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De grande porte

Tendência é de redução no tamanho das embarcações, mas Brasil precisará de navios maiores para atender ao pré-sal

Em algumas regiões do mundo, tem sido notada uma tendência de redução no tamanho das embarcações de apoio offshore. Nos campos da Ásia, por exemplo, os navios menores são mais demandados, já que a exploração é feita, na maior parte, em águas rasas. No Brasil, no entanto, o cenário é um pouco diferente, já que o pré-sal está bastante distante da costa. A tendência, portanto, é a crescente contratação de embarcações de maior porte no país. A avaliação é do gerente geral da Seabrokers Brasil, Fernando Cruz.

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— Temos que ter embarcações de maior porte por questões de segurança e também para poder transportar maior carga de forma mais econômica, no caso dos PSVs. Em relação ao AHTS, que vão lançar as âncoras para fazer a ancoragem de um FPSO, por exemplo, estamos falando de profundidades de 2,1 mil metros. É um sistema muito grande e pesado de se trabalhar. A tendência que vejo é de embarcações de grande porte — diz o executivo, lembrando que a Petrobras já tem lançado em suas licitações AHTS de 21 mil BHP. “São embarcações que vão variar de 240 a 250 toneladas de bollard pull. Para se ter uma ideia, em 1997, o bollard pull da maior embarcação do mundo era de 222 toneladas e foi contratada pela Petrobras.”

Além disso, Cruz acrescenta que o risco da operação é bastante alto. Por isso, a formação da mão de obra qualificada deve ser encarada e tratada como assunto urgente e prioritário. O executivo destaca que as empresas de petróleo e suas contratadas realizam grandes investimentos em equipamentos de alta tecnologia e necessitam de pessoal qualificado para sua operação. “Não se pode pegar uma embarcação dessas e entregar na mão de pessoal que não esteja preparado, gabaritado e com experiência suficiente para operá-la, tanto por questões de segurança fundamentalmente, como pelo próprio investimento no navio.”

PSVs e AHTSs são os principais tipos de embarcações demandados pela exploração e produção. No mundo estão em operação atualmente 1.136 PSVs e há outros 360 em construção para os próximos três anos. Os dados foram levantados pelo executivo e considerou embarcações de até 25 anos. Já os barcos de manuseio de âncora somam hoje 1.845 e outros 175 estão em construção. Até 2016 serão 3.516 em operação no mercado mundial.

As taxas diárias de afretamento de ambas as embarcações vêm crescendo ano a ano. Em 2010, a média global de AHTS menores que 15  mil BHP era de cerca de US$ 25 mil. A diária de modelos maiores estava na faixa de US$ 29 mil. Neste ano, até o mês de julho, os valores variavam entre US$ 40 mil e US$ 45 mil, e US$ 45 mil e US$ 55 mil, respectivamente. Cruz explica que até o final do ano essa média pode cair um pouco. “No início do ano, as curvas de taxa trazem médias baixas, crescem ao longo do ano e depois voltam a cair. É sazonal”, diz.

Para os PSVs, em 2010 as taxas diárias eram de aproximadamente US$ 21 mil para embarcações menores que 3,5  mil toneladas de porte bruto e as maiores custavam cerca de US$ 24 mil. Esse ano, os valores estão entre US$ 33 mil e US$ 37 mil por dia. Fernando Cruz foi um dos palestrantes da Navalshore, que aconteceu entre os dias 13 e 15 de agosto, no Rio de Janeiro, e falou sobre a conjuntura atual e as perspectivas no mercado de afretamento internacional.

Segundo o executivo, a utilização das embarcações AHTS no Golfo do México, em geral, tem sido baixa e sazonal, enquanto que a de PSV aumentou. As taxas de afretamento dos PSVs de todos os portes têm aumentado ao longo dos últimos 12 meses, principalmente para as embarcações de mil a dois mil tpb. Já na América Latina, os níveis de utilização têm se mantido estáveis com tendência de crescimento, principalmente devido ao desenvolvimento dos campos do pré-sal no país. Na África Ocidental, as taxas de utilização apresentaram ligeira queda no último ano, mas o desenvolvimento de novos projetos em águas profundas pode inverter essa tendência nos próximos anos. Por outro lado, na Ásia a utilização tanto de PSVs com menos de dois mil tpb quanto de AHTS com menos de seis mil BHP aumentou nos últimos meses.

Grandes mudanças estão e continuarão a ocorrer tanto na demanda quanto na oferta de petróleo. Segundo Cruz, os países em desenvolvimento estarão em breve consumindo mais petróleo do que os países desenvolvidos. Diante do crescimento de suas economias, o Oriente Médio e a Ásia demandarão mais petróleo. Paralelamente, os Estados Unidos, a Europa e o Japão, que historicamente são grandes consumidores, utilizarão menos recurso. “Estima-se que a demanda global de petróleo deverá crescer 1,2% ao ano nos próximos cinco anos”, acredita o executivo.

Deve haver aumento da produção de petróleo também no Iraque, Canadá, Brasil e Colômbia. Com a menor demanda ocidental e maior produção nas Américas, menos petróleo fluirá do Oriente Médio para os Estados Unidos e para a Europa, passando a fluir para a Ásia, principalmente China e Índia. Com a decisão de abandonar a energia nuclear após o acidente de Fukushima, a Alemanha e o Japão também podem registrar ligeiro aumento na demanda. No Oriente Médio, a produção do Iraque deverá crescer rapidamente, enquanto a do Irã deverá diminuir, como resultado das sanções ocidentais impostas aos mercados financeiro e petrolífero do país. Cruz destaca que a Arábia Saudita vai continuar a dominar a produção na região.

Em relação à América Latina, a Venezuela tende a perder mercado, já que as refinarias americanas da costa do Golfo estão substituindo o petróleo venezuelano pelo xisto betuminoso, de produção local. “Espera-se que o preço médio do petróleo, estável ao longo dos últimos três anos, permaneça em torno dos US$ 90,00 por barril nos próximos dois anos”, estima o gerente geral da Seabrokers Brasil. Com a produção em declínio, o México poderá tornar-se importador de petróleo. A Argentina, por suas reservas de xisto, e o Brasil, pelas do pré-sal, estarão em posição privilegiada caso consigam superar as dificuldades internas que encarecem a exploração dessas reservas. “Nos dois países, a instabilidade jurídica, derivada da modificação das normas regulatórias, as limitações de financiamento das empresas e as dificuldades pelas quais passam as estatais petrolíferas, podem atrasar a ampliação de suas capacidades produtivas”, diz ele, acrescentando que, pelo cenário atual, o petróleo do pré-sal não será mais absorvido pelo mercado americano, como era inicialmente esperado. “Achamos que outros mercados devem ser prospectados, principalmente China e Índia”, destaca.

Apesar das oportunidades provenientes do pré-sal, Cruz ressalta que existem desafios a serem vencidos para que a produção seja mais rentável. Por estar distante da costa, há obstáculos logísticos e ambientais. A exploração e a produção em águas muito profundas, entre  dois mil e três mil metros de lâmina d’água, e reservas localizadas entre cinco mil e sete mil metros abaixo do nível do mar, trazem desafios tecnológicos. Além disso, há ainda desafios financeiros, já que os poços exploratórios exigem muito tempo de perfuração e demandam alto investimento para serem concluídos. “Temos um estudo que estima que cada poço do pré-sal pode chegar a um custo de até US$ 100 milhões”, conta o executivo.

Os investimentos da Petrobras para cumprir seu duplo papel de investidora e operadora de todos os blocos do pré-sal serão expressivos, na avaliação de Cruz, e exigirão capacidade financeira da estatal para alcançar suas metas operacionais. Como a empresa terá paralelamente que manter seus investimentos nas atividades no pós-sal, ela precisará de recursos tanto para exploração quanto para manutenção da produção. O gerente da  Seabrokers Brasil diz ainda que as metas de conteúdo local também devem ser realistas para não se tornarem restrições ou empecilhos ao desenvolvimento dos projetos. “A produção de equipamentos no Brasil deve ser estimulada e exigida na medida em que os padrões de qualidade necessários sejam atingidos”, conclui.



Yanmar

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