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Encomendas atraem estrangeiras

Cada vez mais empresas se instalam no país para abrir novas frentes de negócios no setor naval e ‘offshore’

O potencial significativo de encomendas de navipeças, em razão da quantidade de embarcações que serão necessárias para atender ao pré-sal, tem feito alguns países estreitarem seus laços comerciais com o Brasil. A Espanha e a Finlândia são exemplos de nações que estabeleceram escritórios no país para prospectar novos negócios na área naval. Através da Asime BC do Brasil e da Finpro, respectivamente, fornecedores estrangeiros já começam a fixar bases no país ou a formar parcerias com a indústria nacional. A Asime Business Center (Asime BC) é uma sociedade espanhola constituída para promover e apoiar a implantação do setor metalúrgico galego no comércio exterior.  A Finpro é o órgão de fomento finlandês ligado ao ministério da Economia.


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“O Brasil é um mercado muito importante para nós, sobretudo pela atual crise que está acontecendo na Europa”, diz o gerente de indústria naval da Asime BC do Brasil, Daniel Díaz. Presente no Brasil desde outubro de 2010, a organização representa 25 empresas espanholas da área naval e da construção civil. No primeiro segmento, as companhias destinam-se principalmente à fabricação de equipamentos de solda, metais, habilitação, reparo, equipamentos de cobertura, refrigeração industrial, elevadores e engenharias. Já na indústria da construção civil, podem ser encontradas empresas de alumínio, ferragens, engenharia, estruturas metálicas, fornecimentos industriais e refrigeração industrial, além de atividades relacionadas à indústria automotiva.

Das 25 empresas, seis estão atualmente instaladas no país e quatro delas são do ramo naval. A primeira a se estabelecer em território brasileiro foi a Ghenova, especializada em serviços de engenharia naval, em dezembro de 2010. A empresa, inclusive, já firmou contratos no país. É a responsável pela engenharia de detalhamento e suporte dos oito gaseiros da Transpetro, que serão construídos no estaleiro STX Promar.

Outra empresa que também tem CNPJ no Brasil é a Dinain, cuja atividade está centralizada no desenvolvimento de navios e unidades offshore desde seu nascimento, como anteprojetos, projeto e engenharia básica, até a sua conclusão. A Formavigo, pertencente ao Tesol Group, é uma das principais empresas espanholas de automação de soldagem, e também está presente no país. Quem também fincou raízes no território brasileiro foi a Insenaval Engenharia, que participa do desenvolvimento e do projeto básico de navios, estaleiro e auxilia na obtenção de licenças.

De acordo com o gerente comercial da Asime BC do Brasil, Selmo Aureliano, todas as empresas associadas têm interesse em vir para o país. A organização estima que até 2014 cerca de 80% do grupo devem se estabelecer de alguma forma no Brasil. “Para as do ramo de construção civil, é mais difícil de se estabelecer aqui, porque é uma indústria pesada. Mas as do naval virão, seja através de parcerias, seja sozinhas”, afirma.

O foco principal de instalação destas empresas é o Rio de Janeiro. Algumas buscam produzir navipeças no país e outras querem instalar plantas para realizar serviços de acabamento, montagem e instalação. Até o final deste ano, segundo Aureliano, o investimento de empresas espanholas no Brasil será de 10 milhões de euros para implantação de quatro plantas industriais. Duas já estão definidas que virão para o Rio de Janeiro. “Podem ser três no Rio e uma no Nordeste ou duas no Rio e duas no Nordeste. Uma delas vem sozinha e as outras com parcerias com empresas locais. São todas para indústria auxiliar de navipeças, mas trabalharão tanto onshore como offshore”, adianta o executivo.

Um desses projetos está num ritmo mais lento por conta da mão de obra. Aureliano destaca que será necessária a formação de, pelo menos, 150 funcionários no Brasil para a gestão da planta. Para minimizar o gargalo, a Asime BC do Brasil tem contatos com a Firjan para a elaboração de cursos. “Provavelmente traríamos profissionais qualificados da Espanha e de Portugal que viriam qualificar os professores brasileiros para esses cursos”, diz Aureliano.

O executivo ressalta também que a maior parte das empresas interessada em vir para o Brasil busca a criação de uma joint venture para agilizar investimentos. Segundo ele, valores que seriam destinados à criação de uma unidade fabril, por exemplo, podem ser utilizados para a formação de pessoal. No caso da empresa que se instalará no Nordeste, diz Aureliano, está sendo aproveitada a mão de obra da unidade fabril já existente. “Só estamos requalificando o pessoal para necessidades que estamos tendo, que são profissionais para soldas específicas, operação da linha de produção e caldeiraria”, cita.

Por outro lado, o empresariado brasileiro, conta Aureliano, ainda tem receio de fechar parcerias com as estrangeiras. Mas a Asime busca mostrar que a intenção do estabelecimento das espanholas no país tem como objetivo o desenvolvimento de novos equipamentos. “Ele ainda encara com maus olhos a joint venture, porque não te vê simplesmente como parceiro, mas como concorrente. Mas temos conseguido mostrar que estamos trazendo conhecimento tecnológico e desenvolvendo um segmento que tem defasagem tanto tecnológica quanto de novos produtos na indústria naval.”

Para Díaz, os estaleiros nacionais têm encontrado algumas dificuldades em encontrar alguns equipamentos e, com a instalação das empresas, o mercado pode ser ampliado.“Somos conscientes de que muitas das nossas empresas fabricam produtos que praticamente não se faz aqui, como painéis isolantes, gruas e guindastes. Não há demasiada competência local”, avalia.

Quem também frisa que a ideia de instalação de companhias estrangeiras no Brasil é ser complementar à indústria nacional de navipeças é o diretor responsável pela Finpro no Brasil, Samuli Seilonen. “A Finlândia produz navipeças e vários tipos de tecnologias para estaleiros que não se tem aqui. Não somos concorrentes do Brasil, queremos ser complementares à indústria naval brasileira, fornecendo soluções que não existam aqui”, afirma.

Instalado em São Paulo há cerca de 20 anos para atender à demanda de setores como mineração e telecomunicações, a organização abriu um escritório no ano passado no Rio de Janeiro voltado exclusivamente às oportunidades da indústria naval brasileira e de navipeças. E o interesse das empresas já superou as expectativas do diretor. “Há muitas empresas querendo chegar, estamos com muito trabalho, mas até do que esperávamos. Já estamos compartilhando trabalho com colegas de São Paulo. Esse possivelmente é o mercado mais interessante do mundo para indústria finlandesa”, afirma o executivo.

A Wärtsilä é a que tem maior presença no país. Além dela, estão no Brasil a ABB Marine, que segundo Seilonen, tem planos de fabricação de sistemas de automação; no mesmo ramo está presente a Metso, que conta com cerca de dois mil empregados no país; a Cargotec e a Konecranes são da área de guindastes. Esta inclusive montou uma fábrica em Sorocaba, no estado de São Paulo, no ano passado, e desde janeiro começou a produzir pontes rolantes. Existem ainda as empresas que montaram escritório de vendas no Brasil, como a Outokumpu (aço), Vacon (conversores de frequência); Almaco (acomodações); Deltamarin (design); GS-Hydro (tubulações); Oilon (queimadores marítimos) e Vaisala (sistemas meteorológicos).

As empresas finlandesas com representantes brasileiros somam cerca de 50 e as que atualmente planejam ativamente o estabelecimento no país chegam a 20. A instalação pode ser através de unidade fabril, montagem de componentes ou escritório de vendas. Apesar do bom momento vivido pela indústria naval, Seilonen destaca que, em razão do volume de recursos que devem ser aplicados para se ter uma base no Brasil, é necessário um mercado concreto para que essas empresas possam se instalar. “É preciso ter certeza do nível de vendas para fazer esse investimento e, para uma empresa que está chegando ao Brasil, esse negócio ainda não existe”, constata.

Brasil e Finlândia também mantém acordos de cooperação com universidades de ambos os países. Desde o ano passado, Coppe-UFRJ e Universidade Federal de Pernambuco são parceiras da Aalto University e da Turku University of Applied Sciences, respectivamente, visando à troca de experiências no setor e intercâmbio de professores e estudantes. “Os primeiros estudantes brasileiros já foram para a Finlândia e ficarão lá por alguns meses. Além de estudantes, também irão pesquisadores com objetivo de fomentar as relações entre ambos os países”, ressalta.

Uma comitiva da Finlândia visitou o estado de Pernambuco no último mês de janeiro visando ao estreitamento dos laços entre o estado e o país na área naval e offshore. Também está prevista para este mês a visita dos pernambucanos ao país europeu.

Em face à demanda prevista para os próximos anos, o mercado naval brasileiro tem atraído cada vez mais olhares estrangeiros. (DJ)  n






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