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Mais fornecedores nacionais

Diversas são as iniciativas em andamento para desenvolver a cadeia de fornecimento para a indústria de construção naval

O desenvolvimento de fornecedores nacionais é um dos principais gargalos a serem solucionados no setor naval. Para alguns itens da cadeia produtiva, já há no Brasil uma base estabelecida de participantes de bens e serviços. Para outros, no entanto, a indústria brasileira ainda não tem capacidade de atendimento. Diversas são as iniciativas em andamento para superar esse desafio.

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Uma das mais recentes é o Projeto Piloto de Desenvolvimento de Fornecedores da Cadeia de Petróleo, Gás e Naval, lançado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) no último mês de fevereiro. O objetivo do projeto é ampliar a participação das indústrias nacionais na cadeia de negócios do setor de petróleo, gás e naval através do desenvolvimento e da qualificação de fornecedores.

O Comitê Gestor do projeto formado pelo MDIC, ABDI, Petrobras e, no âmbito dos estados, as secretarias de desenvolvimento econômico e as federações de indústrias selecionarão empresas por estado para se beneficiar da iniciativa. A ideia inicial é a implantação de seis fornecedores-âncora em cada uma das cinco regiões precursoras definidas pelo governo: Rio Grande-São José do Norte (RS), Ipatinga-Vale do Aço (MG), Ipojuca-Suape Global (PE), Maragogipe-São Roque (BA) e Itaboraí-Conleste (RJ), totalizando 30 empresas. Entretanto, inicialmente serão escolhidas 15 companhias.

“Temos funding para atender três empresas por estado. O objetivo é atender seis, mas teremos que buscar recursos. Pode ser que até maio consigamos levantar recursos para atender mais três [por estado], então o cronograma se estende um pouco, para maio talvez”, prevê o coordenador da área de Energia da ABDI, Jorge Boeira, acrescentando que o projeto tem previsão de conclusão para janeiro de 2014. No projeto piloto serão aportados recursos no valor de aproximadamente R$ 1,5 milhão. Segundo o executivo, as empresas serão selecionadas até o próximo dia 22 de junho. Para realizar a escolha, a ABDI tem mantido contatos com as federações de indústrias e com a Petrobras, que auxiliarão no processo com o conhecimento que têm das companhias.

O público-alvo do projeto são empresas médias e médias-grandes, cujo faturamento em 2012 tenha sido entre R$ 16 milhões e R$ 300 milhões. Para atender aos critérios obrigatórios, a companhia deve ter matriz sediada no Brasil e estar regularizada nos âmbitos fiscal e trabalhista e ter fornecido ou ser potencial fornecedora da cadeia de petróleo, gás e naval. Há ainda critérios classificatórios que, segundo Boeira, estão sendo discutidos com as federações. O diretor adianta que estão relacionados à intenção da companhia de realizar investimentos na região; ao alinhamento do portfólio de bens e serviços da empresa com os itens críticos das empresas âncoras, como Petrobras e estaleiros; e à comprovação de fornecimento nos últimos cinco anos para a cadeia, entre outros.

Ao final, as companhias atendidas receberão uma consultoria especializada que diagnosticará as oportunidades do setor onde elas já atuam ou onde poderão direcionar seus esforços. Haverá ajuda na definição de estratégias de atuação no setor; discussão sobre as estratégias para a modernização, expansão industrial, criação de novas linhas de negócios, gestão da inovação e desenvolvimento da rede de fornecedores para cada empresa e identificação das alternativas de financiamento para a ampliação e modernização da capacidade produtiva, gestão, qualificação de recursos humanos, inovação e tecnologia. Também será entregue a cada uma delas um plano de negócio detalhado para atuação na cadeia com análise das áreas de gestão, recursos humanos, capacidade produtiva, inovação, tecnologia e marketing. “Ela vai ter um plano sobre aquilo que pode fornecer. O projeto não é focado no produto e sim na empresa”, salienta Boeira.

A ideia é que ao final do programa haja uma ampliação do fornecimento de produtos para a Petrobras e para os principais contratantes da cadeia de petróleo, gás e naval, como EPCistas, estaleiros e fabricantes de grandes sistemas e equipamentos. “Esse projeto pode se viabilizar de imediato ou ter um tempo de maturação para que ocorra. Vamos testar o modelo e, ao final, avaliar se esse projeto pode virar um programa”, diz Boeira.

O diretor da ABDI ressalta ainda que o processo de desenvolvimento de fornecedores é bem mais lento que o da construção de navios. Por isso o tempo para se obter sucesso é mais demorado. “Sabemos que existem alguns itens em que temos deficiência. Hoje respiramos ares mais favoráveis para a indústria naval. Existe uma demanda firme de embarcações, sondas e plataformas que dão fôlego para a indústria naval e offshore. A política de conteúdo local traz esse efeito de viabilizar a instalação de novos estaleiros muito rapidamente. Já a área de fornecimento de sistemas é um desafio grande, porque para instalar uma fábrica e fazer motores no Brasil, por exemplo, é preciso ter uma escala anual muito grande”, explica Boeira.

Além desse projeto piloto, a ABDI criará, em parceria com o MDIC, um sistema de embarcações interativo a partir da base de dados do Catálogo Navipeças. Inicialmente poderão ser vistos os equipamentos e fornecedores nacionais de componentes para petroleiros e barcos de apoio. Boeira acredita que o sistema deva ser lançado no segundo semestre do ano. Financiado pela ABDI e executado pela Onip desde 2009, o Catálogo Navipeças reúne fabricantes e prestadores de serviços ligados à construção e reparação naval visando ao atendimento da demanda da indústria de navipeças.

 

Para ampliar o relacionamento dos fabricantes de navipeças do catálogo com os estaleiros, a Onip tem realizado rodadas de negócios pelo país. O objetivo é facilitar a aproximação entre os fornecedores e os potenciais demandantes. Nestes encontros, cada fornecedor participa de reuniões com empresas âncoras e apresenta seus produtos e serviços disponibilizados para a indústria da construção e reparação naval. Entre 2011 e 2012 foram realizadas três rodadas, que aconteceram nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. De acordo com o superintendente da Onip, Jorge Bruno, os encontros geraram expectativa de negócios acima de R$ 150 milhões.

Para esse ano, estão previstas em princípio outras duas rodadas no Rio de Janeiro. A primeira deve acontecer durante a Brasil Offshore, que será realizada no próximo mês de junho, e na OTC Brasil, que acontecerá no mês de outubro. “Passamos uma relação de empresas do Catálogo Navipeças e dos produtos e serviços prestados ou fabricados por cada fornecedor. O estaleiro recebe previamente essa lista e marca com os quais quer se reunir. Daí é formada a agenda de reuniões. Em cada rodada participam, em média, 60 fornecedores e de oito a 12 estaleiros”, explica Bruno.

Outra iniciativa da Onip que tem sido bem-sucedida é o Programa Plataformas Tecnológicas para a Indústria de Petróleo e Gás (Platec), que foi estruturado para promover o atendimento às demandas por inovação tecnológica da indústria de petróleo, gás e naval. Ação conjunta da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) e do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), o programa busca identificar fornecedores nacionais com potencial para a nacionalização de bens e serviços atualmente importados. O Platec é financiado pela Finep com recursos do CT-Petro.

Iniciado em 2010, o programa já realizou 13 seminários para investigar temas complexos, como navipeças, sondas de perfuração marítima, barcos de apoio, E&P Onshore e FPSOs. Segundo Bruno, uma das vantagens do Platec tem sido o rol de equipamentos para nacionalização. “Saímos de lá com oportunidades identificadas. O petroleiro é o caso mais emblemático. Destrinchamos um petroleiro em 1.876 itens, dos quais 622 eram passíveis de nacionalização. Fomos para os workshops e no final saímos com cerca de 115 projetos para desenvolvimento de tecnologia nacional”, lembra o superintendente.

E já há no Platec casos de sucesso. Entre os projetos tecnológicos identificados está o purificador de óleo lubrificante, produzido pela Centrifugar, instalada no Rio de Janeiro. O projeto foi levado para a Nor-Shipping, realizada na Noruega em 2011, para comparação de tecnologia com seus concorrentes, ganhou financiamento da Finep e está em andamento com a Coppe UFRJ e a classificadora RBNA. Um software de navegação eletrônica brasileiro também já está em uso pela praticagem de diversos portos brasileiros, Transpetro e Marinha do Brasil. O software é produzido pela Cash Computadores.

O espaço entre a realização dos workshops do Platec tem diminuído. A ideia da Onip é realizar um a cada 45 dias, no máximo. Bruno atribui essa maior frequência de eventos à procura de sistemistas e integradores e até mesmo os próprios estaleiros, que estão buscando fornecedores nos seminários. “O Jurong, por exemplo, buscou uma ajuda do Platec para identificar fabricantes nacionais. No workshop sobre sonda de perfuração marítima, o estaleiro teve uma participação muito forte na elaboração da lista de equipamentos e fornecedores para que ele pudesse encontrar fornecedores ou desenvolver alguns”, diz.

Para Bruno, o setor de navipeças continua como uma oportunidade, que deve estar aberta por cerca de cinco anos ainda. Por isso, diz ele, é importante que o fornecedor entre nesse mercado de forma competitiva, buscando atingir também o mercado internacional. “As expectativas são muito boas. O mais importante é aproveitar essa janela de oportunidade aberta para desenvolver expertise, tecnologia nacional e principalmente preparar o empresariado brasileiro para internacionalização”.

A Abenav também coordena a elaboração de um plano de ação que busca o adensamento da cadeia de fornecimento visando ao aumento da produtividade dos estaleiros. O objetivo é ganhar produtividade e competitividade pelo aprimoramento da forma de articulação da cadeia de fornecimento para os mercados de plataformas e embarcações especializadas. Isto quer dizer que os fornecedores devem se organizar para oferecer soluções completas para os estaleiros, provendo subsistemas e pacotes de equipamentos para a construção, montagem e integração de módulos, assim como acontece no setor automotivo. Além da Abenav, participam da equipe executora Abimaq, ABDI, BNDES, CNI, MDIC, Onip, Petrobras e Sinaval.

Esse primeiro projeto buscará fornecedores para embarcações de apoio. De acordo com Mendonça, para este tipo de navio foram identificados quatro setores de atuação: geração de energia; módulo de acomodação; tubulação; e elétrica, instrumentação e controle. Pegamos as quatro atividades e estamos tentando encontrar fornecedores. “A ideia é fornecer o sistema pronto ao estaleiro para reduzir o seu custo e risco”, explica o executivo.

Iniciado em fevereiro deste ano, o projeto tem término previsto para o próximo mês de novembro. Já foram identificados potenciais pacotes e sistemas a serem produzidas pela indústria. A tarefa foi realizada pela Onip. Até o último dia 26 de abril a equipe executora ficou responsável por identificar os fornecedores para a integração desses pacotes e pela realização de um estudo para encontrar polos para reunir os fornecedores por categoria de produto. A fase atual, prevista para ser finalizada no dia 15 de maio, é a de relacionar e agrupar os fornecedores para cada tipo de pacote e sistemas para os mercados de plataformas e embarcações especializadas.

De maio a novembro, cada instituição deverá ser responsável por várias fases do programa. Um trabalho de campo a ser realizado pela Abenav junto aos estaleiros e com apoio da Onip vai identificar os gargalos que limitam a atratividade do investimento. A ABDI deverá relacionar os incentivos fiscais existentes e examinar as formas de financiamento disponíveis para inovação e investimento. Pesquisar e consolidar no Brasil e no mundo a demanda de embarcações de apoio serão tarefas da Petrobras e da Onip, que farão o mapeamento do potencial. A instituição também será responsável pela elaboração de grupo com empresas selecionadas nas etapas anteriores e agendar reuniões junto a estaleiros para entendimento e troca de experiência.

Em novembro, a equipe executora deverá finalizar o relatório do resultado obtido e, se for o caso, propor a continuidade do processo para novos sistemas, métodos de disseminação entre os estaleiros e acompanhamento estatístico. “Vamos ver se o projeto faz sentido, se é economicamente interessante. Se der certo, podemos ampliar o programa para plataformas, por exemplo”, conclui Mendonça.



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