Agentes do setor de óleo e gás discutem soluções aos desafios enfrentados por grandes empreendimentos no país
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Planejamento a longo prazo, implementação de política industrial, foco na formação e qualificação de pessoal visando à competitividade e padronização de projetos. Estas foram algumas das sugestões de agentes do setor, integrantes de um dos painéis da Rio Oil & Gas, realizada no último mês de setembro, para que se consiga solucionar alguns dos desafios enfrentados por grandes empreendimentos do setor de óleo e gás no país. Participaram do encontro o diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais da Petrobras, José de Figueiredo; o presidente do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP), Fernando Barbosa; o presidente da Rolls-Royce para América do Sul, Francisco Itzaina; e o presidente da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE), Mauro Viegas Filho.
Figueiredo, da Petrobras, ressaltou a importância de se fortalecer a engenharia nacional de projetos. “Temos que resgatar a competência de fazer bons projetos e ter instalações que sejam simples, fáceis de construir e que possam agregar conteúdo local. Para o executivo, a padronização de projetos favorece o mercado, que já terá conhecimento sobre os tipos de equipamentos desejados. “Não temos que ter vergonha de padronizar, não precisamos fazer uma obra de arte a cada plataforma. Temos que usar equipamentos padrão de mercado”, afirmou. Barbosa, do EEP, acrescenta que os projetos padronizados também trazem redução do homem-hora através da diminuição de custos com processo de aprendizado, otimização de prazos e uma sequência construtiva.
Em alguns casos, disse Figueiredo, parcerias tecnológicas na engenharia nacional são bem-vindas. Além disso, ele destaca que, embora na construção o valor investido seja maior, a engenharia de projeto, quando mal executada, pode comprometer o suprimento, a construção e a montagem. “A partir de um projeto de engenharia bem feito, fica fácil definir quantidades que permitem que a Petrobras e o EPCista façam um bom orçamento. Entretanto, na hora em que temos uma engenharia que não está bem consolidada, temos um problema sério, porque as quantidades vão sendo mudadas e quando chega no final é mais obra, mais recurso, mais prazo”, declarou Figueiredo.
Um dos desafios para os grandes empreendimentos do Brasil é a ampliação da participação da engenharia nacional nos projetos. Mauro Viegas Filho, da ABCE, acredita que empresas como a Petrobras, por exemplo, têm dificuldades de entregar seus projetos para a engenharia brasileira por terem dúvidas se o setor tem capacidade de atender a prazos, custo e qualidade. Para o executivo, são necessários contratos de longo prazo para que a engenharia nacional aconteça. “Falta criar instrumentos que nós, como empresários desse setor, possamos acreditar que vamos ter resultados no curto, médio e longo prazos. Acredito que teremos espaço, mas precisamos conseguir vencer essas barreiras que se criaram por conta do grande salto que a Petrobras teve nos últimos 20 anos e que necessitaram fazer atropelos, deixando um pouco de lado a nossa atividade”, lamentou ele.
A engenharia brasileira é o único caminho, segundo Filho, para ampliar o índice de conteúdo local no setor de óleo e gás por ser o elo base da cadeia produtiva e definidora da origem dos fornecimentos de bens e serviços do país. “Conteúdo nacional só se vai conseguir com engenharia local e trazendo de fora aquilo que não sabemos”, afirmou.
O consórcio EEP, composto pela Odebrecht, OAS e UTC Engenharia, é responsável por três grandes projetos no país. As companhias farão a construção do Estaleiro Enseada do Paraguaçu, em Maragojipe, na Bahia, das seis sondas para a Sete Brasil na própria unidade e a conversão de quatro navios do tipo VLCC em FPSOs para a Petrobras no estaleiro Inhaúma. Barbosa destaca três grandes desafios estruturais que afetam seus clientes e acionistas: a inflação de custos de mão de obra e matéria-prima devido ao crescimento da demanda no setor de óleo e gás; menor produtividade em razão da baixa qualificação de mão de obra e dificuldade na sua formação; e baixa recorrência ao investimento privado em infraestrutura.
Na avaliação do presidente da Rolls Royce para a América do Sul, Francisco Itzaina, diversos requisitos são necessários para que um grande empreendimento seja bem-sucedido. Segundo ele, são importantes uma localização geopolítica privilegiada, disponibilidade de matéria-prima, pesquisa e desenvolvimento (P&D), planejamento de longo prazo, sólidos processos produtivos com engenharia aplicada para aumentar a produtividade e a competitividade global, mão de obra barata ou muito bem capacitada, grande mercado interno, fácil acesso a mercados externos, visão de futuro e gerenciamento competente.
O Brasil, diz ele, está fisicamente longe dos grandes mercados, mas é uma área que não tem grandes desastres naturais. Embora o país tenha um planejamento a longo prazo satisfatório, diz Itzaina, falta uma sólida política industrial de estado. O executivo destaca que o Brasil tem políticas alternativas de conteúdo local excelentes, mas com a política industrial de estado será possível entender quais setores são competitivos e aqueles que precisam ser incentivados.
— Precisamos continuar a usar o conceito de conteúdo local, mas acredito que mais como ferramenta de flexibilidade do que como política fim. Acho que essa ferramenta é a que vai alavancar a política industrial que venhamos a desenhar, mas deve ser aplicada com realismo, flexibilidade e com uma revisão permanente de metas para que nos adequemos aos novos momentos que enfrentamos. Tem setores que não são competitivos hoje e talvez nunca serão, tem outros que já são e outros que poderão chegar a ser. Isto precisa ser desenhado, entendido e é importante ter uma política que alavanque esse progresso para esses diversos setores industriais — opina.
Também falta ao Brasil tecnologia, know how e uma engenharia aplicada que traga maior produtividade. Itzaina acrescenta também que o país tem os produtos de que o mundo precisa e, portanto, o acesso aos mercados deveria ser mais fácil. Em relação à mão de obra, o executivo afirma que há urgência na sua capacitação para atingir competitividade. Barbosa, do EEP, complementa dizendo que, além da formação e da qualificação da mão de obra, é preciso priorizar a retenção e a fidelização. “Temos que fidelizar as pessoas que sabemos que são diferenciadas nas empresas para manter esse tipo de mão de obra”, comentou. Outra sugestão é o desenvolvimento de programas de reconhecimento e recompensa vinculados à produtividade. “Nós sempre tentamos fazer isso. Praticamos esse reconhecimento com muito sucesso. Hoje a situação está um pouco desvirtuada, precisamos melhorar nesse aspecto”, afirma.
O gerenciamento de projetos para grandes empreendimentos também deve ser melhorado através da utilização de tecnologias e técnicas mais eficientes e redução do retrabalho através do treinamento. Em relação a P&D, o país tem alguns casos de sucessos isolados, particularmente no setor offshore, mas ainda há falhas. Para ele, é preciso que se promova o gerenciamento do uso de fundos de P&D em conjunto com o setor privado e não só pelo setor acadêmico exclusivamente. “Entendemos que hoje em dia existe uma necessidade muito mais urgente de treinamento direto de engenharia aplicada. Vamos colher os frutos do que estamos plantando em P&D só daqui a 15 ou 20 anos. Então acho que é extremamente importante que também dediquemos recursos para melhorar nossa eficiência e know how a curtíssimo prazo”, declara.
Por isso, a Rolls Royce investirá US$ 1,5 bilhão em P&D durante esta década visando ao incremento do conteúdo local no país. A companhia está discutindo projetos de cooperação de pesquisa com diversas faculdades brasileiras. Além disso, a empresa desenvolveu um curso de gerenciamento de projetos com a Universidade de Manchester, na Inglaterra, e pretende entrar em acordo com alguma instituição de ensino superior a fim de viabilizar a atividade para brasileiros no Brasil. n