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Engevix busca recomeço após Lava-Jato

Chamado ao leito de morte do iluminista Voltaire para lhe conceder a extrema unção, um padre exigiu como últimas palavras que ele renunciasse a Satanás. Reza a lenda que ouviu do filósofo, contestador da doutrina católica, uma negativa e a seguinte observação: "Agora, meu bom homem, não é hora de fazer inimigos".

O empresário José Antunes Sobrinho conta a história, de veracidade não comprovada, minutos antes de despedir-se. Após onze meses afastado do dia a dia da Engevix, seis dos quais detido em Curitiba, ele usa pela última vez sua ampla sala na presidência do grupo. Decorado com uma grande pintura abstrata e fotos de premiações internacionais no mundo da engenharia, o ambiente será desocupado nesta semana.


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Há certa melancolia no ar, pode-se enxergar. O edifício de três pisos, localizado em Alphaville, já não ostenta a musculatura de um grupo bilionário. As receitas da Engevix afundaram nos últimos três anos e são aproximadamente um quarto do que representavam antes da Operação Lava-Jato. Dos 13 mil trabalhadores diretos nos tempos áureos, sobraram pouco menos de três mil.

'Não é hora de fazer inimigos', afirma dono da empreiteira, José Antunes Sobrinho, que ficou seis meses detido

O primeiro andar do prédio já foi esvaziado. Será alugado para rateio de despesas como água e luz. A partir desta semana, sem sala própria, Antunes compartilhará baia com jovens em torno de 30 anos que cuidam da parte administrativa. Ninguém tem direito a luxo: só se usa Uber, viagens de avião ficaram restritas aos horários fora do pico, boa parte dos corredores está com a luz desligada para economizar.

Depois da prisão, Antunes condicionou sua volta à saída de seus dois sócios, Cristiano Kok e Gerson Almada. Ele comprou a participação da dupla por R$ 2 e assumiu as dívidas. Foram meses difíceis no cárcere, relata o empreiteiro, detido na 19ª fase da Lava-Jato.

"Ninguém ali é isento de alguma acusação, mas essas situações estimulam uma solidariedade muito grande entre as pessoas", diz Antunes, ao relembrar amizades construídas atrás das grades. Duas lhe foram especialmente caras: a do ex-deputado federal Pedro Correia (PP-PE), "sujeito muito culto e agradável"; e a do doleiro Alberto Yousseff, "libanês simpático", com quem o dono da Engevix dividia quitutes árabes levados pela mãe, de 87 anos, que o visitava.

Para se entreter, foram 43 livros, média de um a cada quatro dias, incluindo seu preferido, a biografia de George F. Kennan, pai da diplomacia moderna dos Estados Unidos e inspirador da Doutrina Truman, que buscava conter o avanço do comunismo.

Sem o bigode que lhe caracterizava antes, um pouco mais magro, Antunes diz que hoje é uma pessoa mais recolhida e mais focada no trabalho. Há duas semanas, ao fazer uma viagem de carro entre São Paulo e Curitiba, preferiu ir dirigindo sozinho. Para pensar na vida. A esposa e os dois filhos continuam morando em Florianópolis, mas a família evita exposição. Passou por algum tipo de constrangimento em lugares públicos? "Não, pelo contrário. Recebi muitas manifestações de solidariedade, mas a gente sabe que metade das pessoas fala mal por trás. A gente sente um ambiente de comentários. E eu me envergonho por tudo isso."

Na tentativa de reeguer a Engevix, Antunes fez um plano de recuperação da empresa, que já vendeu ativos como os aeroportos de Brasília e de Natal (onde era controladora junto com a argentina Corporación América) e a Desenvix (detentora de pequenas hidrelétricas e parques eólicos). Hoje, o grupo sobrevive com base em projetos de engenharia e na montagem eletromecânica da usina de Belo Monte. Está prestes a fechar um contrato de R$ 115 milhões com os indianos da Sterlite, que arremataram linhas de transmissão de energia, no último leilão do setor. Enquanto isso, a empresa busca uma solução para o estaleiro Rio Grande, que entrou em recuperação judicial.

Não é hora de fazer inimigos, frisa Antunes, evitando prolongar-se nas respostas sobre Lava-Jato. Algumas questões, porém, são inevitáveis. Noticiava-se, em 2016, que ele negociava uma delação premiada com a força-tarefa e mencionaria o então vice-presidente Michel Temer. Sem detalhes, soube-se apenas que ele desistira de fazer a delação. É verdade? "Te respondo só com uma frase. Não fui eu quem desistiu", conclui a conversa e despede-se de sua sala, que será desmontada. Recado dado.

Fonte: Valor






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