A crise da Petrobras atingiu em cheio o mercado brasileiro de táxi aéreo, com reflexos também no emprego de pilotos de helicóptero. Entre junho e dezembro, a frota dedicada a operações da estatal caiu de 96 para 66 aeronaves.
São helicópteros de grande porte, usados para levar empregados a plataformas de petróleo e sondas de perfuração de poços instaladas em alto mar, operações complexas que exigem grande número de tripulantes especializados.
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A queda ocorre após anos de crescimento no setor, que levou à busca por helicópteros no exterior e incentivou a formação de profissionais.
"Todo mundo se preparou para um período de crescimento, mas na verdade foi um voo de galinha", diz o engenheiro aeronáutico Shailon Ian, presidente da Vinci Consultoria Aeronáutica.
No auge, ele lembra, havia cerca de 140 aeronaves atendendo exclusivamente à Petrobras. Nos últimos anos, porém, a estatal tem feito um esforço para reduzir custos, cortar investimentos e reduzir dívidas, o que tem afetado toda a cadeia de fornecedores.
"A Petrobras continua a realizar esforços para otimizar seus custos logísticos, incluindo os relativos a aeronaves de apoio offshore [as plataformas em alto mar], considerando em primeiro lugar a manutenção dos padrões de segurança", afirmou a empresa à Folha por meio de nota.
Os helicópteros que prestam serviços à estatal são maiores do que os de serviços executivos de táxi aéreo e podem levar de 12 a 24 passageiros. Geralmente, operam em um sistema de linhas aéreas, como o da aviação comercial, com voos regulares saindo em direção às plataformas.
Macaé, no litoral norte do Rio, é o principal ponto de partida. Mesmo com pouca oferta de voos comerciais, o aeroporto da cidade foi em 2015 o 13º maior do país em movimento de aeronaves, à frente de diversas capitais.
O número de pousos e decolagens, porém, já mostra reflexos da crise da Petrobras: foram 54,2 mil até aqui neste ano, ante 59,7 mil em 2015.
Segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) reunidos por Ian, a frota de helicópteros habilitados para operações offshore caiu 22% desde 2015 no Brasil, de 174 para 135 aeronaves.
PORTO SEGURO
Em média, cada uma emprega cinco tripulantes, sem contar equipes de solo que fazem manutenção e auxiliam na operação. Com a redução no número de helicópteros e nas horas de voo de cada unidade, ele estima que foram fechadas cerca de 350 vagas de piloto e 150 de mecânicos.
"O mercado offshore sempre foi um porto seguro para o piloto de helicóptero, um ponto em que muitas vezes a carreira se consolida", diz o presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero, Arthur Fioratti.
A Petrobras exige dos pilotos 500 horas de voo, mais do que o dobro das 200 horas exigidas para uma vaga como piloto executivo. Com maior qualificação, os salários também são maiores, girando em torno de R$ 20 mil.
"O mercado vinha em crescimento muito acelerado. A Petrobras chegou a incentivar programas de formação de pilotos. Hoje, o piloto está desamparado", diz Fioratti.
Em 2013, a Anac emitiu 163 licenças para pilotos de helicóptero de linha aérea, denominação usada no país principalmente para o mercado de petróleo. Em 2015, já no início da crise, foram 80. As estatísticas apontam que neste ano será a metade –até o primeiro semestre, foram 22.
Fabricantes de helicópteros também sentiram os efeitos da crise. Controlada pelo grupo francês Airbus, a Helibrás, instalada em Itajubá (MG), investiu no início da década R$ 420 milhões para construir aeronaves de grande porte no Brasil, primeiro para as Forças Armadas e depois para o setor de petróleo.
"Acreditamos que esta fase é passageira e o grupo Airbus Helicopters continua investindo no desenvolvimento e no aperfeiçoamento de modelos para o mercado de petróleo e gás", disse Alberto Duek, responsável na companhia por esse segmento.
Fonte: Folha