O Estaleiro Aliança, da Companhia Brasileira do Offshore (CBO), decidiu interromper o fornecimento de blocos de aço para a OSX por falta de pagamento. Os blocos estão sendo construídos para um dos poucos contratos restantes da empresa do grupo de Eike Batista, que prevê o fornecimento de uma embarcação lançadora de dutos submarinos para a japonesa Sapura. A construção dos blocos foi iniciada em dezembro de 2012, antecipando etapas das obras do navio enquanto o estaleiro do Porto do Açu não começa a operar.
Segundo fontes, o estaleiro decidiu segurar as entregas até que os pagamentos sejam retomados. Procuradas, as duas empresas não se manifestaram sobre o assunto. Na divulgação do balanço do segundo trimestre, a OSX informou que as obras do navio estavam com avanço físico de 26,1% no dia 30 de junho, com transferência dos blocos de aço e equipamentos para o estaleiro do Açu prevista para o segundo semestre deste ano. Segundo o cronograma divulgado, a entrega da embarcação ao cliente deve ocorrer no quarto trimestre de 2014.
O navio, que será usado pela Petrobras, é um dos três contratos vigentes da OSX no segmento de construção naval - os outros dois referem-se à montagem de módulos em duas plataformas de petróleo da estatal. A empresa reviu seu portfólio em junho, após o cancelamento de encomendas da OGX, petroleira do grupo de Eike, que motivou a decisão de alterar o cronograma de obras do estaleiro, privilegiando a área de montagem e deixando o dique seco, onde são construídos os cascos de embarcações, para um segundo momento.
Atualmente, a OSX tem uma unidade em operação, OSX-1, que está no campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, cujas atividades foram suspensas pela OGX por problemas técnicos em válvulas submarinas. Outra unidade, a OSX-3, tem início de operações previsto para este ano, no campo de Tubarão Martelo, também da petroleira de Eike Batista. Há, no mercado, dúvidas se a companhia terá recursos para iniciar as atividades no projeto. Outra plataforma, a OSX-2, está na Ásia à espera de um comprador, já que os projetos de produção aos quais se destinava foram suspensos pela OGX.
As três plataformas são alugadas pela unidade de leasing da OSX à petroleira do grupo. As dificuldades financeiras do principal cliente levaram a empresa de construção naval a anunciar uma reestruturação financeira, com a renegociação de empréstimos junto a bancos e a venda de ativos já em construção, além da demissão de funcionários. No balanço do segundo trimestre, a companhia informou um endividamento de R$ 5,3 bilhões. O esforço de reestruturação inclui a prorrogação de parte dos vencimentos para o ano que vem, em negociação com a Caixa Econômica Federal (CEF) e com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), seus principais credores.
A empresa experimentou um movimento de valorização na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no final da última semana, impulsionada por expectativas a respeito dos resultados do processo de reestruturação em curso. Na sexta-feira, os papéis terminaram o pregão em alta de 32,14%, a R$ 0,74, com rumores sobre o fim das negociações para a prorrogação dos vencimentos da dívida com o BNDES, que soma R$ 548 milhões, segundo o balanço do segundo trimestre.
Fechado em 2011, o contrato entre a Sapura e a Petrobras contempla o fornecimento de três embarcações de lançamento de dutos, em parceria com a norueguesa Seadrill.
Situação da empresa reflete interdependência no grupo X
As dificuldades da OSX são um retrato da interdependência entre os diversos negócios do grupo controlado por Eike Batista, que impõe riscos mesmo às companhias que já
não estão sob controle do empresário. Com uma carteira altamente concentrada em encomendas da OGX, que não produziu uma gota de petróleo no último mês, a empresa de construção naval foi forçada a buscar saídas para a crise financeira.
A situação se repete em outras atividades do grupo, principalmente quando estão relacionadas à petroleira. Vendida para a alemã E.ON, a MPX, por exemplo, procura alternativas para o desenvolvimento das reservas de gás da OGX no Maranhão. A empresa vendeu energia em leilões do governo e depende da manutenção dos investimentos em exploração e produção para garantir o suprimento de gás à térmica que opera na região.
Já o Porto do Açu - operado pela empresa de logística LLX, cujo controle foi vendido à americana EIG Global Energy Partners - tem como um de seus principais empreendimentos o estaleiro da OSX, que teve o cronograma de obras revistoapós o cancelamento de encomendas da OGX.
ENDIVIDADA
R$ 5,3 bilhões: Dívida total da OSX no dia 30 de junho, de acordo balanço do segundo trimestre.
32,1%: Alta das ações no pregão de sexta-feira da Bovespa, reagindo a rumores sobre acerto com BNDES.
Fonte: Brasil Econômico/Nicola Pamplona
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