De Brasília - Na semana passada o ministro Aloizio Mercadante teve reuniões com executivos da Petrobrase Braskem, com a Marinha e a ministra Izabella Teixeira do Meio Ambiente, com a comunidade científica e acadêmica para começar a dar corpo a um projeto ousado: construir um laboratório em alto mar para estudar as correntes marítimas, os impactos do aquecimento global, o solo, o fluxo de peixes, a biodiversidade marinha e o que mais for interessante a 500 km da costa brasileira. "Não podemos ter o pré-sal como nossa única relação com o mar", diz ele. "Vamos dar grande prioridade a este projeto, que é inédito. Não existe no mundo nada semelhante."
Duas possibilidades estão em estudo. Uma delas é o governo adquirir o casco de um porta-aviões como o do célebre Minas Gerais que foi vendido como sucata, ao preço da tonelada de aço. A Petrobras poderia ancorá-lo no fundo do mar. A outra é aproveitar a casca de uma plataforma de petróleo. "Vamos colocá-lo no limite da nossa área na plataforma continental, lá na ponta", adianta Mercadante. "A intenção é fazer pesquisa lá no meio do oceano."
O ministro diz que a logística do pré-sal viabiliza a iniciativa e relativiza os custos porque o laboratório aproveitaria a estrutura de abastecimento, de locomoção e de suporte às plataformas, por exemplo. "Seria uma resposta muito inteligente que o Brasil estaria dando, de um país que quer ter responsabilidade ambiental além de usufruir das riquezas do mar."
Segundo ele, "a presidente [Dilma Rousseff] adorou a ideia" e "está muito comprometida com este projeto". O governo já está criando um grupo de trabalho para tocar o laboratório marinho. Mercadante concorda que há um contrasenso entre explorar as riquezas do pré-sal e alinhar o país em direção a uma economia descarbonizada. "São dois movimentos", raciocina. "Há uma demanda crescente na economia mundial por gás e petróleo e há uma busca forte por novos combustíveis e energia renovável", começa, lembrando que o Brasil tem matriz energética limpa. "Mas o mundo precisa de petróleo e vai precisar por muito tempo ainda", prossegue.
O país, avalia, escapa da armadilha "se souber usar esta riqueza do pré-sal, que é uma janela de oportunidades". Como? "Não podemos usar os royalties do petróleo pulverizados com gasto corrente, mas focar em educação, ciência e tecnologia e meio ambiente para produzir uma sociedade do conhecimento e ter compromisso com as gerações futuras." (DC)
Fonte: Valor Econômico
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