Mais de 4 mil trabalhadores foram dispensados pelas indústrias naval e metal-mecânica nos seis primeiros meses deste ano, segundo um levantamento feito pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco. As demissões ocorreram em pelo menos 11 empresas que se concentram no Complexo Industrial Portuário de Suape, incluindo dois estaleiros e fábricas que produzem desde lata, autopeças, eletrodomésticos e até insumos para a construção civil. “É muito preocupante. É um desemprego em série de pais de família que vão passar mais de ano para voltar ao mercado de trabalho”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco, Henrique Gomes. Somente, nesta terça-feira (2), um estaleiro demitiu 40 funcionários e uma empresa de esquadrias, 35 pessoas.
“E estamos contabilizando somente as demissões que passaram pelo Sindicato. Na próxima semana, serão homologadas 162 demissões”, afirma Henrique. O Sindicato só homologa as demissões de empregados que passaram mais de um ano trabalhando. Os demais desligamentos são concluídos sem a anuência das entidades de classe.
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A demissão nesse caso é a face mais perversa da crise econômica que paralisa a economia. “A maior parte dessas empresas reduziu a produção porque não têm mercado”, conta Henrique. Isso significa que a maioria dessas companhias desativaram algumas linhas de produção pela queda no consumo. Outro problema que atinge os trabalhadores “é a falta de um programa de qualificação que leve o desempregado a migrar para outra atividade” que esteja precisando de trabalhadores.
Cerca de 20% de todas as demissões homologadas pelo sindicato são de trabalhadores que atuavam no setor naval. Na história recente do Estado, tanto o setor metal-mecânico assim como os estaleiros passaram por dias gloriosos com o crescimento da economia que ocorreu no fim da primeira década deste século.
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) chegou a ser o símbolo da retomada da indústria naval no País com navios petroleiros encomendados pela Transpetro, a subsidiária da Petrobras na área de transporte. A inauguração do primeiro navio feito pelo EAS, o João Cândido, ocorreu em 2012, sob a vista de mais de 5 mil funcionários que trabalhavam no local, na esperança de anos promissores.
IMPASSE
Na indústria metal-mecânica, é mais fácil a produção voltar a aumentar, quando a economia do País engatar um crescimento. Já a crise da indústria naval é mais difícil de resolver. Primeiro, navios não são bens de consumo. A indústria naval brasileira não é tão competitiva como algumas que estão nesse mercado, como a coreana e a japonesa, entre outras. E, por último, a implantação recente do setor no Brasil ocorreu fomentada pela Petrobras, atingida por dois problemas sérios: perdas financeiras causadas pela falta de reajuste no preço dos combustíveis e a Operação Lava Jato, a qual revelou um esquema de corrupção bilionário envolvendo diretores da petrolífera, políticos, executivos e donos de algumas das principais construtoras do País.
“A Petrobras não vai contratar (embarcações) senão houver demanda real e as condições econômica-financeiras forem convenientes. Como esse é um cenário improvável, deveria haver uma ação política governamental apoiando os estaleiros que estão em melhores condições e têm condições de se tornarem competitivos no médio e curto prazo”, resume o professor do renomado Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Floriano Pires.
Para ele, os estaleiros com esse perfil (de serem competitivos no médio ou curto prazo) incluem o Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e o Vard Promar – ambos instalados em Suape – e outros de porte menor espalhados pelo País. E acrescenta: “Se ficar ao sabor do mercado, a expectativa é de que fechem todos os estaleiros”.
O EAS emprega cerca de 3,8 mil pessoas, mas só tem mais cinco navios encomendados pela Transpetro que deverão ser entregues até o fim de 2019, colocando o futuro do empreendimento em dúvida. O Vard Promar tem quatro navios encomendados, dos quais dois estão praticamente prontos. “As demissões que ocorreram no Vard ontem foram porque os trabalhadores das primeiras linhas de produção não têm mais o que fazer por falta de encomendas. Pode ser que a empresa consiga vender umas embarcações numa licitação da Marinha, mas por enquanto é só ilusão”, lamenta Henrique Gomes. O representante do Vard Promar não foi localizado. E assim o Brasil constrói uma dos capítulos mais tristes da sua história.
Fonte: JC Online