Em Pernambuco, os estaleiros trabalham para vencer a tormenta e manter viva a indústria naval no Brasil. O esforço diário é para conquistar novas encomendas, continuar avançando na curva de aprendizagem e se defender de ameaças contra o setor. Há dez anos em operação, o Atlântico Sul (EAS) é referência no País. Nos últimos anos vem investindo em infraestrutura, tecnologia, processos e gestão para garantir competitividade e se transformar num player mundial.
Desde que chegou ao EAS, em 2014, o gaúcho Harro Burmann tem a missão de melhorar os indicadores. E conseguiu. Na sua gestão a produtividade aumentou cinco vezes, baixando de 300 para 60 horas-homem (medida para calcular eficiência). Usando a tecnologia de megablocos, o EAS também avançou no tempo de produção dos navios, que passou de um para quatro por ano. Até maio de 2019, a indústria vai entregar cinco petroleiros Aframax DP à Transpetro.
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Apesar dos avanços, a crise na Petrobras e na Sete Brasil reduziu de 29 para 15 embarcações a carteira de encomendas do empreendimento. “Estamos atentos a demanda do mercado de cabotagem, que deve contratar entre oito e dez navios nos próximos anos. O segmento vem crescendo muito no País e existe uma procura por graneleiros e navios de contêiner”, diz Burmann.
O estaleiro também está de olho na demanda pelos cascos das unidades flutuantes de produção, armazenamento e transferência de petróleo, as chamadas FPSOs, estimada em 40 unidades. Para cada FPSO é necessário um navio DP (sistema que torna o posicionamento da embarcação mais preciso), gerando mais encomendas.
Outro contrato em negociação é a construção de cinco Suezmax DP para a empresa Satco de Cingapura, que poderão ser afretados pela Petrobras. “A companhia precisa divulgar essa demanda para que as empresas possam se preparar, porque só o tempo de desenvolvimento do projeto é de 18 meses. Estamos conversando com três grupos coreanos para escolher um parceiro tecnológico para esse projeto”, adianta Burmann.
VARD PROMAR
Vizinho de porta do EAS, o Vard Promar também teve os contratos de dois navios gaseiros cancelados pela Transpetro, de uma encomenda inicial de oito embarcações. Do total, cinco foram entregues e o último vai incorporar a frota da estatal no fim de 2018. Além desses, a empresa tem contrato de dois PLSVs (navios de lançamento de dutos) com o consórcio Dofcon, formado pela DOF e Technip. Controlado pelo grupo italiano Fincantieri, o Vard também está de olho na licitação de corvetas para a Marinha do Brasil.
“Vejo o Vard Promar muito bem posicionado para essa licitação pela qualidade de nossas instalações, sua adequação aos tipos de navios que a Marinha do Brasil necessita, e pela expertise do grupo Fincantieri na construção de navios militares sofisticados e tecnologicamente avançados. Dentre os grupos pré-qualificados para essa disputa, o grupo Fincantieri é o único com estaleiro no País”, diz o vice-presidente Sênior no Brasil, Guilherme Coelho.
Apesar dos avanços, o executivo demonstra preocupação com o cenário da indústria naval no Brasil. “O setor foi impactado pela crise mundial da indústria de óleo e gás, e pelo cenário político-econômico desafiador que o País vive, em especial a Petrobras. Além disso, a constante mudança de políticas públicas gera incerteza nos investidores”, observa.
Fonte: JC Online