A visita ao Rio Grande do Norte também gerou boas expectativas. Segundo o embaixador, foram identificadas "excelentes oportunidades" de investimento, especialmente em energia eólica e na construção do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, que terá administração privada.
Em reunião com representantes do governo de Pernambuco, ontem, os executivos sul-coreanos assistiram a uma longa apresentação sobre os atrativos do Estado como a economia mais pujante do Nordeste. Incentivos fiscais, mercado consumidor crescente e localização estratégica foram os principais argumentos utilizados pelo governo, que ressaltou sua preferência por investimentos industriais por parte dos asiáticos. Além de Hyundai e Samsung, pretendem investir no Estado grupos como LG, Posco, Daewoo, Hyosung e Hanhwa.
Ao enumerar as diversas oportunidades de investimento na região, a tradutora teve de se desdobrar para explicar em coreano termos como "plataforma logística multimodal", "gipsita", "ICMS" e "transposição". O projeto do rio São Francisco apareceu em um vídeo, em inglês, no qual foi chamado pitorescamente de "Old Chico".
Ainda assim, não foi possível fisgar a atenção de todos. Alguns sul-coreanos acabaram sucumbindo ao sono, porém a maioria estava, de fato, bastante interessada. Ao final do encontro, de pen-drives em punho, os executivos formaram uma comportada fila por uma cópia da apresentação.
Fonte: Valor Econômico/Murillo Camarotto | Do Recife
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