Maior petroleira do planeta em valor de mercado e quarta em produção de óleo, a americana ExxonMobil aparentava certo desprezo pela exploração e produção de petróleo e gás no Brasil. Desde que caiu o monopólio da Petrobras, em 1997, a empresa fazia investimentos irrisórios nos leilões que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) organiza periodicamente, de oferta de áreas para procura de óleo, e, mesmo nas poucas apostas, colecionava fracassos. Algo mudou repentinamente – o gigante parece ter acordado. O Brasil subiu na lista de prioridades. A empresa está investindo cerca de R$ 8 bilhões neste ano para ampliar significativamente sua presença no Brasil, dos quais mais de R$ 6 bilhões no pré-sal.
Plataforma de Hebron preparada para reboque para campo em maio de 2017 (Foto: Divulgação)
PUBLICIDADE
Por que o súbito grande apetite pelo país? Procurada por ÉPOCA, a Exxon Mobil afirma que tem “uma parceria de longa data com o Brasil, numa história que remonta a mais de 100 anos” e que possui interesse em expandir a operação local. “Nossos lances nos recentes leilões promovidos pela ANP refletem nossa expectativa positiva no potencial dos recursos da costa brasileira. E também nossa confiança nas recentes reformas regulatórias promovidas pelo governo, que esperamos nos permitir implementar, de forma efetiva, nossa expertise em execução de projetos e know-how em águas profundas”, afirmou a empresa por e-mail.
O presidente do BNDES quer ver o banco crescendo de novo -- e em ano de eleição
Aparentemente, para a maior petroleira do mundo, ignorar o Brasil tornou-se mais difícil. O pré-sal brasileiro figura entre as três áreas de petróleo mais promissoras do planeta, ao lado de blocos terrestres do Oriente Médio e do shale oil (óleo de folhelho ou xisto) dos Estados Unidos. Em abril, reportagem do jornal americano The Wall Street Journal revelou que a empresa americana já estava conversando internamente para aumentar os investimentos no Brasil.
Nesse meio tempo, a ANP resolveu aliviar as exigências de conteúdo local para os leilões deste ano e dos próximos, uma das grandes reclamações tanto da Petrobras quanto das estrangeiras. A Petrobras também foi desobrigada de entrar com 30% em todas as áreas do pré-sal.
A inusitada aposta da Petrobras na Bacia de Campos
Na última sexta-feira (27), quando a ANP promoveu duas rodadas de leilão de áreas no pré-sal, a Exxon topou desembolsar R$ 1,2 bilhão para entrar como sócia na área de Norte de Carcará, com 40%, junto com a orueguesa Statoil (40%) e a portuguesa Petrogal (20%). Não será a operadora, ou seja, não terá a responsabilidade de contratar os equipamentos e lidar com as autoridades brasileiras. Como sócia relevante, porém, além do dinheiro, participa das decisões mais estratégicas e tem acesso às informações sobre o apetitoso pré-sal.
Nesse último leilão, a Exxon entrou em apenas uma das oito áreas ofertadas. Mas, ao lado da Statoil, foi a empresa que mais desembolsou dinheiro nas rodadas da semana passada. A Shell entrou em três áreas e desembolsou R$ 332 milhões. A Petrobras gastou R$ 1,14 bilhão para também entrar em três áreas, todas como operadora. A Exxon estava disposta a gastar outro R$ 1 bilhão em outra área, Peroba, junto com a Statoil, mas a dupla perdeu para a Petrobras.
Por que o petróleo virou o combustível da corrupção
Imediatamente após o leilão da sexta-feira passada, a Statoil anunciou que estava vendendo para a Exxon metade de sua participação de 66% em Carcará, uma área vizinha à recém-leiloada Norte de Carcará, mas já em exploração. E deve vender outra fatia que comprará de um sócio ali, a Queiroz Galvão. Nessas negociações, a Exxon vai desembolsar cerca de R$ 5 bilhões para ter, ao fim do processo, uma fatia de 36,5% de Carcará, a mesma da Statoil.
No leilão de áreas fora do pré-sal realizado em setembro, a Exxon já havia sido o grande destaque do evento da ANP, ao gastar R$ 1,9 bilhão para arrematar participações em oito blocos oferecidos na Bacia de Campos, alguns com e outros sem Petrobras, mais duas áreas em Sergipe/Alagoas. No mesmo leilão, o desembolso da Petrobras havia sido de R$ 1,8 bilhão.
David Zylbersztajn: a janela para o pré-sal fechou
Antes do grande interesse subitamente demonstrado pelo Brasil nas últimas semanas, a presença da Exxon no segmento de exploração e produção de petróleo brasileiro era pífia. No total, em bônus de assinatura para obtenção de áreas, a empresa não havia gastado mais de R$ 70 milhões nos leilões realizados pela ANP entre 1999 e 2013, para adquirir direito de explorar petróleo no país. Chegou a ter algumas participações tímidas nos primeiros, no início da década passada, mas ficou 11 anos, entre 2002 e 2012, sem arrematar nada em qualquer rodada. Em algumas dessas, nem sequer se deu ao trabalho de se habilitar oficialmente para competir.
Fora dos leilões, a Exxon chegou a fazer algumas movimentações, ainda que muito tímidas. Uma delas foi a aquisição de 40% de um bloco na área do pré-sal, o BM-S-22, junto com a Petrobras e a Hess, no qual era operadora. Tratava-se de um bloco em que especialistas nutriam grandes expectativas de que fosse um dos maiores reservatórios do pré-sal. Uma perfuração lá que não encontrou petróleo, em 2009, minou as esperanças dos sócios. Um ano depois, outro poço foi mais bem-sucedido, mas, em 2012, a Exxon decidiu devolver a área para a União, em claro indício de que não viu chance de encontrar volumes elevados que justificassem o investimento.
Usinas nucleares se mantêm como maior fonte de energia “limpa” nos EUA e na Europa
A última participação da Exxon nos leilões da ANP havia sido em 2013, quando levou uma área na Bacia Potiguar, em sociedade com a então OGX, fundada por Eike Batista. Pagaram, juntas, R$ 81 milhões. Mais uma vez, o investimento se mostrou um erro: a área foi devolvida no ano passado. Em 2013, a ANP havia realizado também o primeiro leilão do pré-sal no novo regime de partilha, mas a Exxon nem sequer fez oferta. A Petrobras levou a área de Libra em lance único, ao lado da anglo-holandesa Shell, da francesa Total e das chinesas CNPC e CNOOC.
Atualmente, a Exxon está presente em apenas dois blocos, todos bem longe do promissor pré-sal. Um deles está na Bacia Potiguar, cuja participação comprou da OGX, e outro no Ceará, no qual foi sócia de primeira hora também da OGX. Nos dois, hoje é sócio da Azibras.
Fonte: Época