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De olho no Brasil

Fabricantes de equipamentos para o setor naval e de óleo e gás da Finlândia intensificam prospecção do mercado brasileiro e planejam ampliar vendas no Brasil

O enorme potencial das reservas do pré-sal não deixa dúvidas. O Brasil é a bola da vez quando se trata de buscar novos mercados para vender equipamentos, serviços e tecnologia para exploração de petróleo e construção das embarcações que serão necessárias para atender à logística da produção offshore. Se até 2008 as companhias europeias tinham fila de espera para dar conta de tantas encomendas, concentradas principalmente na Ásia, após a crise elas se viram diante de inúmeros contratos cancelados ou adiados e a necessidade imperiosa de buscar novos mercados para garantir a ocupação (e os empregos) em suas fábricas. Não foi difícil que a escolha recaísse sobre o Brasil.

A Finlândia é um bom exemplo. Recentemente uma missão formada por empresários visitou o Brasil em busca de oportunidades de negócios. Poucas semanas depois dirigentes e técnicos da Petrobras também foram conhecer o que a Finlândia pode oferecer. Embora não tenha petróleo, o país escandinavo conta com empresas que desenvolveram alta tecnologia na fabricação de equipamentos para embarcações e plataformas de petróleo. Em um país onde os níveis de educação estão entre os mais altos do mundo, a engenharia pode ser um diferencial de peso na hora de conquistar clientes em terras distantes como o Brasil.

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Em tempos onde as exigências de conteúdo nacional podem atrapalhar os planos de abocanhar todos os contratos, um empurrãozinho governamental pode ser estratégico. Consciente disso o ministro do Comércio Exterior e Desenvolvimento da Finlândia, Paavo Väyrynen, liderou a missão ao Brasil. O objetivo foi estreitar o relacionamento e ajudar a abrir portas no país, especialmente no segmento marítimo. Entre as visitas, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli e o presidente da Transpetro, Sergio Machado. Os empresários também visitaram estaleiros e empresas com potencial de se tornarem parcerias locais. “Temos alta tecnologia e com certeza, produtos e serviços que podem ser úteis ao desenvolvimento do setor de petróleo no Brasil. Nosso interesse é estreitar relações comerciais”, afirmou o ministro, em entrevista no Parlamento Finlandês. Segundo ele, manter a competitividade nesse período pós-crise é um desafio. O que nossas empresas estão fazendo para vencer a crise é se globalizar, buscar novos mercados e terceirizar”, afirmou.

Buscar novos mercados é exatamente o que tem feito a Konecranes. Com sua sede instalada em Hyvunkää, cidade próxima a Hensinque, a indústria tem 9.800 empregados, produção anual de cerca de seis mil guindastes e contratos de serviços de manutenção para 362 mil diferentes tipos de guindastes em todo o mundo. O interesse da empresa não se restringe ao setor naval pois seus guindastes podem ser úteis em diversos segmentos, como portos, estaleiros e indústrias de celulose, siderúrgica e de mineração. Seus primeiros equipamentos vendidos no país foram para o Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP). Aliás é na cidade paranaense que a Konecranes está inaugurando em breve um novo escritório de vendas no país. Em São Paulo é a base da empresa no Brasil tanto para a parte comercial quanto de assistência técnica e conta com cerca de 20 empregados. O benchmarking da empresa é o Goliah, que começou a ser produzido em 1972. Dois desses guindastes de 164 metros de altura e 1,5 mil toneladas de capacidade de içamento foram vendidos para o estaleiro Atlântico Sul . Os equipamentos foram produzidos na Coreia e China com tecnologia Konecranes. “Estamos acompanhando atentamente os projetos de todos os novos estaleiros no Brasil e pretendemos tê-los como clientes”, afirma Timo Valkonen, gerente geral da empresa, que firmou parceria com a Jaraguá Equipamentos. A brasileira fornecerá as estruturas de aço e fará a montagem dos equipamentos, enquanto a finlandesa é responsável pelo design e fornecimento dos componentes principais.

Nem todas as empresas que integram o cluster marítimo da Finlândia são estreantes no mercado brasileiro. Que o diga a Cargotec, fabricante de equipamentos de movimentação de cargas em navios e terminais portuários com amplo histórico de vendas para o Brasil através de suas subsidiárias MacGregor e Kalmar. Unidas recentemente pela bandeira Cargotec, que em 2009 vendeu 2,6 bilhões de euros, as duas empresas têm empilhadeiras e guindastes em operação em diversos portos do país, onde mantém 50 empregados entre oficina em São Paulo e escritório no Rio de Janeiro. Recentemente o sistema de escoamento de carga da MacGregor equipou o graneleiro Gypsum Integrity,construído pelo estaleiro Ilha sob encomenda de um armador norte-americano. Svein Erik Halvorsen, diretor de Offshore Load Handling, lembra que o mercado marítimo e o de óleo e gás são semelhantes, então quando a empresa decidiu diversificar seus negócios o caminho do setor offshore foi natural. A Cargotec iniciou recentemente a diversificação de seus equipamentos para o mercado offshore e instalou bases na Noruega, Cingapura e China. “Cingapura é um concentrador de atividades do setor naval. Muitas plataformas e embarcações são montadas lá e as pessoas são altamente qualificadas. Mas queremos ir além”, explica ele, acrescentando que a empresa desenvolveu equipamentos sofisticados para embarcações de apoio marítimo e ampliou o leque de serviços. “Fazemos desde o desenho do equipamento até a montagem, testes, instalação e treinamento de pessoal de operação”, explica o diretor da empresa. Entre os equipamentos produzidos pela Cargotec estão equipamentos para movimentação de ROVs, robôs usados para serviços de instalação e manutenção em águas profundas e guindastes para plataformas e embarcações de apoio. A CBO é uma das empresas que já comprou equipamentos da Cargotec para equipar os barcos de apoio atualmente em construção no estaleiro Aliança. “Com o pré-sal o Brasil representa um mercado potencial enorme para nós. Estamos acompanhando atentamente o desenrolar das licitações da Petrobras para as embarcações offshore e para os navios sonda. Queremos participar desse negócio”, resume Halvorsen, que informa estar participando de algumas negociações no Brasil e conhecer as exigências de conteúdo nacional.

Embora as restrições impostas pelo governo brasileiro no que diz respeito ao conteúdo local dificultem um pouco a exportação de equipamentos para o mercado de óleo e gás para o Brasil, ninguém arrisca um tom crítico ao comentar o assunto. Quase todos afirmam estar em busca de um parceiro local para produzir ao menos parte de seus componentes aqui e com isso se habilitar a conquistar fatia do enorme bolo que é o offshore brasileiro. Alguns, mais cautelosos, assumem que ainda estão estudando o mercado e explicam que a intenção é contar com um representante no país. Por outro lado, o ritmo lento para as contratações no Brasil muitas vezes é apontado como um fator a ser levado em conta na hora das decisões sobre investimentos.

Entre as que já passaram da fase de namoro com o mercado brasileiro está a sueco-suíça ABB. Atuando nas áreas de automação e geração de energia, presente em mais de 100 países e contando com 117 mil empregados, a empresa vai além quando o assunto é participar do boom do mercado offshore brasileiro. A ABB planeja abrir uma fábrica no Brasil para montar cerca de 20 propulsores por ano. A intenção é ter no mínimo 60% de conteúdo local e deverão ser gerados em torno de 70 empregos diretos, todos de alta qualificação. “Estamos negociando com cerca de 20 empresas brasileiras para o fornecimento de componentes. Já conversei com mais de 30, quase todas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O motor do propulsor será importado da fábrica da ABB na China e alguns componentes de controle serão da fábrica da Finlândia. Mas tudo depende do resultado das licitações das 28 sondas a serem contratadas no Brasil”, explica Sakari Sorsimo, gerente de suprimentos da área de produtos de propulsão da ABB.

Segundo André Luiz da Silva, gerente no Brasil da unidade de negócios de Marine, a Petrobras deve abrir as propostas comerciais até o final deste ano.

A expectativa é de que as encomendas se confirmem no primeiro trimestre de 2011. O local de instalação da fábrica ainda não está definindo e depende de quem vencer as licitações. “Por uma questão de logística queremos estar próximos aos construtores. Estamos avaliando entre Rio de Janeiro, Santos, Suape e Bahia”, adianta ele. O gerente destaca o alto nível de qualidade dos fornecedores com quais tem negociado para o estabelecimento das parcerias. Por outro lado, os preços apresentados foram bem mais altos do que o imaginado. “É padrão europeu”, espanta-se André, para quem essa barreira deve ser ultrapassada tão logo as negociações evoluam e os fornecedores tenham a garantia do volume de encomendas. O propulsor que a ABB pretende fabricar no Brasil é patenteado com o nome de Azipod e está no mercado desde 2000. Trata-se de um propulsor azimutal elétrico, enquanto os demais existentes no mercado são mecânicos. Além de terem aplicação para embarcações em geral, eles podem ser um diferencial por permitirem o posicionamento dinâmico, essencial para plataformas, sondas de perfuração e determinados tipos de embarcações de apoio offshore. A ABB conta com quatro centros de excelência no mundo, sendo que o de propulsores e o de navios de cruzeiros e ferries são instalados na Finlândia.

A fábrica finlandesa tem capacidade para produzir 60 unidades por ano, mas desde o ano passado vem sofrendo com a ociosidade causada pela crise econômica, o que levou ao cancelamento de diversos contratos. No Brasil a empresa forneceu recentemente o sistema de propulsão elétrica para o PSV Skandi Salvador, da DOF e o sistema de propulsão elétrica para dois AHTS Hyibrid Solution encomendados também pela norueguesa DOF. O comissionamento dos AHTS será feito em 2011.

Nos últimos anos, a ABB cresceu muito na Ásia, mas o foco está se voltando para o mercado brasileiro, devido ao crescimento da indústria do petróleo. Atualmente 19% das encomendas das empresas são provenientes das Américas, enquanto que 26% foram feitas na Ásia. Desde 1996 a empresa já recebeu encomenda de sistemas de propulsão elétrica para 67 sondas de perfuração, sendo que 37 deles serão entregues até 2011. Para o mercado brasileiro a ABB conta com uma ampla gama de equipamentos de automação, geração e distribuição de energia e thrusters instalados em diversas plataformas e sondas de perfuração em operação para a Petrobras.

Uma das que escolheram o offshore nacional como meta de curto prazo é a Lamor. Fabricante de equipamentos para prevenção e resposta ao derramamento de óleo, a empresa se capitalizou fortemente em 2010 na esteira de um estrondoso crescimento nas vendas de skimmers e barreiras de contenção para a British Petroleum, por conta do acidente com a plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México. A Lamor vendeu cerca de 400 quilômetros de barreiras de contenção e 436 skimmers para ajudar no combate ao derramamento de óleo. Enquanto em um ano normal vende cerca de 50 quilômetros de barreiras e cerca de 300 a 400 skimmers. Devido ao acidente em 2010, o faturamento da empresa vai chegar a 80 milhões de euros, um crescimento de mais de 60% em relação ao ano anterior. Em 2009 a empresa tinha visto as vendas caírem em função da crise internacional e as perspectivas não eram boas, tanto que já havia intensificado um trabalho de busca por novos mercados. Até então a Rússia e a Noruega eram os principais destinos dos produtos da Lamor. Atualmente a Rússia é o destino de 40% da produção da Lamor, enquanto que o Middle East recebe outros 25%. “O mercado brasileiro não passa de 5%, mas pretendemos aumentar essa participação já que a estimativa é de que a Petrobras contrate cerca de 20 embarcações do tipo OSRV e cada uma delas demanda de um a dois milhões em equipamentos”, explica o responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento estratégico da Lamor, Jari Ahoranta, que aliás ressalta que 10% do turn over da empresa é reinvestido em pesquisa e desenvolvimento de produtos. Ele lembra ainda que os contratos são longos e não incluem somente a venda de equipamentos, mas também os trabalhos de resposta ao derramamento.

Atento aos movimentos da Petrobras, Jari Ahoranta, lembra que os produtos da Lamor já equipam os Centros de Defesa Ambiental da estatal mas está ciente de que para impulsionar suas vendas no Brasil será importante que parte de seus produtos seja fabricado no país. Nesse sentido negocia uma parceria com a Alpina, sua distribuidora desde 1995. “A Alpina tem um amplo conhecimento do mercado e dos equipamentos”, explica ele, sem querer dar mais detalhes sobre o andamento das negociações.

A Lamor tem 28 anos de vida e 150 empregados. Um dos planos é ter o que ele chama de “mobil factory”, onde os componentes ficam armazenados em um contêiner, que pode ser transportado facilmente e instalado no local do acidente. Na opinião dele, não há muita experiência em produção de equipamentos para resposta a acidentes em situações como a da Petrobras com o pré-sal, então acredita que a estatal está muito interessada em se cercar de cuidados para conduzir as operações da maneira mais segura possível.

A empresa também planeja ter parceria com estaleiros . “Um dilema que percebemos nas construções é que em geral o armador quer o estado da arte em suas embarcações e o estaleiro que está construindo quer o que for mais barato possível. No Brasil, a Petrobras desenvolveu o conceito do produto que ela quer e nós fabricamos, testamos, fazemos testes de campo e conseguimos certificação. Os contratos são longos e incluem não só os equipamentos mas também os trabalhos de resposta ao derramamento. O segmento portuário brasileiro também é importante para nós. Já vendemos para alguns portos brasileiros e almejamos ampliar o volume de negócios também nessa área.

Se a Lamor já tem negócios no Brasil, a Deltamarin, que atua na área de design e projetos de embarcações e plataformas, ainda busca a melhor maneira de participar do mercado brasileiro. A empresa sonhava em vender para a Petrobras já nessa atual leva de encomendas, mas a Petrobras já avisou que só utiliza projetos que já tenham sido testados em algum lugar do mundo. Como o conceito oferecido pela Deltamarin é novo, a negociação não foi adiante. Ainda assim, a empresa busca um parceiro no Brasil e estuda formas de atuar localmente. “Além do design, damos consultoria no desenvolvimento do projeto”, explica Kimmo Juurmaa, gerente de projetos offshore da finlandesa, acrescentando que tanto o Brasil quanto a Rússia são os focos da Deltamarin, já que ambos os países têm estimulado o desenvolvimento de suas indústrias. Entre os potenciais clientes, ele destaca não só as petroleiras, mas também os operadores e estaleiros. A Deltamarin já presta serviço para empresas como a Noble Denton, a SAS e a FEM Analysis.

A julgar pelo entusiasmo das finlandesas pelo mercado nacional, percebe-se que as fornecedoras brasileiras de navipeças têm uma oportunidade ímpar de estreitar laços e trocar experiências visando ao crescimento tecnológico para também almejarem voos mais altos, ou seja, no futuro elas mesmas passarem a prospectar novos mercados.


Intercâmbio assinado no Congresso

Aalto e UFRJ trocarão experiência e alunos

Em tempos de boom na indústria do petróleo, os cursos de engenharia estão em alta no Brasil. Mais do que nunca, é hora de investir em aprimoramento da formação acadêmica para garantir boas oportunidades após a formatura. De olho nesse filão a Universidade de Aalto, em Helsinqui, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro firmaram convênio que prevê intercâmbio de estudantes e professores. Tendo como forte o segmento de hidrodinâmica, a Universidade de Aalto tem cerca de 100 estudantes de engenharia naval. “Temos muito interesse no intercâmbio. É uma maneira de estimular a difusão do conhecimento e aproximá-los de diferentes realidades no campo da engenharia naval o que, sem dúvida, possibilita um enriquecimento da formação profissional”, afirma Pentti Kujala, professor da Marine Technology de Aalto.

A seu lado, Oskari Jaakola comprova a tese. Aos 23 anos, recém-formado em engenharia naval, ele está iniciando o mestrado em Aalto. De volta a seu país natal após cerca de seis meses de intercâmbio na Escola Politécnica da UFRJ ele já conseguiu estágio na Deltamarin. “Desde o início queria cursar naval. Depois entrei em contato com a Petrobras e acabei chegando a UFRJ”, conta ele, destacando que estudou tecnologia offshore, matéria que não tem em Aalto e será muito útil. “Foi um aprendizado excelente”, afirma em excelente português, destacando  não só os estudos mas também os ótimos contatos que fez durante o tempo em que morou no Rio. “O intercâmbio abriu portas importantes para networking com futuros colegas de trabalho. Além disso, o aluno passa a conhecer melhor a cultura do país e isso pode ser um diferencial de peso para a empresa onde for trabalhar”, destaca Oskari, que deixou amigos no Rio de Janeiro e tem planos de trabalhar com empresas finlandesas em negócios desenvolvidos para o mercado brasileiro. Ele destaca que o governo finlandês paga uma bolsa de estudo de 480 euros para quem estuda fora e a ajuda foi fundamental para que conseguisse concluir os estudos. O professor da Escola Politécnica da UFRJ, Luiz Felipe Assis, lembra que no Brasil as bolsas podem ser bancadas pelo Capes ou pelo CNPq e que a intenção é que o intercâmbio seja pelo período de um ano e haja reciprocidade em relação ao pagamento de taxas do curso. “A Escola está com uma política de intercâmbio forte e tem convênio com diversas universidades estrangeiras. O curso de engenharia naval tem ou já teve alunos de graduação de universidades da Noruega, Portugal, França, Espanha, Itália e Alemanha”. O professor Floriano Pires, também da Escola Politécnica da UFRJ, destaca a importância do convênio com a universidade finlandesa. “A Finlândia tem várias empresas de base tecnológica de alto nível e a troca de experiências só pode enriquecer a formação profissional de nossos alunos”, afirma, acrescentando que o convênio com Aalto também prevê intercâmbio de pesquisadores e estudantes de pós-graduação. Também faz parte dos planos identificar linhas de pesquisa e desenvolvê-las em conjunto.

 

*Rosângela Vieira viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Finlândia

 



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