Navalshore 2024

Em reaquecimento

 

Estaleiros especializados em embarcações de apoio ‘offshore’ avaliam que contratações serão ampliadas — Estaleiros especializados em embarcações de serviço avaliam como positivo o cenário atual, com perspectivas de novos investimentos na logística do pré-sal. Mas especialmente os estaleiros com foco em barcos de apoio respiram aliviados com a volta das encomendas da Petrobras. Com a previsão de expansão da exploração de petróleo no mar, as embarcações de apoio marítimo permanecem como o grande filão para o segmento. Neste ano, foi aprovada a contratação de 23 novas embarcações, na Quarta Rodada do Plano de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (Prorefam), e o mercado aguarda a Quinta Rodada do programa.

As licitações anteriores do projeto ocorreram de 2008 a 2011. A Quarta Rodada sinaliza o que os estaleiros especializados já sentiam: que, após um período de estagnação no mercado, está havendo uma retomada das encomendas. A Petrobras informa que, até o momento, foram contratadas 79 embarcações através do Prorefam. A quinta, sexta e sétima rodada do programa só deverão ocorrer a partir de 2014 e serão semestrais. Se o cronograma ocorrer como o planejado, as encomendas por embarcações de serviço deverão se manter aquecidas no futuro próximo.

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MCI


Em agosto, o Diário Oficial da União publicou a resolução nº 124 do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM), informando que a relação de projetos com prioridade de financiamentos ao setor naval e offshore soma R$ 17,2 bilhões. Para o segmento de apoio marítimo, 24 navios tiveram a prioridade aprovada, somando investimentos de R$ 10,7 bilhões (cerca de 61,8% do total aprovado). Seis projetos de construção e modernização de estaleiros nos estados do Pará, Alagoas, Espírito Santo, Rio Janeiro e Rio Grande do Sul — que juntos somam R$ 4,5 bilhões — também foram contemplados. Os R$ 2 bilhões restantes foram destinados a 37 projetos de embarcações para cabotagem e navegação interior. A 23ª reunião do CDFMM será em outubro.

A carteira atual de projetos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) inclui todas as contratações efetuadas nos anos anteriores e totaliza R$ 31 bilhões. Nesta soma não estão necessariamente incluídos os R$ 17,2 bilhões liberados pela resolução 124, já que essa verba só é incluída na conta total da carteira quando as empresas solicitantes de financiamentos conseguem fechar contratos com agentes financeiros. O Fundo informa que só em 2012 foram contratados R$ 12,2 bilhões, aumento de 90,6% em relação ao ano anterior e 45,2% sobre os R$ 8,4 bilhões registrados em 2007, maior valor registrado nos últimos seis anos.

A Petrobras só contratou 56 embarcações das 146 previstas para serem construídas entre 2008 e 2014. O programa previa a construção de 64 Anchor Handling Tug Supplies (AHTS), 64 Platform Supply Vessels (PSV) e 18 Oil Rig Supply Vessels (ORSV).

O Brasil hoje tem uma frota de 450 embarcações de apoio — sendo 211 de bandeira brasileira (46,8% do total) e 239 estrangeiras (53,1%). “Até 2020, o Brasil deverá ter pelo menos mais de 700 barcos do segmento em operação, segundo planejamento da Petrobras”, diz o diretor-executivo da Wilson, Sons UltraTug Offshore e diretor da Abeam, Gustavo Machado. A estimativa da associação é que o país gaste US$ 4,5 bilhões com afretamentos de navios em 2013. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) informa que os afretamentos de embarcações atingiram em 2012 o valor de US$ 3 bilhões, aumento de 22,8% ante 2011.

Segundo dados da Abeam, coletados em maio deste ano, os PSVs compõem a maior parte (40%) das embarcações em uso hoje no Brasil. Logo após estão os AHTS (22%), LH/SV (Line Handling/Supply Vessel, 17,1%), OSRV (8,4%), FSV (Fast Supply Vessel, 4,4%), DSV (Diving Support Vessel, 3,1%), PLSV (2,2%), MPSV (Multi Role Service Vessels, 1,7%), WSV (0,8%).

Para a diretora do departamento offshore do estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace, sediado em Fortaleza), Flávia Maria de Barros, 2013 está melhor do que 2012 em relação às encomendas por embarcações de serviços. “Este ano está com um ritmo melhor que o ano passado. É difícil fazer previsões, pois o mercado oscila bastante de um ano para o outro, mas é como se o setor estivesse passando por uma retomada depois de um período com baixo número de pedidos”, avalia.

Flávia diz que, apesar do desaquecimento do mercado, a empresa não ficou parada e continuou investindo em consultorias para melhorar a produtividade e se preparar para disputar os contratos da Petrobras. “Estamos sempre entrando em contato com novas consultorias para conseguir ter uma visão diferente dos nossos processos produtivos”, afirma. A atual carteira de encomendas do Inace inclui dois Diving Support Vessels (DSVs a serem entregues no segundo semestre de 2014), um OSRV (que deverá estar pronto até 2015), além de outras embarcações, como um navio de patrulha P5 (a ser entregue este ano ainda), um Navio Hidroceanográfico Fluvial (NHoFlu) para a Marinha do Brasil (que deverá receber a embarcação no começo de 2014), dentre outras.

O gerente de Produção do estaleiro TCE, Rodrigo Ferro, lembra que com a crise financeira de 2011, que abalou todas as principais economias do planeta, todo mundo ficou em compasso de espera. “Foram quase dois anos segurando investimentos. Mas hoje, o setor encara a retomada das encomendas com os mesmos gargalos de antes: falta de mão de obra qualificada, altos impostos, problemas com fornecedores e de infraestrutura, dentre outras questões”, diz Rodrigo Ferro.

A Leverfort, especializada em barcos de alumínio, sempre mantém uma equipe de técnicos qualificados e preparada para quando há uma retomada no número de encomendas de embarcações, após períodos de baixa demanda. “Como todos no setor, sentimos os efeitos do desaquecimento do mercado, principalmente pela Petrobras ter segurado os negócios. Mas sempre atualizamos os funcionários com treinamentos e qualificação”, explica o diretor da empresa, Luis Celso da Silva. Para o setor de apoio offshore, a empresa fabrica supply boats e workboats, embarcações de trabalho para resposta a emergências, que também transportam carga geral e funcionários e tracionam barreiras de contenção de óleo.

Silva não abre números de faturamento e de encomendas, mas vê ótimas perspectivas para o mercado nos próximos anos. “Estamos com vários negócios em andamento e esperamos fechar alguns novos contratos ainda em 2013.”

No ano passado, a idade média da frota de embarcações de apoio do país registrou a primeira alta após três anos de queda consecutiva: 13,8 anos, 5,3% maior que o de 2011, mas 21,6% menor que os 17,6 anos de 2009. Apesar de parecer ser um dado preocupante, a Antaq diz que a frota brasileira de apoio marítimo possui a menor idade média dentre todas as modalidades de navegação no país e é a que mais tem se renovado no Brasil, devido justamente ao Prorefam.

De olho no mercado de barcos de apoio marítimo, a Oceana Navegação foi fundada em 2012 e iniciou a construção de uma planta em Itajaí (SC) no mesmo ano. O estaleiro de mesmo nome inicia suas atividades construindo para o próprio grupo. “O nosso plano é cortar em setembro o primeiro aço da primeira embarcação que vamos construir, um PSV 4.500, que vai dar partida ao estaleiro. Vamos construir mesmo sem nenhum contrato. Com esse navio, queremos participar da 5ª rodada de licitações de encomendas da Petrobras”, explica o diretor presidente da Oceana, Divalmir (Jimmy) de Souza.

O estaleiro está dimensionado para construir uma embarcação de até 120 metros de comprimento, que cobre toda a gama possível de embarcações offshore, incluindo WSVs (Well Stimulation Vessels) e RSVs (Research and Supply Vessels). O PSV que a Oceana está construindo tem 89 metros. “Nosso plano de negócios não é operar em cabotagem, mas apenas em apoio marítimo, porque percebemos uma oportunidade muito grande no setor”, diz. Quando o estaleiro ficar pronto, terá capacidade de entregar até quatro PSVs por ano e três AHTS, transporte mais complexo de se construir e operar e com maior valor agregado.

O diretor executivo da Wilson, Sons UltraTug Offshore, Gustavo Machado, aponta que o PSV 3000 é o mais comum nas operações da Petrobras na Bacia de Campos, de Santos e no Nordeste. “Hoje é comum em outros países os PSVs 5000 e 5500, com grande capacidade de transporte de carga. Mas, por algum motivo, a companhia prefere, por enquanto, operar os PSVs 4500. Por isso, esse é o tipo de embarcação que pretendemos focar nos próximos anos”.

Ele explica que, por conta de particularidades dos portos nacionais, a estatal brasileira faz algumas exigências aos estaleiros que estão construindo os navios. “Isso ocorre principalmente com navios fluideiros, destinados a transportar fluidos de perfuração, como petróleo, por exemplo. Às vezes fazemos projetos de embarcações especificamente para a Petrobras. Outras vezes, temos que fazer apenas algumas adaptações do projeto original às determinações da companhia”.

Este ano, a Wilson, Sons UltraTug Offshore entregou, por afretamento, dois PSVs 4500 à Petrobras, um em março e outro em setembro, e deverá entregar mais três até o início de fevereiro de 2014.

O diretor executivo da Wilson, Sons Estaleiros, Adalberto Luiz Renaux, destaca que o estaleiro tem espaço para crescer, pela elevada utilização de embarcações estrangeiras hoje no país. Hoje o braço de navegação do Grupo Grupo Wilson, Sons tem 16 navios próprios atuando com apoio marítimo.

Para atuar mais fortemente no mercado interno de apoio marítimo, o grupo Wilson, Sons inaugurou em abril a segunda unidade da Wilson, Sons Estaleiros, no Guarujá (SP). Fruto de um investimento de US$ 60 milhões, o novo estaleiro — batizado Guarujá II — dobrou a capacidade de produção da companhia, que fabrica rebocadores e embarcações de apoio offshore.

O estaleiro possui dique seco com 26 metros de boca e 145 metros de comprimento, o que permite construir uma gama de embarcações maiores e mais complexas do que anteriormente, como PSVs, AHTSs, PLSVS, ROVSV e ORSV.

A capacidade de produção do estaleiro Guarujá II é de 5,5 mil toneladas por ano. O espaço comporta a construção anual de, aproximadamente, quatro navios de apoio offshore e até seis rebocadores. Desde 2004, a Wilson Sons Estaleiros já produziu 41 embarcações, sendo 28 rebocadores e 13 PSVs.

Sediado em Manaus (AM), o estaleiro Rio Negro (Erin), tem contrato fechado com a Galáxia Marítima, do Rio de Janeiro, para construção das seguintes embarcações de serviço: quatro PSVs 4.500 e quatro OSRVs 750. A empresa também está construindo duas embarcações para a Companhia Norte de Navegação e Portos (Cianport), no Amapá. Após ser vendido, para o grupo Magalhães (da Metalúrgica Magalhães), o estaleiro Rio Negro passou por um processo de reestruturação e modernização e hoje tem a capacidade de processar até mil toneladas por mês, produzindo barcos de apoio e outras estruturas. O objetivo da empresa com a modernização não é atender apenas o mercado da região, mas as encomendas de todo o Brasil e também de outros países.

O diretor da Erin, Carlos Custódio, diz que ao mesmo tempo em que há uma demanda crescente por embarcações de apoio, os clientes estão ficando cada vez mais exigentes tanto no quesito qualidade quanto pontualidade. Segundo ele, boa parte dos estaleiros está com defasagem tecnológica e de processos produtivos, o que dificulta o atendimento da demanda. Diante disso, o estaleiro criou o próprio centro de treinamento e contratou instrutores qualificados para capacitar a mão de obra local.

De olho no crescimento do setor de petróleo e gás, a holding de investimento BR Offshore foi criada em 2010 para atuar na diretamente na área. “Hoje, há uma série de iniciativas de construção em andamento no segmento de apoio offshore, por isso, nosso objetivo é atuar só no campo de reparo”, diz o presidente da BR Offshore, Ricardo Luis de Lima Vianna. O executivo acredita que muitas das estimativas de encomendas divulgadas pelo mercado são conservadoras e vê com bons olhos o mercado de apoio marítimo. “Houve a retomada de novas licitações e contratações da Petrobras. A nossa perspectiva é que a frota nacional cresça a números superiores às estimativas da Abeam”, avalia. Por isso, está construindo um estaleiro e um terminal de serviços e logística em Barra do Furado, em Campos dos Goytacazes. A empresa conseguiu prioridade de financiamento de R$ 188 milhões do FMM. As unidades, que juntas somam 115 mil metros quadrados, estão hoje na fase de licenciamento e, segundo o cronograma, devem entrar em operação no primeiro semestre de 2015. “Vamos ter quatro docas secas, o que permitirá fazer reparos de até quatro embarcações simultaneamente.”

O estaleiro Ilha S.A. (Eisa), na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, tem hoje uma ampla carteira de encomendas. São quatro PSVs 5000, quatro PSVs 4500 e quatro PSVs 3000, além de seis OSRVs. Os PSVs deverão ser entregues até o final de 2015. “Só vamos iniciar novas construções a partir de 2015”, diz Josuan Moraes Júnior, presidente do Eisa. O executivo, que já passou pelos estaleiros Oceana e Detroit, conta que o estaleiro não sentiu a queda nas encomendas pela Petrobras dos últimos anos devido ao trabalho da área comercial da companhia na captação de novos clientes.

A empresa conseguiu prioridade de financiamento do FMM na ordem de R$ 230 milhões e investiu no início do ano na renovação e modernização dos próprios equipamentos e linha de produção. “Queremos ter um ganho de produtividade. Também estamos nos adaptando a mudanças do mercado, que pede embarcações cada vez maiores e com maior valor agregado”, relata. Para reter a mão de obra, investiu na qualificação de funcionários e em benefícios trabalhistas.

Como o Eisa, a Arpoador, especializada em embarcações de alumínio, também não sentiu tanto o recuo das encomendas pela Petrobras. Sediada no Rio de Janeiro e com unidades de produção no Guarujá (SP) e em Angra dos Reis (RJ), a empresa está construindo uma embarcação tipo P2 (com 50 metros e capacidade para o transporte de 3,8 mil toneladas de cargas e 70 passageiros), três do tipo P3 (com 35 metros destinados à movimentação de cargas e tripulação das plataformas), além de seis UTs (Utility) 4000. Todas as encomendas, fruto de licitação da Petrobras realizada em 2010, deverão ser entregues até 2015.

— Esse desaquecimento dos últimos anos foi um ajuste pontual da Petrobras. Quase não sentimos seus efeitos. Em 2008 conseguimos uma encomenda para entregar três embarcações do tipo P2, entregues no ano seguinte — relata Franco Netto, da área comercial da Arpoador. A empresa está investindo R$ 5 milhões para aumentar em 50% a capacidade do estaleiro do Guarujá, que poderá trabalhar em seis embarcações ao invés das quatro anteriores.

O TCE, localizado em Niterói, reforçou sua aposta no mercado de óleo e gás e investiu em aumento de área territorial do próprio estaleiro e em qualificação dos funcionários. Segundo o gerente de Produção, Rodrigo Ferro, a empresa preferiu se especializar em ser uma provedora de soluções de engenharia. “Fizemos uma boa análise do mercado e descobrimos esse nicho de soluções de problemas para indústrias, empresas da cadeia naval e de petróleo e gás.” A companhia trabalha com um grupo fixo de 200 pessoas, além de equipes flutuantes, para ajudar a dar conta do recado em momentos de alta demanda. Ela não revela números de faturamento. “A empresa vem ganhando mercado, mas não é um crescimento linear”, diz Ferro.

Miro Arantes comanda dois estaleiros, o Vard Niterói, localizado em Niterói (RJ), e o Vard Promar, localizado no complexo de Suape (PE) — este último, em implantação, cortou sua primeira chapa em junho. Nos últimos dez anos, a companhia entregou 30 embarcações, das quais 13 PSVs, PSLV, AHTS e outros barcos. Hoje, o Vard Promar tem dez encomendas, sendo oito gaseiros só para a Transpetro e mais dois PSVs. O Vard Niterói está com quatro navios na carteira, dos quais três são AHTS 18.000 e um PSV.

“Nunca tivemos um nível tão baixo de encomendas. Sentimos muito o efeito da Petrobras. Não assinávamos contrato desde 2010. Só voltamos a assinar contrato de navios offshore em 2013. Isso gera um grande hiato na empresa. Mas mesmo assim, continuamos investindo na planta industrial do Promar. Procuramos também atingir mercados além do offshore”, diz o presidente.

Segundo Arantes, muitos estaleiros se ressentiram pelo fato de a estatal ter aumentado o afretamento de embarcações estrangeiras nos últimos anos. “Apesar disso, nunca deixamos de investir, principalmente em função do plano de negócios da Petrobras para 2020. Acreditamos que vai haver necessidade de aumento e renovação da frota. É nisso que a gente acredita a longo prazo. Além disso, a Petrobras vem desenvolvendo novas necessidades que só ficarão mais claras com o tempo. Hoje uma das demandas é de embarcações mais específicas PLSV”, avalia o executivo.



Yanmar

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