A KPMG assumiu há poucas semanas a administração do processo de recuperação judicial do Estaleiro Ilha S/A (Eisa), localizado no Rio de Janeiro. Com novo administrador jurídico, o estaleiro espera avançar nas oportunidades de negociação com credores e armadores e retomar suas atividades de construção, paralisadas desde o final de 2015. A expectativa da empresa é que o cenário da indústria naval dê sinais de melhora e que seja possível firmar acordos para prosseguir com os projetos que estão no pátio a partir do segundo semestre de 2017.
A carteira do Eisa prevê a construção de três navios porta-contêineres para a Log-In, que estão paralisados. A obra mais adiantada foi lançada e está pronta para completar a instalação e fazer testes de cais. Uma unidade está na carreira em torno de 70% edificada, enquanto o outro projeto ainda está em blocos para serem integrados. O estaleiro também busca um acordo com a Marinha, que cancelou contratos para construção de quatro navios-patrulha.
O Eisa entende que as negociações têm sido longas e difíceis, mas vê a possibilidade de fechar acordos em breve. “Nunca estivemos tão próximos de um acordo. A melhor alternativa tecnicamente e economicamente para todos é terminar navios conosco”, afirma o presidente do estaleiro, Diego Salgado. Ele explica que, além da crise econômica e da queda na demanda da construção naval, a empresa não contava que dois grandes clientes entrariam com pedido de recuperação judicial nesse período: Astromarítima e Brasil Supply.
Salgado diz que o Eisa tem conseguido avançar na negociação para concluir um PSV 3.000 da Astromarítima, que está na carreira. A expectativa é retomar essa obra até o final do ano. Com a Brasil Supply, as negociações estão mais emperradas. O estaleiro lançou dois PSVs 4.500 do armador, que ainda precisam ter os sistemas concluídos para seguir para prova de cais antes da entrega.
O Eisa também tenta por meio de arbitragem uma definição dos projetos da Swire Pacific, que em 2015 cancelou contrato que previa a construção de quatro PSVs 5.000 no estaleiro. “Não contava com cancelamentos de contratos da Swire. Estamos em arbitragem com eles até hoje”, conta Salgado.
De acordo com o presidente do Eisa, a Brasil Supply e a Astromarítima representam entre 30% e 40% de receita prevista para retomada das atividades. O restante em prospecção viria num eventual sucesso nas discussões com a Log-In e a Marinha do Brasil, além de novas perspectivas de reparo, serviços e atracação de embarcações aproveitando o cais e parte das 150 mil m² de área do estaleiro, oficinas, armazéns, guindastes e demais equipamentos que precisam ser preservados. Ele estima uma demanda de 300 a 1.500 trabalhadores, num primeiro momento, dependendo dos tipos de embarcações e das quantidades de projetos em produção.
No entanto, um dos desafios para a retomada desses projetos é o passivo trabalhista, que o estaleiro também espera resolver. O Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro (Sindimetal-RJ) está com dois processos em favor dos trabalhadores demitidos do Eisa. Um deles pede o bloqueio de bens (arresto) das empresas envolvidas (Eisa Ilha, Petro Um, Synergy, Avianca) e do empresário German Efromovich.
De acordo com o Sindimetal, muitos desses trabalhadores estão passando por sérias dificuldades financeiras, pois até hoje não receberam as verbas rescisórias e trabalhistas. No último dia 15 de maio, ex-trabalhadores do Eisa fizeram um ato na porta do estaleiro, junto com a direção do Sindimetal. O sindicato informou que já esteve com o novo recuperador judicial (KPMG) e cobrou a realização de uma assembleia dos credores e que não haja mais alteração da data, que está prevista para o dia 14 de junho.
Por Danilo Oliveira
(Da Redação)
Nota da Redação: Matéria atualizada às 11h10 do dia 26/5 para acréscimo de informações.
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