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Dívida corporativa na China chega a 128% do PIB e ameaça bancos

Chen Qiang administra um estaleiro chinês que prevê registrar prejuízo líquido em 2012 e cujos US$ 4,5 bilhões em dívidas correspondem a seis vezes o valor do passivo de três anos atrás. No primeiro semestre do ano passado a empresa recebeu apenas duas novas encomendas.

Chen está inabalável. O principal executivo da China Rongsheng Heavy Industries Group Holdings pretende manter os níveis do quadro de pessoal e até começar a contratar em âmbito internacional, como parte dos esforços para conquistar encomendas de navios empregados em prospecção de águas profundas - um novo setor que, segundo ele, poderá gerar metade das novas encomendas por embarcações da empresa dentro de três a cinco anos.

Quanto à pesada carga de endividamento, Chen confia que os bancos estatais que atendem a empresa estão satisfeitos com sua saúde. "O governo nos apoia porque antevê um futuro brilhante", disse ele.

Os bancos e outras instituições de crédito chinesas concederam centenas de bilhões de dólares a empresas chinesas nos últimos dois anos, ajudando-as a suportar os efeitos da fraca demanda externa em muitos setores, bem como os da desaceleração do crescimento em âmbito interno.

Analistas do Standard Chartered estimam que a dívida corporativa chinesa equivalia a 128% do Produto Interno Bruto (PIB) no fim de 2012, comparativamente aos 101% computados no fim de 2009. Em relatório de pesquisa de 2011, economistas do Banco de Compensações Internacionais concluíram que, quando a dívida corporativa de um país ultrapassa 90%, torna-se um obstáculo ao crescimento.

Embora empréstimos acessíveis possam ser uma boa notícia para as empresas chinesas às voltas com dificuldades, podem ser má notícia em outras esferas. Alguns economistas estão alarmados com a possibilidade de a existência de uma dívida de tamanha magnitude no sistema financeiro chinês criar problemas para a economia caso os tomadores não consigam honrar suas obrigações. Empréstimos não quitados poderão, em última instância, obrigar as empresas à consolidação - o que, por sua vez, poderia gerar fechamentos de postos de trabalho politicamente pouco palatáveis -, ou obrigar os dirigentes a recorrer a algum tipo de operação de socorro financeiro de alto custo.

Por outro lado, a ajuda estatal prestada pela China a setores com problemas deverá exacerbar a capacidade excedente mundial e adiar a recuperação em setores que vão da construção naval à produção de painéis de captação de energia solar, dizem analistas.

As agruras da Rongsheng foram vividas reiteradamente em outras áreas da economia. Muitas das empresas chinesas de equipamentos para captação de energia solar estão sendo mantidas em operação por empréstimos concedidos pelos bancos estatais, por subsídios de governos locais e até por aportes diretos de grupos de investimento estatais.

O setor siderúrgico da China está atormentado pela capacidade excedente, mas empresas não lucrativas conseguem acesso ao crédito bancário.

A gigante da indústria naval chinesa Cosco Holdings, que registrou um grande prejuízo em 2011 e deverá repetir o resultado em 2012, captou US$ 1 bilhão em novembro por meio da emissão de bônus para investidores externos após o estatal Bank of China ter concordado em avalizar a dívida.

O relacionamento entre as empresas e o governo se tornou um entrave às perspectivas de crescimento de longo prazo da China, dizem analistas. Isso porque os recursos não vão para as empresas mais eficientes, e sim para as dotadas da maior rede de relacionamentos políticos. Existem mais de 100 mil empresas estatais na China, primordialmente respaldadas por governos locais. A maioria das empresas estatais concorre com o setor privado.

Segundo relatório de 2011 do Instituto de Economia Unirule, um centro de análise e pesquisa independente de Pequim, descontada a ajuda do governo como empréstimos baratos, terrenos isentos de pagamento de aluguel e subsídios diretos - injeções de recursos -, as empresas estatais chinesas do setor industrial não foram lucrativas entre 2001 e 2009.

"Atualmente, fazer negócios na China ainda é um privilégio, e não um direito", disse Zhang Weiying, professor de economia na Escola de Administração Guanghua da Universidade de Pequim, acrescentando que as finanças governamentais não têm condições de dar apoio indefinido a empresas não lucrativas. "Os governos locais terão de enfrentar um problema orçamentário muito grande. Suas despesas já são um problema."

No fim de junho, período mais recente para o qual existem dados disponíveis, a Rongsheng, com ações negociadas na bolsa de Hong Kong, tinha quase 28,6 milhões de yuans (US$ 4,58 bilhões) em empréstimos não quitados - quase integralmente levantados junto a bancos bancados pelo Estado - acima do montante de cinco bilhões de yuans no fim de 2009, por ter continuado a gastar enquanto a geração de caixa caiu.

Suas operações no primeiro semestre de 2012 geraram uma saída líquida de caixa de quase três bilhões de yuans. A companhia registrou um lucro líquido de 243 milhões de yuans durante o período, mas esse número foi reforçado por dinheiro do governo, na forma de um subsídio no montante de 672 milhões de yuans.

Os subsídios ajudaram a tirar a empresa do vermelho, ao reduzir seus gastos, porém mesmo com a injeção do governo a companhia estava perdendo dinheiro, pois seus clientes estavam adiando o pagamento de suas dívidas. A Rongsheng cobriu o déficit de caixa valendo-se de empréstimos de bancos estatais.

Em 24 de dezembro, a empresa anunciou acreditar que registrará um prejuízo líquido no ano findo em 31 de dezembro de 2012. Em nota divulgada em agosto, analistas da Macquarie Securities disseram que sem "substancial apoio dos bancos" o futuro da empresa estará em questão.

Chen disse que os subsídios eram destinados a pesquisa e desenvolvimento e que os níveis de endividamento de sua empresa são mais baixos do que os de alguns concorrentes chineses.

A Rongsheng foi uma de algumas novas companhias chinesas que entraram no mercado de construção naval durante a expansão explosiva do comércio na década passada. Mas depois que a capacidade de transporte marítimo mundial cresceu, a demanda caiu quando a crise financeira global atingiu o comércio. O Baltic Exchange Dry Index, que monitora o custo do transporte de matérias-primas, caiu para até 647 pontos em fevereiro de 2012, perto de seu mínimo, de 554 pontos, em julho de 1986, e está agora em cerca de 800. O índice atingiu seu máximo de 11.793 em maio 2008.

O grande momento da Rongsheng veio em 2008, quando a brasileira Vale encomendou a construção do maior navio de carga do mundo. A Rongsheng até agora já construiu oito e tem pedidos para a construção de outros oito, que, acredita a empresa, manterá seus estaleiros ocupados até o início de 2015.

As encomendas além dessa data permanecem incertas. No primeiro semestre de 2012, a companhia recebeu pedidos para fornecimento de dois novos navios, a um valor contratual combinado de US$ 55,6 milhões, menos do que os 24 navios no mesmo período no ano anterior, de valor superior a US$ 1 bilhão.

Fonte: Dow Jones Newswires / Dinny McMahon e Colum Murphy






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