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Programas de construção de navios da Marinha são grandiosos, mas experiência e continuidade são gargalos para novos fornecedores

Quando se pensa em construção naval no país, Petrobras e Transpetro são os primeiros nomes lembrados. Mas a Marinha do Brasil também tem extensos programas de longo prazo para a construção de navios de vários tipos e tamanhos, além de submarinos. Assim como as duas companhias,

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a instituição vem tentando identificar fornecedores de peças e equipamentos no país, a fim de aumentar o conteúdo nacional na construção de suas embarcações. Mas com o alto grau de sofisticação exigido para os navios militares, a barreira tecnológica é maior. No Brasil, por outro lado, há várias empresas de origem estrangeira com tradição de fornecedoras à indústria militar.

 

O presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais e de Offshore (CSEN) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), César Prata, lembra que na década de 80 houve grande aquisição de conhecimento, não só por parte da Marinha do Brasil, mas também por toda a cadeia produtiva local, quando foram construídas embarcações militares. “Este conhecimento não se perdeu, está vivo na Marinha e nas empresas brasileiras que atenderam à instituição na ocasião”, diz. O executivo destaca que a partir da ‘mil standard’, norma militar que norteou os projetos da época, os fornecedores aprenderam a dimensionar e adaptar seus equipamentos aos rigorosos níveis de ruído pelo ar, estrutura, vibração e absorção de choque.

O investimento em pesquisa coloca num patamar acima os fornecedores internacionais. Especializado em motores a diesel, sistemas de propulsão e sistemas de geração distribuída, a MTU do Brasil, de origem alemã, iniciou o fornecimento de sistemas de propulsão para os navios da Marinha do Brasil na década de 70. No país, os investimentos são dirigidos predominantemente ao suporte de pós-venda e onde é possível haver incremento de conteúdo local dos produtos.

Segundo o diretor geral da MTU do Brasil, Adolfo Soifer, alinhada com a matriz, a empresa investe no Brasil em atualização tecnológica, com programas de educação e treinamento continuados para os profissionais. “Buscamos a excelência nos produtos e no atendimento ao pós-venda. A MTU mantém centros de treinamento em vários países com este objetivo. Desta maneira esta educação tecnológica se faz olhando os nossos profissionais como o principal fator de absorção de tecnologia, capacitando-os para a realização de suas tarefas com qualidade e eficácia”, afirma.

Quem também mantém um centro de pesquisa para o desenvolvimento de seus equipamentos é a Alfa Laval. Multinacional sueca, presente em mais de 100 países, a empresa projeta suas soluções em sua universidade instalada na Suécia, e a tecnologia é então entregue a todas as empresas no mundo. “Neste centro são pesquisados os materiais, os tipos de produtos até se chegar aos protótipos e aos testes. Posteriormente, são feitos testes também com clientes até que o produto seja homologado dentro da comunidade europeia. Depois de não oferecer nenhum risco ao projeto, ele é reportado para fora como um possível equipamento a ser fabricado”, explica o gerente de Divisão da Alfa Laval, Carlos Funes.

A companhia também envia ou recebe engenheiros para treinamento e transferência de tecnologia. Centrífugas separadoras, trocadores de calor e dessalinizadores fazem parte dos equipamentos fornecidos a navios da Marinha pela empresa há mais de 25 anos. Neste escopo de produtos, acrescenta Funes, alguns são totalmente importados e outros contam apenas com alguns componentes fabricados no exterior. “Não somos competitivos quando cotamos em reais, mas para a Marinha temos isenções e entregamos o produto em reais”, esclarece. O escritório de vendas e a fábrica da companhia no Brasil estão localizados em São Paulo.

Na avaliação da brasileira SKM, fornecedora para a autoridade marítima desde 1992, a demanda da Marinha exige das empresas que atuam ou que pretendem atuar na indústria naval militar atualização tecnológica constante para atender às necessidades, no que se refere à modernização e nacionalização dos equipamentos. Para isso, a companhia também investe em pesquisa e desenvolvimento, além de treinamento através de parcerias com outras empresas para a transferência de tecnologia. “Na área de elétrica, temos uma parceria com a Schneider Electric, na parte de controle de geradores somos parceiras da Deif, uma empresa da Dinamarca. Somos também o solution provider da Rockwell na área de automação e nós temos ainda uma parceria com a MTU na área de fabricação de motores diesel para aplicação naval”, enumera o diretor da SKM, José Carlos Machado.  Segundo o executivo, no último mês de maio, um grupo de engenheiros da SKM esteve na Schneider Electric da China durante 15 dias para fazer atualização tecnológica e verificar a elaboração de projetos e montagem de painéis elétricos. “A SKM trabalha nesse processo para ser uma montadora credenciada da Schneider para quadros elétricos para a área naval”, acrescenta.

A SKM é uma empresa de engenharia voltada ao desenvolvimento e fornecimento de soluções tecnológicas, focada em sistemas de controle e supervisão de máquinas e sistema de geração para navios militares. A parceria com a Marinha teve início através do fornecimento dos sistemas de controle e monitoração da propulsão, máquinas auxiliares e avarias das corvetas classe Inhaúma e do navio tanque Almirante Gastão Motta, cujos projetos foram concluídos em 1994. A partir daí, diz Machado, a SKM passou a ter um maior envolvimento com a Marinha, prestando suporte técnico não só a estas embarcações, mas também a outros navios, como fragatas, navios-patrulha, navios-varredores, navios de apoio oceanográfico, porta-aviões e submarinos, incluindo ainda as bases e estações navais da instituição.

Os equipamentos utilizados pela companhia para desenvolver suas soluções são semelhantes aos utilizados em laboratórios de eletrônica ou em institutos de pesquisa para outras finalidades. Segundo Machado, a eletrônica dos equipamentos é semelhante, e a aplicação é diferenciada. “A tecnologia utilizada, por exemplo, em um sistema de supervisão e controle de um PSV, por exemplo, guarda proporções de um navio militar, exceto o atendimento a requisitos de choque, vibração, salinidade, temperatura, interferência eletromagnética. Nosso grande diferencial é o material humano”, afirma Machado. Além dos sistemas de automação para a propulsão, a companhia também tem em seu portfólio quadros elétricos, PMS (Power Management System), derramadores e painéis locais.

O conhecimento que a empresa adquiriu ao longo dos anos vem antes mesmo da sua formação. Machado conta que integrantes da SKM são oriundos da empresa Eletrocontroles Villares. Na década de 80, acrescenta o executivo, essa empresa assinou com a Marinha do Brasil um projeto para desenvolver o sistema de previsão e controle da propulsão, máquinas auxiliares das corvetas classe Inhaúma. O processo de desenvolvimento teve também em seu bojo a transferência de tecnologia da Hawker Siddeley, especializada na área de sistema de controle de propulsão para embarcações militares. “Todo esse processo que utilizamos vem desde 1985, quando ainda não existia a SKM propriamente dita, mas o grupo que hoje forma a empresa é oriundo do setor de automação naval da Villares. No decorrer do tempo, os investimentos que fazemos são justamente para aprimorar esses conhecimentos e tecnologias”, explica o diretor.

Diferentemente das outras empresas, a Siem Consub não utiliza a transferência de tecnologia na produção de suas soluções tecnológicas. A companhia é a marca registrada da DSND Consub,  empresa brasileira, fundada em 1981, que atua na navegação de apoio marítimo e no setor de defesa, desenvolvendo sistemas de comando e controle para aplicações militares. Para assegurar um custo baixo à Marinha, já que não existe uma demanda contínua dos projetos, a companhia não verticaliza a produção. A Siem Consub concentra seus esforços no conhecimento tecnológico através do desenvolvimento de softwares e interfaces. “Desenvolvemos a parte principal dentro das nossas instalações que ficam em uma área em comodato dentro do arsenal de Marinha, por conveniência mútua, mas principalmente sigilo e segurança, e tudo o que não é o coração ou cérebro dos equipamentos, compramos de fornecedores. Levamos então para as nossas instalações e fazemos a parte final e a inclusão da parte principal, que é fabricada por nós”, explica o diretor-presidente da Siem Consub, Celso Costa.

Segundo o executivo,  a companhia também já contou com serviços de cooperação com o Instituto de Pesquisas da Marinha na confecção de produtos. “Em diversas ocasiões, desenvolvemos produtos a partir de alguns estudos que o IPQM havia iniciado e também levamos algumas tecnologias que estávamos desenvolvendo para serem testadas e enriquecidas pelos profissionais do instituto. Houve diversos eventos de interação técnica entre a nossa equipe e a da IPQM”, ressalta.

A inovação tecnológica também tem sido para a Siem Consub uma constante ao longo deste período. “Já desenvolvemos até a sexta geração de equipamentos e estamos trabalhando em uma mais moderna. Estamos constantemente procurando estar na frente da tecnologia atual, já trabalhando no desenvolvimento dos sistemas que vamos poder oferecer no futuro”, diz.

Entre as soluções já fornecidas à Marinha pela empresa estão sistemas de combate para as fragatas da classe Niterói e da corveta Barroso, minas submarinas inteligentes, com lançamento programado e sensores remotos de atuação, sistemas de vigilância e monitoramento e laboratórios de desenvolvimento de sistemas e de simulação e treinamento. Além disso, a companhia também já instalou sensores e sistemas de armas, e desenvolveu interfaces para os navios de combate,  sistemas hiperbáricos e câmaras de resgate submarino. Atualmente, a Siem Consub está desenvolvendo sistemas para a nau capitânea NAer São Paulo, para os navios-patrulha e para os novos submarinos.

 

Prosub. A cerimônia que marca o início da construção dos submarinos convencionais (S-BR) da classe Scorpène, de tecnologia francesa, no Brasil aconteceu no último dia 16 de julho. Na ocasião, foi feito o corte da primeira seção de metal do primeiro submarino no canteiro de obras de Itaguaí, no Rio de Janeiro. Também foi iniciada a implantação da Seção de Qualificação, unidade na qual engenheiros, técnicos e operários brasileiros treinados na França poderão comprovar a absorção — com a posterior aplicação — dos conhecimentos técnicos e tecnológicos recebidos. A fabricação dos S-BR, como são chamados os quatro submarinos convencionais incluídos no Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), representa o primeiro passo para a construção do submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR). A iniciativa foi firmada entre Brasil e França no final de 2008.

Parte dos equipamentos desenvolvidos para os quatro submarinos convencionais, de propulsão diesel-elétrica, poderá ser aproveitada no submarino de propulsão nuclear brasileiro, que será fabricado com os mesmos métodos, técnicas e processos de construção desenvolvidos junto aos franceses. Segundo a Marinha, esse processo de capacitação da indústria de defesa nacional, que envolve transferência de tecnologia e nacionalização dos equipamentos, permitirá que a qualificação obtida pelos profissionais brasileiros, sobretudo na fabricação do SN-BR, possa ser utilizada em outros segmentos da indústria nacional.

A instituição considera também que o estímulo, pelo Prosub, à indústria de fornecedores nacionais, aliado ao grande processo de capacitação empreendido, é o maior trunfo do programa. Uma vez capacitado e com parque industrial ativo, diz a Marinha, o Brasil não dependerá de outro país para fazer submarinos convencionais e de propulsão nuclear. Pelo acordo, os franceses terão de repassar know how para determinadas indústrias fabricarem no Brasil itens usados nos submarinos. A Marinha estima que cada submarino produzido no Brasil contará com mais de 36 mil itens confeccionados por mais de 30 empresas brasileiras. Entre esses equipamentos estão quadros elétricos, válvulas de casco, bombas hidráulicas, motores elétricos, sistema de combate, sistemas de controle, motor a diesel e baterias especiais de grande porte, além de serviços de usinagem e mecânica.

A SKM é uma das empresas que podem auxiliar a Marinha no fornecimento de equipamentos para os submarinos. “Somos a única empresa brasileira que desenvolve o comissionamento da propulsão dos submarinos classe Tupi e do submarino Tikuna, que consiste nos trabalhos de instalação e ajustes dos equipamentos da propulsão, teste de cais e provas de mar, como também dos sistemas  de governo, monitoração dos motores diesel, baterias, conversores de frequência e outros”, enumera Machado.

Costa, da Consub, também diz que a empresa está apta a ser um dos provedores de sistema de combate para os submarinos.  “Ele [o submarino] tem um espaço reduzido, além de sensores e armamentos que um navio de superfície não tem. O sistema é, na sua essência, muito parecido, mas também tem suas especificidades. A Marinha gostará de ter nesses submarinos um cérebro de combate brasileiro, que ela conheça e possa manter atualizado, e nós queremos ser os fornecedores desse sistema”, destaca.

A Alfa Laval, segundo Funes, já tem experiência no fornecimento a submarinos de outros países. “Temos uma grande penetração nesse mercado de guerra. O programa de selecionamento interno de equipamentos que temos na Alfa Laval, que são corporativos globais, me permite navegar e procurar esse tipo de produto, que já faz parte da nossa linha. Não há nada de novo que teríamos que construir”, afirma o executivo. Apenas China, Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia detêm o domínio tecnológico para o desenvolvimento do submarino movido a energia nuclear. A partir do Prosub, o Brasil passará a integrar a lista.

A brasileira Spectra Tecnologia ainda não é um fornecedor da Marinha, mas segundo o presidente da companhia, Eduardo Almeida, a empresa poderia ser responsável pela simulação dos submarinos. “Poderíamos fornecer sistemas de controle baseado em inteligência distribuída. Esta eletrônica de caráter multiplexado é algo que poderíamos fazer e é importante porque os equipamentos conversam entre si”, diz. Mas, segundo Almeida, algumas barreiras nos contratos dificultam a participação de novos fornecedores. “Existe uma cláusula que diz que a Marinha só aceitará comprar de quem já forneceu”, argumenta.

Atuante no mercado automobilístico desde 1989, a Spectra Tecnologia fornece equipamentos e serviços às áreas de engenharia e desenvolvimento das principais montadoras do segmento automobilístico e fabricantes de autopeças. No segmento offshore, a companhia projeta e fabrica CLPs maritimizados e programas desenvolvidos para aplicações de controle e supervisão em ambiente de águas profundas.

 

Estaleiro. Para viabilizar o programa de submarinos brasileiro foi constituída a Itaguaí Construções Navais (ICN), parceria entre a francesa DCNS e a construtora brasileira Norberto Odebrecht. A união foi formada com a participação da Marinha do Brasil, que detém golden share sobre questões referentes à atuação da empresa. A ICN será a responsável pela construção dos cinco submarinos. Além da fabricação dos submarinos, o programa também contempla a construção de um estaleiro e de uma base naval para abrigar as embarcações. Os empreendimentos serão instalados na Ilha da Madeira, no Rio de Janeiro.

As obras incluem também a instalação de uma Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem), que será alojada em um terreno ao lado da Nuclep, estatal encarregada de produzir as seções cilíndricas que formarão os corpos dos submarinos. A inauguração da Ufem acontecerá em novembro de 2012. A conclusão do estaleiro é estimada para 2014. Já a base naval deverá ficar pronta seis meses depois. A Marinha prevê que o primeiro dos quatro submarinos convencionais esteja pronto em 2016 e, após a realização dos testes de cais e mar, seja entregue em meados de 2017. Os demais submarinos convencionais serão entregues a cada ano e meio e o primeiro submarino com propulsão nuclear, em 2023.

No caso do submarino nuclear, a França será responsável pela parte não nuclear do projeto, ou seja, o Brasil é subcontratado pelos franceses para desenvolver o reator nuclear, que será o primeiro totalmente construído no Brasil. Ele é 100 vezes menor do que o utilizado na usina Angra 2. A energia produzida pela unidade servirá para movimentar o submarino e alimentar o sistema de iluminação, sistemas eletrônicos e outros utilizados pela embarcação. Os principais equipamentos para sua construção foram adquiridos ao longo dos anos. Apesar do nome, o submarino brasileiro não usará armamento nuclear. Já o motor, em si, será elétrico. O primeiro a ser testado será um motor francês, fornecido pela Jeumont, que faz parte da parceria com a França. Mas a Marinha também quer desenvolver o motor no Brasil.

Estimativas da autoridade marítima apontam que a nova unidade de conversão para a produção de combustível para o submarino nuclear deve iniciar a operação no próximo mês de setembro. Ela será responsável pela conversão do yellow cake, que é a transformação do urânio em forma de pó para o gás hexafluoreto de urânio. A unidade de conversão e o reator estão sendo construídos no Centro Experimental de Aramar, localizado na cidade de Iperó, no estado de São Paulo, onde a Marinha mantém atividades de pesquisa e desenvolvimento. As obras do prédio das turbinas também já foram iniciadas. A previsão é que até 2014 estejam prontas as instalações para os testes do reator que será usado no submarino. Os investimentos para todo o Prosub estão estimados em 6,7 bilhões de euros, ou R$ 15,8 bilhões.

 

Prosuper. A Marinha também é responsável pelo Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper), que prevê a construção de 11 navios. Deste montante, cinco são navios-escolta de seis mil toneladas, outros cinco são navios-patrulha oceânicos de 1,8 mil toneladas e um é de apoio logístico, que terá 13 mil toneladas. O custo total do programa deve ser de aproximadamente 5,5 bilhões de euros. O projeto prevê que 10 embarcações sejam construídas no Brasil. Devido à complexidade, apenas a construção do primeiro escolta ainda não foi definida se será feita no país.

Caso seja necessária a construção no exterior, a Marinha pretende que seja feita com a presença de engenheiros brasileiros, já que a transferência de tecnologia é um dos fatores condicionantes para o contrato. Outra determinação é a obrigatoriedade de associação a um estaleiro nacional, que a empresa escolherá, sem interferência da Marinha. Estaleiros da Itália, Espanha, Inglaterra, França, Alemanha e Coreia do Sul apresentaram propostas para a construção dos navios do Prosuper.

Para a Abimaq, os requisitos militares dos navios-patrulha são bastante inferiores aos dos navios de combate já confeccionados pela Marinha há 30 anos, como as corvetas. Por isso, Prata não vê a necessidade de se buscar tecnologia no exterior para produzir os navios. “Deveriam usar recursos a fundo perdido do Ministério de Ciência e Tecnologia para desenvolver um projeto 100% nacional, com engenharia brasileira, grande conteúdo local e baixa dependência de estrangeiros para a manutenção e operação desses barcos”, opina. A expectativa da Marinha é de que os navios-escolta alcancem índice de nacionalização superior a 40%. Já o navio de apoio logístico deverá ter conteúdo local acima de 55%, enquanto que o índice de nacionalização dos navios-patrulha oceânicos deverá ter conteúdo local superior a 60%.

na avaliação de prata, há um grande número de empresas brasileiras preparadas para atender as necessidades da Marinha brasileira. “A Marinha é nacionalista por natureza e sempre vai olhar as parcerias com empresas nacionais com bons olhos. É estrategicamente difícil um órgão de defesa depender de estrangeiros, pois em termos de conflitos internacionais poderiam ter de parar a frota por falta de peças”, diz.

 

PRM. Outro programa mantido pela autoridade marítima é o Programa de Reaparelhamento da Marinha. O PRM prevê a contratação de 30 navios-escolta, 12 navios-patrulha de 1,8 mil toneladas e cinco navios de apoio logístico até 2030. As embarcações estão previstas para serem entregues até 2045. O primeiro lote a ser licitado deve contemplar a obtenção de cinco navios-escolta, cinco navios-patrulha e um navio de apoio logístico. O custo estimado de uma fragata (navio-escolta) é de aproximadamente 500 milhões de euros. Já o preço de um navio-patrulha de 1,8 mil toneladas é de, em média, R$ 230 milhões, enquanto que o de uma embarcação de apoio logístico é de cerca de 200 milhões de euros.

O PRM projeta ainda a construção de 46 navios-patrulha de 500 toneladas. Dessa classe de navios, um primeiro lote englobou duas embarcações, que já foram construídas pelo estaleiro Inace e incorporadas à Marinha. Outros quatro navios de um segundo lote já foram contratados e estão sendo construídos pelo estaleiro Eisa. A entrega destas embarcações está prevista para abril de 2012, outubro de 2012, abril de 2013 e outubro de 2013, respectivamente. O terceiro lote dos navios-patrulha deve reunir quatro ou seis unidades. A Marinha tem previsões de licitá-lo ainda este ano.

Segundo a instituição, o projeto das embarcações será o mesmo para as próximas licitações. O custo de um navio-patrulha de 500 toneladas é estimado em cerca de R$ 80 milhões, mas o preço vai sendo reduzido ao longo da série. De acordo com a Marinha, ao final do programa, o valor deve ficar em torno de R$ 50 milhões, com o armamento já incluído. O sistema de armas representa, segundo a entidade, 18% do custo global da proposta. O índice de nacionalização aumentou de 50% para 60% do primeiro lote para o segundo, de acordo com a Marinha.

A Siem Consub acredita que com a licitação para os navios-patrulha novas oportunidades surgirão aos fornecedores. “Para eles [os navios-patrulha], é preciso desenvolver o sistema de combate mais leve, que ocupe menos espaço e tenha mais flexibilidade, porque é uma embarcação menor. Nós, inclusive, já incorporamos controle de navegação aos sistemas que vão para os navios-patrulha. Em uma fragata, pode-se ter todos os equipamentos de navegação no passadiço e numa sala de combate esse sistema [de combate], porque existe espaço suficiente. Num navio patrulha, o espaço é muito mais reduzido e estamos oferecendo um produto mais integrado”, declara Costa.

Além dos programas de construção de navios da Marinha, a Siem Consub também tem oferecido propostas à Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), pertencente à Marinha, em contratos de exportação. “No momento estão sendo negociados alguns possíveis fornecimentos de navios militares brasileiros para países amigos e eles levarão tecnologia brasileira, inclusive da nossa empresa”, disse Costa, sem revelar os tipos de embarcações e os países compradores. Há cerca de cinco anos, a Consub integra a cadeia de fornecedores da Marinha do Brasil para fornecimento de navios e equipamentos para nações amigas.

Para aqueles que ainda não fazem parte do grupo de fornecedores da Marinha, mas gostariam de ser um dos provedores de equipamentos para a instituição, alguns vendedores dão dicas sobre o caminho percorrido. “Entendemos que é preciso ter uma linha de produtos que se adequem aos requisitos exigidos pelas especificações técnicas, com alta qualidade e capacidade de prestar os serviços demandados durante a fase de pós-venda ao longo do ciclo de vida do produto”, diz Soifer, da MTU do Brasil. A estratégia, na avaliação da SKM, é atuar com pequenos serviços de fornecimento. “À medida que se vai prestando seu serviço, o cliente vai reconhecendo seu valor. Você tem que mostrar que tem experiência anterior, porque não é a mesma situação de estar em um navio civil”, afirma.

 

Fluviais. A Marinha, além dos três programas, também prevê a construção de quatro Avisos Hidroceanográficos Fluviais (AvHoFlu). A instituição assinou contrato com o estaleiro Inace no último dia 26 de maio. Segundo a Marinha, o AvHoFlu será construído a partir de Especificação de Aquisição, de acordo com os requisitos técnicos de projeto e de desempenho elaborada pela Diretoria de Engenharia Naval. Cada navio terá comprimento total de 25 metros, boca moldada máxima de oito metros e calado máximo de 1,4 metro, comportando 12 tripulantes e deverá ser dotado de um laboratório seco e um paiol de material hidroceanográfico.

Os quatro AvHoFlu serão entregues até novembro do próximo ano e destinados à execução dos Levantamentos Hidroceanográficos em águas interiores na Bacia Amazônica, sob a responsabilidade da Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha. O objetivo é atualizar continuamente a cartografia náutica das principais hidrovias na região. A construção dos navios está inserida no Projeto Cartografia da Amazônia, realizado em parceria com o Exército, a Aeronáutica e o Serviço Geológico do Brasil, e coordenado pelo Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), subordinado ao Ministério da Defesa e responsável pelo repasse dos recursos financeiros.

 

Expectativas. Os projetos de construção da Marinha são de longo prazo e dependem muito de seu orçamento. O governo federal determinou no último mês de fevereiro o contingenciamento de R$ 1,64 bilhão do valor previsto para a instituição. O total de verbas foi reduzido de R$ 4,71 bilhões para R$ 3,07 bilhões. Para Funes, da Alfa Laval, cortes orçamentários prejudicam significativamente o andamento dos programas. “É difícil enxergar um horizonte para novos projetos, seja navio, seja submarino. São programas interessantes, que mostram um potencial, mas ficamos imaginando quando realmente vai sair alguma coisa, tendo em vista os cortes orçamentários para as Forças Armadas, o que é muito ruim”, salienta

Almeida, da Spectra Tecnologia, ressalta que o contingenciamento é uma das principais dificuldades para os fornecedores e pode levar até mesmo a falência de empresas. “As Forças Armadas têm um orçamento que precisa ser renovado todos os anos. Talvez seja uma fria colocar terceiros sob esse regime. Num trabalho de três anos, por exemplo, montamos a estrutura para este período. Daí, temos um orçamento garantido para o primeiro ano e, no segundo ano, eles dizem que não têm o dinheiro. O que fazemos? Não ter garantia de cronograma físico e financeiro pode quebrar as empresas”, diz.

A inexistência de perspectiva de negócios futuros, avalia Funes, é uma das principais dificuldades dos programas da Marinha. “Sabemos que o plano é bastante agressivo, tem  inúmeras intenções de projetos, mas quando isso vai acontecer?”, indaga ele, ressaltando que as vendas da companhia para a autoridade marítima são de equipamentos para navios existentes, os quais estão, de alguma forma, sucateados e exigem uma reposição. A companhia destaca que gostaria de ver um pouco mais de ação no mercado da indústria naval militar.

“É um mercado que tem muita intenção, especulação, mas não tem muita coisa concreta acontecendo”. Apesar de ter na Marinha um bom referencial, a companhia não vislumbra qualquer possibilidade de negócio para novas embarcações nos próximos anos. “Ainda há muitas incógnitas de quando sairia alguma coisa. Com exceção de alguma reposição de algum equipamento que possa ocorrer dentro de um navio existente, não gero expectativa para os próximos três anos ligada a novos projetos da Marinha do Brasil”, conclui.

 



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